Atualmente na aldeia pernambucana um debate em curso nos leva ao enfrentamento de dois desafios e uma escolha. Os desafios contemplam por um lado, a implantação do Arco Viário Metropolitano e da Escola de Sargentos do Exército, e por outro, a manutenção integral de parte da Mata Atlântica localizada na Área de Preservação Ambiental denominada APA Aldeia-Beberibe, a Mata do Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcante – CIMNC.
A escolha está na decisão do que fazer ou não fazer acontecer. Trata-se de reconhecimento do ato decisório e suas consequências para os impactos decorrentes sobre a região e o Planeta Terra. Consequências para a nossa gente, para a melhoria da qualidade de vida, para a geração de oportunidades, para a biodiversidade em equilíbrio.
São múltiplas as possibilidades. Muitas leituras e quereres, posto que agora o debate não trata mais do sistema viário metropolitano nem da instituição formadora de militares. O desafio está centrado nos argumentos-síntese: a favor ou contra o meio ambiente. Agora, as teorias, teses, estudos de engenharia ambiental, fluxo de mercadorias e pessoas, são irrelevantes. As oportunidades econômicas que geram emprego e renda neste pobre e apequenado Pernambuco, são irrelevantes.
Repentinamente parece até que os olhares do mundo se voltam para a preservação integral da natureza em limitado espaço de terra denominada APA Aldeia-Beberibe, cujo processo de mutação ocorre ao longo de décadas.
Em 1986, o Governador Gustavo Krause tentou proteger a Mata Atlântica na Região Metropolitana, assim como os manguezais, as áreas estuarinas, os mananciais através de legislação específica a ser regulamentada em até seis meses. E apenas alguns planos de manejo de faz de conta foram elaborados e não implantados. Poderíamos ter ido além, e ainda podemos.
Além desse fato, o que se percebe é a irracionalidade simplista – quantos hectares da Mata do CIMNC serão destruídos. Trata-se de um pequenino território em permanente processo de mutação desde a transição rural para o urbano, cuja relevância é o reconhecimento de como poderíamos dispor de uma metrópole ambientalmente equilibrada, integrando o bicho homem e a natureza circundante. Ao contrário, poucos
sabem e muitos não querem saber que as Matas de Aldeia, de Pitanga I e II, da Mumbeca e tantas outras vem sendo celeremente transformadas pelo uso da lenha para o fogão, ou mesmo a sustentação de telhados dos que ocupam o chão devastado, homens e mulheres que casas não tem. Assim como multiplicam-se belos e ajardinados condomínios residenciais para os que casas já tem.
O olhar para perto nessa disputa do a favor e contra não percebe a relevância dos argumentos pelo uso do solo para duas intervenções estratégicas – o Arco e a Escola de Sargentos.
A escala do debate está equivocada na essência de quem a olha de perto, não percebendo argumentos que ficam à margem do caminho a seguir assegurando a proteção e preservação ambiental quando vista do alto. Do olhar de cima, da relação custo/benefício, neste caso da relação entre o fazer acontecer ou deixar como está para a alegria de alguns e continuidade da devastação acelerada. Perdemos todos, pelo equívoco do debate.
É preciso olhar bem do alto e perceber o significado dos dois componentes de desenvolvimento regional. A proteção ambiental e a preservação dos reduzidos pedaços da APA Aldeia-Beberibe é viável, desde que o contraditório se faça pelo compartilhamento. A escala e a escola. A escala e o eixo estratégico de desenvolvimento.
É possível a um só tempo demonstrar lá do alto o significado e a importância das duas intervenções. É possível compatibilizar a requerida e inadiável preservação adotando os mecanismos de proteção que estão aí, e mais, assegurando a perpetuidade desses instrumentos ao disponibilizar recursos focados na sustentabilidade, incorporando a APA áreas de Mata Atlântica deixadas curiosamente fora de seu perímetro.
A questão não é entre dois desafios. Ela é parte do processo de ruptura entre o desordenado crescimento da metrópole e o simplório do não fazer. Assim, o caminho a seguir passa pela escolha de acreditar e fazer acontecer. Não é uma disputa, é o compartilhamento de uma decisão para e pelos pernambucanos.
Paulo Roberto Barros e Silva, arquiteto