OPINIÃO

O dia em que fui destaque na avenida

Segunda-feira transcorre os 36 anos daquela noite, digamos mágica. Que nunca esqueci, lembro sempre com muita saudade.

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JOÃO ALBERTO MARTINS SOBRAL

Publicado em 09/02/2024 às 0:00 | Atualizado em 10/02/2024 às 6:57
O dia em que fui destaque na avenida
O dia em que fui destaque na avenida - Thiago Lucas/ Design SJCC

Em 1988 minha coluna completava 20 anos de circulação ininterrupta. Em setembro do ano anterior, recebi a visita da diretoria da escola de samba "Gigantes do Samba", para me comunicar que tinha sido escolhido para ser o enredo do desfile do carnaval do ano seguinte. Recebi a notícia com surpresa e felicidade. Claro que aceitei na hora, quase sem acreditar. Na semana seguinte fui à sede da escola, na Bomba do Hemetério, quando a escolha foi comunicado aos integrantes da escola, durante ensaio da agremiação.

 Na semana seguinte, convoquei um grupo de amigos para assistir a um dos ensaios, que aconteciam sempre nas noites da sexta-feira. Lembro de Paulo Sérgio Macedo, Tatiana Marques, Tom Uchoa, Francisco Rosário, Severino Mendonça, Anacleto e Betinha Nascimento, Samuel Oliveira, Ferreira, entre outros. Até Jarbas Vasconcelos, que era o prefeito do Recife, esteve em alguns deles. Gostaram tanto que o grupo voltava praticamente toda semana. Esteve, inclusive, no réveillon, que acontecia antes da data, porque a bateria da escola se apresentava em festas do final de ano. A festa que lotou a quadra da escola, com muita animação e que festejava a chegada do Anovo com brinde de sidra, versão, digamos, popular do champagne.

 Foi escolhido o enredo da escola "João Alberto: Vinte Anos de Sucesso". O famoso sambista Belo X ganhou o concurso do samba-enredo. Fez uma música linda, com o refrão apropriado pela torcida da escola, que tentaria sair de um jejum de seis anos, perdendo o título para a "Estudantes de São José" e "Galeria do Ritmo", escolas concorrentes. Foi decidida a criação da "Ala dos Colunáveis" para o desfile na Avenida Dantas Barreto, que era bem mais ampla, antes da construção do Camelódromo. Beto Kelner que era um famoso estilista, ante de se tornar vitorioso designer e empresário, que tinha se incorporado ao grupo, desenhou o traje exclusivo: camisa nas cores da escola, verde e branco, calça branca. Para mim, uma roupa especial, com direito a uma cartola dourada, que conservo até hoje.

Como sempre, o desfile aconteceu na segunda-feira de carnaval. Concentração da Ala dos Colunáveis foi em Armando da Fonte, concessionária Chevrolet, que ficava na Rua Padre Muniz, pertinho da saída do desfile, cedida por Toinho da Fonte, que participava da ala. Ao todo, apareceram 100 pessoas, todas figuras conhecidas. No local, mordomia total e muito scotch, para, digamos, calibrar a apresentação.

As escolas de samba da época mostravam travestis com os seios de fora. Teve uma mudança que causou sensação. Um empresário da noite conhecido do grupo, tinha t, uma casa de jovens digamos alegres, em Boa Viagem. Ele convenceu suas meninas a se apresentar de top less na avenida. Como eram jovens, bonitas e esculturais, causaram um frisson, foi uma sensação;

 Somente às três da manhã, o grupo se dirigiu para o local da saída da escola, com direito a forte esquema de segurança da Nordeste, empresa de Paulo Sérgio Macedo. Com meu traje de gala, fui colocado no alto do principal carro alegórico, com direito a visão privilegiada da passarela. Lembro da emoção que senti ao ver o grande público nas arquibancadas cantando o samba de Belo X. Uma vibração maior, com o grito "É campeã". Depois de uma hora de desfile, que os colunáveis enfrentaram com entusiasmo, chegaram à dispersão, quando voltaram, em vans alugadas, para a concentração onde estavam os carros.

 A emoção continuou até a quinta-feira, quando aconteceu a apuração dos votos, no Pátio de São Pedro, que confirmou a vitória da Gigantes do Samba, depois de seis anos. Eu, ao lado de muitos amigos, acompanhei a apuração e fomos participar da festa da vitória que foi até a madrugada na sede da Bomba do Hemetério.

Segunda-feira transcorre os 36 anos daquela noite, digamos mágica. Que nunca esqueci, lembro sempre com muita saudade.

João Alberto Martins Sobral, jornalista e colunista do JC 

 

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