OPINIÃO

A fórmula de Sartre: Jaccuse parte 2

Não há explicação decente, i.e, racionalmente aceitável para a onda de antissemitismo que assola o globo terrestre

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ZENALDO LOIBMAN

Publicado em 09/12/2023 às 0:00 | Atualizado em 09/12/2023 às 10:27
Apoiadores e familiares de reféns israelenses sequestrados pelo grupo militante palestino Hamas, reunidos no centro de Tel Aviv - GIL COHEN-MAGEN/AFP

Não há explicação decente, i.e, racionalmente aceitável para a onda de antissemitismo que assola o globo terrestre. Trata-se de fenômeno objeto de estudos na Sociologia e na Psiquiatria. Sempre existiu, ao menos desde Abraão (patriarca dos hebreus, cristãos e muçulmanos), por diferentes motivações. Sempre se saca alguma razão para odiar hebreus/ judeus, por serem judeus. Abrange a extrema direita (o que não é novidade), e a extrema esquerda (o que também não surpreende). Hitler e Stalin figuram entre os maiores antissemitas da História.

A novidade agora é que o sentimento de ódio aos judeus, por serem judeus, parece contaminar pessoas aparentemente no centro do espectro político, não ligadas a movimentos religiosos radicais, menos propensas a paixões políticas, mas mesmo assim ora extremamente atraídas pela mensagem antissionista, assumindo-a como se isso nada tivesse a ver com antissemitismo. Ledo engano.

Jean Paul Sartre é considerado o maior filósofo existencialista do século XX. Já estudava, entre tantas questões, o Antissemitismo. Em 1975, os países árabes produtores de petróleo patrocinaram, no que se chamou à época de "a chantagem do petróleo", a votação de famigerada moção na Assembleia Geral (AG) da ONU, para que sionismo passasse a ser considerado como uma forma de racismo o que, desde que se conheça o real conceito de uma coisa e de outra, representa evidente contradição, proposição inválida em termos lógicos. Racista era evidentemente a tal moção que, por força da referida chantagem, na época logrou aprovação pela AG da ONU.

Esse fato proporcionou ao famoso mestre filósofo apresentar uma fórmula que no curso das décadas posteriores tornou-se famosa, e se confirmou nos fatos que se sucederam, para revelar ANTISSEMITAS ENRUSTIDOS nas sociedades civilizadas. No curso da segunda metade do século XX já não era de bom tom para alguém que não fosse explicitamente fascista ou comunista (respectivamente de extrema-direita ou de extrema-esquerda), dizer-se racista ou antissemita.

Uma coisa ou outra pegava muito mal. Em geral, a experiência demonstra que todo racista é antissemita (e vice-versa); veja-se o caso da famigerada Ku Klux Klan (com representação no Brasil), ou dos outros inúmeros grupos neonazistas no Brasil, a exemplo do "Carecas do ABC", todos, além de racistas, são antissemitas e antinordestinos.

A fórmula de Sartre: "O antissionismo é a expressão política do antissemitismo". Com isso, já em 1975 o mestre-filosofo explicitou que a então novel motivação para ser

antijudeu estava em ser anti-Israel. Com isso achavam os odiadores que camuflariam sua condição antissemita, por vezes inconsciente. Uma parte dessas pessoas talvez não tivessem então, ou não tenham mesmo ainda a consciência de sê-lo, de alma. Mas, o pensador existencialista, o maior deles, desvendou tal condição. Enfim, sionismo representa o direito da nação judia à autodeterminação, o direito do povo judeu ter um lar nacional, o que veio a ser reconhecido em 1947, pela ONU, depois de mais de 1.800 anos de exílio, e somente após o Holocausto. Diga-se, em tempo, que o Brasil logrou redimirse da vergonha de haver votado em 1975 de joelhos ante a chantagem do petróleo, a favor da insidiosa moção, em plena ditadura militar. Em 1991, foi por iniciativa do Brasil, que a AG da ONU REVOGOU aquela moção, de cunho racista, fruto de chantagem, que manchava a história e a luta dos povos por autodeterminação.

A história registra que o estado palestino judeu foi fundado em maio/1948, e recebeu o nome de Israel. O estado palestino árabe deveria ter nascido junto na mesma época, conforme conclamou David Ben Gurion, ao ler a Carta de Independência de Israel em 1948. Teriam nascido juntos, para viverem em paz e fraternidade. Mas, isso não aconteceu, especialmente por decorrência da violenta oposição dos países árabes da região, os quais não acataram a Resolução da Partilha, pela AG da ONU, e no dia seguinte invadiram Israel por todos os lados. Quis o destino, com a graça de Deus, que Israel sobrevivesse à guerra de independência e às outras posteriores, restando claro que o objetivo dos seus inimigos era a sua destruição. Nunca a intenção dos países árabes que travaram guerra com Israel foi a de estabelecimento de um lar nacional para os árabes palestinos. Estes nunca foram recebidos como cidadãos, enquanto povo, em nenhum país árabe; nem na Jordânia, nem no Egito, nem em nenhum outro qualquer pais árabe.

Também o Hamas não tem compromisso com esse propósito de um Lar Nacional para os árabes palestinos. A constituição do Hamas foi para conseguir a destruição de Israel e dos infiéis. Vale dizer, pretende instalar um Estado Teocrático Islâmico radical (Califado), onde hoje geograficamente estão Israel, Jordânia, Líbano, Síria e Iraque. Qualquer um que a isso se oponha é considerado INFIEL, e deve morrer. Mesmo se forem muçulmanos ou palestinos de Gaza. A estes o Hamas reservou o papel de mártires, i.e, devem ser sacrificados/morrerem, sem direito a escolha, pela causa do Hamas, e não pela causa palestina, seja explodindo como homem-bomba, seja como escudo humano, e tornando se estatística macabra na produção de mais antissemitismo.

Zenaldo Loibman, humanista, brasileiro e judeu.

 

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