A Conferência das Nações Unidas pelas Mudanças Climáticas COP28, realizada em Dubai, ocorre, por uma coincidência indesejada, nos dias mais quentes que assolaram o Planeta. Indesejável, porém evitável. Não faltaram alertas, uns mais brandos, outros mais radicais. O primeiro, A Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, aconteceu em junho de 1972, em Estocolmo. Deu centralidade global à questão dos limites biofísicos frente ao crescimento econômico.
A partir de então, o futuro humanidade estava em jogo. Não se tratava de visão catastrófica nem um tempo tão distante a ser negligenciado.
De fato, tempo ensina. O futuro chega e com ele a fatura de forma devastadora, penalizando os devedores com enchentes, incêndios florestais, poluição, desertificação, secas, insegurança alimentar e o mais danoso dos efeitos colaterais: o aumento da desigualdade social.
Neste intervalo não faltaram eventos internacionais em busca de soluções comuns para o agravamento das questões ambientais, dentre as quais, a manutenção da temperatura global média, abaixo da situação limite de 1,5ºC, da era pré-industrial (registrado em julho do corrente ano) considerando que até 2022 o mundo aqueceu 1,2ºC.
E já estamos a caminho da COP29 (com sede indefinida e a COP30 com sede Belém/PA), sem falar na ECO92, Rio de janeiro. Passados meio século da primeira “Cúpula da Terra” (1972, Estocolmo), somente os radicais de sempre, afrontam a ciência e se abraçam com o obscurantismo negacionista. Impossível não enxergar a catástrofe.
Subsistem, no entanto, críticas aos eventos globais em que se destacam excessos retóricos e recursos escassos para os que empobreceram com a degradação ambiental. Exemplos: o Acordo de Paris, item 54 do preâmbulo, decide nos termos do Art. 9, parágrafo 3 “deve definir uma nova meta quantificada coletiva um piso de US$100 bilhões por ano, tendo em conta as necessidades e prioridades dos países em desenvolvimento”, entre 2020 e 2025, jamais cumprida; O fundo global para perdas e danos da mudança climática receberá (uma “vaquinha” entre os ricos) 415 milhões de dólares, gerenciados por quatro anos pelo BIRD.
Por ocasião dos grandes debates de ideias e temas controversos, surgem personagens que a gente ama ou odeia (sentimento condenável), mas não pode ficar indiferente.
Refiro-me a ativista sueca Greta Thunberg, nascida em 2003, que, na assembleia plenária da COP24 de 12 de dezembro de 2018, concluiu sua veemente declaração: “Só se fala em avançar com as mesmas más ideia que nos meteram nesta confusão, mesmo quando a única coisa sensata a fazer é puxar o freio de emergência. Vocês não são maduros o suficiente para dizer que a situação é essa.
Até esse fardo vocês deixam para nós, crianças”.
Thunberg causou espanto: admiração e crítica feroz. Chumbo grosso veio de Merkel, Macron, Putin, Trump. Bolsonaro criticou o espaço que a mídia dava à “pirralha”. Setores minoritários da mídia, também, caíram de pau. Em compensação, ganhou um espaço enorme, admiração e foi contemplada com prêmios e inúmeras honrarias, entre elas, o Prêmio Gulbenkian para a Humanidade.
Ela, a irmã Beata, os pais Svante Thunberg e Malena Ernman, consagrada cantora e artista de óperas, escreveram um livro em família onde Greta é co-autora e personagem com os discursos por ela proferidos, em anexo: Nossa casa está em chamas – Ninguém é pequeno demais para fazer a diferença (Ed. BesteSeller – Rio de Janeiro, 2019).
Farei uma inevitável escolha de trechos: “Quando eu tinha cerca de oito anos, ouvi falar pela primeira vez sobre algo chamado mudança climática ou aquecimento global [...] Se a queima de combustíveis fósseis fosse algo tão ruim que ameaçava nossa existência, como poderíamos continuar como antes”.
Sobre a doença: “Eu tinha 11 anos. Fique doente. Entrei em depressão. Parei de falar. E parei de comer. Em dois meses emagreci dez quilos. Mas tarde fui diagnosticada com síndrome de Asperger, TOC e mutismo seletivo”.
Emissões: [...] Não há área cinzenta quando se trata de sobrevivência. Ou nós continuamos como uma civilização ou não. Nós temos que mudar”.
Ação: “A única coisa de que precisamos, mais que esperança, é ação. Quando começarmos a agir a esperança estará por toda parte. Procure por ação. Então, e só então a esperança virá”.
Sucesso: “Nossa casa está em chamas [...] Em Davos, as pessoas gostam de contar histórias de sucesso. Mas o sucesso financeiro veio com um preço inimaginável”.
A greve escolar pelo clima: “Gostei da ideia de uma greve escolar[...] Ninguém estava interessado [...] Então fui planejando a greve escolar sozinha [...] No dia 20 de agosto, me sentei diante do Parlamento sueco. Distribui panfletos com fatos sobre a crise climática e explicações por estar em greve”.
A partir de então, sexta-feira batizou o movimento Friday for Future que ganhou expressão global em defesa das mudanças climáticas e da transição para energias renováveis.
Greta é o futuro em corpo e espírito falando pelas novas gerações. E tem razão: é uma luta para apagar as chamas que devoram a nossa Casa.
Gustavo Krause, ex-governador de Pernambuco