O mundo mudou

A máxima de que a máquina tem a capacidade de decidir melhor que o seu criador é uma afirmativa equivocada
Emanuel Dias e Aronita Rosenblatt
Publicado em 28/07/2023 às 22:44
A ciência demonstra que a mente humana não tem como ser substituída pela inteligência artificial por ser primorosa e esculpida ao longo de milhares de anos Foto: FREEPIK


Segundo os neurocientistas, esse mundo líquido de que tanto se fala é um modismo. Alguns vão além, repudiando o conceito de que a máquina substituirá o homem e a sociedade vai ter que lidar com o desemprego que gerará pobreza e tirará a dignidade dos indivíduos. A tecnologia é, ao contrário, a projeção do ser humano no mundo. Acredita-se estar havendo um culto à tecnologia. A máxima de que a máquina tem a capacidade de decidir melhor que o seu criador é uma afirmativa equivocada. A máquina pode oferecer decisões baseadas no banco de dados fornecido pelo homem. Para completar o raciocínio, para os estudiosos, a ciência demonstra que a mente humana não tem como ser substituída pela inteligência artificial por ser primorosa e esculpida ao longo de milhares de anos.

E no que o mundo mudou? Da pandemia o mundo aprendeu que a ciência é o único caminho da sobrevivência da humanidade. Às custas das mortes e devastação, surgiram novas profissões, novas formas de trabalho e o aprimoramento das comunicações. Mas, a informação precisa de um emissor inteligente e de um receptor também inteligente. Os estudiosos insistem que nenhum computador gera informação e sabedoria e que a chamada inteligência artificial está baseada em dados passados, mas, o futuro existe. Nessa linha de raciocínio a inteligência artificial e a robótica não parecem extinguir a força de trabalho humano.

O mundo mudou e com ele a perspectiva do planejamento do futuro da nossa juventude. O contato com a máquina e o surgimento de novas necessidades da coletividade acarretaram uma nova forma de ingresso no mundo do trabalho. Há indicadores de que um título acadêmico não seja mais a garantia para o ingresso nesse mundo. O recrutamento do trabalhador passa por exigir outras habilidades nos candidatos a posições em empresas. O empregador deixa de considerar a formação acadêmica e reconhece aspectos da personalidade do candidato, ambição, capacidade de trabalhar em grupo, responsabilidade com liberdade, e a produção baseada em metas e desafios, missões.

Na área de saúde, as novas tecnologias vieram pela necessidade de preencher as lacunas que o trabalho do profissional exige, para que mais pessoas tenham acesso a cuidados. Vieram também para auxiliar no diagnóstico, mas, os robôs não trabalham sem a calibração baseada na inteligência humana. A calibração da máquina é realizada pelo homem e se baseiam no saber deste do passado. Estas precisam periodicamente de voltar para a experiência humana para atualizar os seus dados. A máquina não acolhe, não produz empatia nem tratamento individualizado. A ciência está desenvolvendo ferramentas capazes de promover a medicina individualizada, baseada principalmente no desenvolvimento dos conhecimentos da genética e da epigenética.

Cada paciente será tratado com uma terapia exclusiva e personalizada. Essas tecnologias que beneficiarão a qualidade de vida dos indivíduos, estão surgindo por demanda do homem e não da máquina. O ensino acadêmico terá que ser aperfeiçoado para poder orientar o aluno a distinguir a boa ciência das informações equivocadas ou propositadamente tóxicas ou destrutivas, já com presença marcante nas redes sociais e sites inseguros. O mundo mudou, mas o mestre, na escola, continuará um porto seguro para acolher e repassar experiência de vida para o seu discípulo. O que dizer das artes e da criatividade? O mundo não mudou para gerar uma sociedade que venha, inclusive, a desaprender a falar, a cantar e a ter compaixão, empatia e calor humano.

Emanuel Dias, Ex-Reitor da UPE, Gestor da Faculdade de Odontologia de Pernambuco da UPE, Professor e Membro da Academia Pernambucana de Ciências. Aronita Rosenblatt, Professora Titular da Universidade de Pernambuco e Membra da Academia Pernambucana de Ciências.

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