OPINIÃO

Os caminhos tortuosos do relacionamento de Álvaro com Raquel

Vem uma nova bomba por ai?

Cadastrado por

TEREZINHA NUNES Do BlogDellas Especial para o JC

Publicado em 05/02/2024 às 0:00 | Atualizado em 05/02/2024 às 8:26
Retomada dos trabalhos na Alepe: Governadora Raquel Lyra cumprimenta o presidente Álvaro Porto - Guga Matos/JC Imagem

Chamou atenção no evento organizado pelo PSDB para celebrar a vitória da governadora Raquel Lyra, logo após a divulgação do resultado da eleição de 2022, a euforia do deputado Álvaro Porto, que também comemorava sua reeleição, quando aproveitou o momento em que a vice-governadora Priscila Krause ia falar e antecipou-se diante do microfone para soltar, em alta voz, uma frase lapidar : “é muito bom ser poder”. Álvaro foi, ao lado dos colegas do PSDB também eleitos, Izaías Regis e Débora Almeida, um dos primeiros a abraçar o projeto da correligionária durante a campanha quando quase ninguém acreditava na possibilidade de vitória. “Ele deu tratamento vip a Raquel em sua área de atuação. Isso não se pode negar”- disse a este blog um dos coordenadores da campanha.

Não se imaginava, no entanto, que a euforia de Álvaro com Raquel ficaria restrita ao episódio do microfone. Disposto a lutar pela presidência da Assembléia já no dia seguinte, após a vitória, ele começou a articular-se com os deputados eleitos – mais de 40% novatos – incluindo os sabidamente de oposição, como os filiados ao PSB e PT, pregando a independência da casa. Não falava em sua própria candidatura mas, sendo do mesmo partido de Raquel, foi visto como um provável vencedor já que nas décadas anteriores o presidente da Alepe era escolhido em consonância com o Palácio das Princesas. Seu nome ganhou corpo mas não foi abraçado por Raquel que começou a manifestar o desejo de ter na Alepe um parlamentar de temperamento mais cordato, optando pelo deputado Antonio Moraes.
Na verdade, o mundo político, que discute o assunto 24 horas por dia, já sabia que o temperamento forte do deputado não ia casar bem com o temperamento firme de Raquel.

E foi o que aconteceu. Álvaro, ao sentir que a governadora não o apoiaria, começou a fazer acordos com os deputados não só para a formação da mesa da Alepe como para a ocupação das duas vagas previstas no Tribunal de Contas. Quanto mais avançava mais a governadora se preparava para o embate que aconteceu não só na vitória dele, por unanimidade, como nas tratativas para formação da mesa-diretora onde o Palácio não emplacou ninguém. A disputa continuou na formação das comissões quando Raquel pleiteou a indicação dos presidentes das três principais – Justiça, Finanças e Administração - e precisou fincar pé para conseguir derrotar os nomes saídos dos entendimentos com Álvaro. Na eleição das duas vagas do TCE, o presidente da Alepe emplacou seus dois candidatos.

Nesse clima, a oposição, sobretudo o PSB, cerrou fileiras ao lado do presidente e a ela se juntou o deputado Alberto Feitosa, do PL, que até hoje não perdoa o fato de não ter sido presidente da Comissão de Administração, tornando-se mais opositor do que todos os demais. Foi ele o autor de quase todos os projetos e emendas que confrontaram o Palácio até agora, incluindo as que entornaram o caldo do relacionamento entre Álvaro e Raquel mais recentemente, quando a governadora foi ao Supremo arguir inconstitucionalidade das emendas feitas na LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Resistente aos entendimentos políticos, a governadora não formou base na Alepe, não deu espaço aos partidos políticos em sua equipe e a maioria dos deputados, insatisfeitos, acabou aliando-se ao presidente, disposta ao que desse e viesse. Se diz de tudo nos corredores da Assembléia, inclusive que a governadora pode vir a ser surpreendida por um processo de impeachment, coisa jamais a imaginada na política pernambucana. A tese de que “depois bicudos não se beijam”, celebre na sabedoria popular, cairia como uma luva na situação que chegou às raias da explosão esta sexta-feira quando vazou áudio de Álvaro usando linguajar impróprio, ainda na mesa dos trabalhos, para qualificar o discurso feito por Raquel na sessão de instalação dos trabalhos legislativos.

Há algum bombeiro que consiga apagar esse incêndio? Quase ninguém acredita mais nisso. Tanto é que logo após o episódio desta quinta-feira, entre as pessoas que circulam dos dois lados e vêm lutando para apagar incêndios, esse blog apurou que o nome “tentativa de diálogo” foi substituído por “tentativa de convivência”. Uma delas afirmou: “ Raquel e Álvaro têm mais dois anos e onze meses de mandato e é necessário que a gente trabalhe até lá para evitar conflitos capazes de prejudicar os interesses do estado”. Há quem acredite que os dois, após o que aconteceu esta semana, esfriem a cabeça, depois que a governadora, com razão, se aproveite do escorrego do deputado para crescer politicamente.

Mas ainda há uma bomba para ser detonada que é a resposta que o STF vai dar à ação de Raquel contra as emendas à LDO. Se a Assembléia ganhar a causa, os entendidos imaginam que será mais fácil um acordo mas, senão, se ganhar o Palácio, o descontentamento dos deputados pode aumentar. No final da própria sessão de quinta, mesmo antes do vazamento do áudio, porém, parlamentares já reclamavam do clima que estão vivendo e querendo paz e tranquilidade neste ano eleitoral. Um deputado independente comentou, pedindo anonimato, para não se envolver na confusão estabelecida, que “esta luta é um perde, perde. Mesmo que ganhe no STF, Raquel vai acabar sendo vítima de uma rebordosa”. De que se trata? Segundo ele, das emendas de bancada que vão ser discutidas em reunião dos líderes esta segunda-feira.

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