A decisão por tomar vacinas não é política. Caminha em paralelo com a ciência que precisa de algum tempo para demonstração da eficácia,segurança e qual o calendário indicado. Leva em consideração a gravidade da situação clínica e epidemiológica a que se destina, bem como as particularidades de cada vírus. Muito já foi investido nas pesquisas para vacina contra o HIVe ainda não é disponível.Também não existe vacina para
os vírus de Epstein-Barr e Citomegalovírus, nem contra o Vírus C de Hepatite. Ao mesmo tempo,várias doenças foram erradicadas graças a elas.
O mundo todo acompanhou a corrida dos mais de 200 projetos de vacinas na pandemia de Covid que matava cerca de 3% dos infectados naquela época. Só no Brasil chegamos a mais de 100.000 casos por dia e consequentemente mais de 3.000 morto sem um só dia. Houve uma corrida acelerada, como teria
que ser.
Hoje não se discute, fora das bolhas de realidade paralela, o papel desempenhado pelas vacinas na mudança do curso da pandemia.Toda insegurança naquele momento era compreensível, mas o questionamento e campanhas em contrário,mesmo depois de evidências científicas provando que salvaria muitas vidas, foi
esquisito e algumas vezes criminoso.
O momento hoje é outro. Aguarda-se o calendário vacinal definitivo para crianças, jovens, adultos e idosos,
saudáveis ou com doenças já existentes. Com mais calma, são observadas as pessoas vacinadas ou não, os que receberam reforço ou não, os que tem comorbidades ou não, coletando dados e estatísticas que possibilitem a definição das recomendações.
As publicações têm mostrado um pequeno benefício adicional para quem recebe o reforço da vacina, principalmente para quem sofre com outras doenças. Por essa razão, os órgãos de controle de doenças nos Estados Unidos continuam recomendando o reforço para quem tem mais de 6 meses de idade, mas grande parte do mundo decidiu não seguir essa recomendação. Países importantes decidiram que a maioria
das crianças não precisa receber a dose de reforço agora, mesmo entendendo que é eficaz. O argumento é o elevado custo das campanhas de vacinação em troca de um benefício relativamente pequeno, considerando a baixa probabilidade de que fiquem seriamente doentes. Argumentam também que a reação à vacina pode fazer com que a criança perca um dia de aula e aumente o medo de agulhas.
Apesar da recomendação oficial nos Estados Unidos, o fato é que apenas 5% dos pais estão levando os filhos para o reforço. A desobediência em massa, de acordo com os dados estatísticos, tem como resultado algumas poucas formas graves adicionais,pouco perceptíveis para o público em geral e tem um efeito colateral que pode ser mais grave. Com a generalização dessa desobediência, passou a ser observado um aumento do
abandono de outras recomendações voltadas para a saúde pública,mesmo em relação a situações de indicação já bem estabelecida, como a vacinação contra várias doenças e outros cuidados preventivos ou terapêuticos fundamentais para a saúde geral.
Diante dessa realidade, surgiu a ideia de disponibilizar as vacinas contra a Covid e substituir a simples recomendação oficial por uma campanha de esclarecimento que possibilite a decisão compartilhada, preservando assim a credibilidade das instituições e evitando que a desobediência generalizada promova
muito mais mortes por outras doenças do as que atualmente são observadas com a Covid.
Não se trata, portanto, de assumir posição partidária contra ou a favor de uma vacina e sim disponibilizar a verdade dos números nos diversos grupos e situações, permitindo que a análise estatística aponte com objetividade e consciência o caminho a seguir. A decisão informada poderá aumentar a cobertura vacinal ou, esperamos que em algum momento, os dados mostrem que a vacina já oferece proteção suficiente e
prolongada. Quando ficar demonstrado, economizaremos em vacinas, restando manter a vigilância com relação a eventuais mutações capazes de driblar a defesa e prorrogar a agonia.
Sérgio Gondim, médico