Quando baixavam os orixás de Rimbaud, Molière e Mallarmé no poeta Bebé Seixas, ele não permitia que sentassem na sua mesa de Valdemar Marinheiro, no Cais do Porto plantado, nem em suas mesas da zona portuária. Ficava recitando os três franceses em longos e intermináveis monólogos, no original, que varavam a noite, e amanheciam no Texas Bar, violento e esfumaçado reduto de marujos de navios mercantes nacionais e estrangeiros, e do barco pesqueiro japonês Káiko Marú, especialista na pesca de albacora.
Naquele dia, ou melhor, naquela madrugada, ele foi bater num barzinho do mercado da Encruzilhada, que já estava servindo o café da manhã aos trabalhadores que começavam a labuta cedo. E, no local, irmanavam-se motoristas de ônibus, operários da construção civil, soldados da PM e bombeiros aos boêmios retardatários, alcoólatras, drogados e fracassados do amor, amparados por mulheres decadentes do Recife Antigo, para a jornada de cambulhadas e orgia - Deus seja louvado! Os breves momentos de euforia findam em angústia, ressaca, tristeza, melancolia, depressão, solidão - e fazem parte da vida.
No bar estavam repentistas, violeiros e cantadores, vindos do Sertão do Pajeú para o encontro da categoria em Olinda, promovido por Giuseppe Baccaro.
O escritor Luiz Carlos Albuquerque, autor do melhor ensaio que eu li sobre Augusto dos Anjos, com o título Eu Singularíssima Pessoa, um estudo profundo e psiquiátrico da obra do paraibano, também deu sua contribuição recitando o poema emblemático e famoso: “Recife. Ponte Buarque de Macedo.- Eu, indo em direção à casa do Agra,- Assombrado com a minha sombra magra, - Pensava no Destino; e tinha medo!”. Muito aplaudido.
Surge, já meio triscado, um beletrista desafeto de Bebé e o cumprimenta. Bebé tira o sapato do pé direito e responde com o pé descalço, sem meia, para gargalhada geral.
Descem do táxi Renato Carneiro Campos e Garibaldi Otávio, o poeta Gari, comemorando, desde a tarde, o lançamento do livro O Girassol pela Cepe, com versos do poema Banguê : “Claro canário canta o amarelo dos cajás. ”De repente, Renato pergunta: “Ô, Bebé, por que Francisco Brennand não frequenta o ‘bas-fond’ e não está aqui conosco?” E Bebé, impassível, tragando o fumo Dunhill de seu cachimbo inglês, presente de Ledo Ivo, fitando a barra do dia que nascia na linha do horizonte: “Porque não tem gabarito!” Palmas e mais palmas!
Arthur Carvalho, Associação Nacional e Internacional de Imprensa – ANI.