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O que nos diz o IDEB de 2023?

O IDEB é o resultado da análise ponderada de dois fatores: desempenho escolar em língua portuguesa e matemática, multiplicado pela taxa de aprovação

Publicado em 18/08/2024 às 11:22 | Atualizado em 18/08/2024 às 11:23

Por Mozart Neves Ramos*

A resposta é simples: o país está literalmente estagnado na educação, praticamente não retomamos aos resultados de 2019, antes da pandemia, que já eram pífios. É preciso um choque de gestão na educação. Se continuarmos a fazer mais do mesmo, não vamos sair do lugar, enquanto os países desenvolvidos já estão em voo de cruzeiro. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) revela ainda a enorme desigualdade educacional em nosso país, que está literalmente dividido: Sul/Sudeste e Norte/Nordeste.

E a resposta para melhorar a educação do Norte/Nordeste possivelmente venha da própria região. Por exemplo, as 21 escolas que tiraram nota 10 no IDEB são todas do Nordeste (15 do Ceará, 5 de Alagoas e 1 de Pernambuco), e todas do interior desses estados. Falar do sucesso de Sobral e do Ceará é chover no molhado.

Por isso, vou falar de outros territórios nordestinos que estão nos mostrando o caminho de como melhorar a educação. Esse é o caso, por exemplo, do território da região Oeste do Maranhão. Lá, foi constituído um regime de colaboração intermunicipal envolvendo alguns municípios em torno de Açailândia, no contexto dos chamados Arranjos de Desenvolvimento da Educação (ADE), seguindo orientação do Plano Nacional de Educação – Artigo 7 Inciso 7.

Uma região relativamente pobre do ponto de vista socioeconômico, mas que se juntou para vencer suas próprias dificuldades. Vou aqui dar os resultados do IDEB de 2021 e 2023 de tais municípios: Açailândia: saiu de 4,6 para 5,5, Bom Jesus das Selvas: de 4,3 para 5,1, Itinga: de 4,2 para 5,1, São Francisco do Brejão: de 4,0 para 4,8, e assim vai. Para quem não é da área, importante ressaltar que um aumento de 0,1 ponto no IDEB é relevante pela forma de cálculo.

O IDEB é o resultado da análise ponderada de dois fatores: desempenho escolar em língua portuguesa e matemática, multiplicado pela taxa de aprovação.

Os estados do Piauí, Pernambuco e Alagoas são destaques na nossa região em algumas etapas escolares – não em todas. Pernambuco, graças a suas escolas de tempo integral de Ensino Médio, sempre aparece entre os primeiros nesta etapa escolar, mas atenção, já começa a mostrar uma certa estagnação.

Piauí vai crescendo nas três etapas, lembrando que Teresina sempre foi o destaque entre todas as capitais brasileiras. Alagoas, por sua vez, deu um salto nas últimas edições do IDEB. Por exemplo, na versão deste ano, foi o único estado do Nordeste que ficou acima da média Brasil no IDEB, tanto para os Anos Iniciais, como para os Anos Finais do Ensino Fundamental.

Por outro lado, fica também no Nordeste brasileiro o estado de pior resultado no IDEB nas três etapas escolares - Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Trata-se do Rio Grande do Norte, acompanhado de perto pelos estados de Sergipe e Bahia. A desigualdade existe dentro do próprio Nordeste!

Mas a grande novidade positiva desta edição do IDEB veio do estado do Pará no Ensino Médio, que historicamente sempre ocupava as últimas posições. Desta vez, o estado deu um verdadeiro “salto quântico”. Parabéns ao nosso ex-ministro da Educação Rossieli Soares, que hoje responde pela pasta da Educação daquele estado. O Pará encostou em Pernambuco e em São Paulo!

Por fim, quando falo em choque de gestão é no sentido de começar a fazer diferente, pois fazer mais do mesmo não vai adiantar. E não são coisas mirabolantes, que custam muito dinheiro. São coisas simples, como ouvir, por exemplo, quem está fazendo a coisa acontecer e aprender com eles. Outra iniciativa no âmbito da gestão é colocar em prática o regime de colaboração, especialmente entre municípios pequenos, que não são muitas vezes “enxergados” na esfera federal, como estão fazendo aqueles do Oeste do Maranhão.

Mudar é um ato de coragem, algumas vezes de exercer a humildade. Não se trata apenas de colocar mais dinheiro na educação - algo que, de fato, o Brasil ainda precisa, caso queira um dia chegar próximo aos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e fazer uma comparação justa no exame do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA).

Termino usando uma expressão que já está ficando comum nos meus artigos: o Brasil pode aprender com o Brasil, ou, ainda: o Nordeste pode aprender com o Nordeste.

*Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.

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