Reciclar é preciso

Publicado em 07/10/2020 às 2:00


O ritmo de consumo da civilização global pede soluções ambientalmente saudáveis para a casa da vida como a conhecemos, no planeta que se fez berço de milhares de espécies e viu crescer a consciência nos seres humanos. A produção de resíduos é um problema de escala planetária, uma vez que seu acúmulo incessante ameaça os ecossistemas, pondo em risco a biodiversidade e, no caso da humanidade, interferindo diretamente no grau da qualidade de vida disponível. E também é um problema essencialmente local, pois a origem dos resíduos está nas residências, nas indústrias, e em todo espaço coletivo. Por isso, são cruciais a conscientização comunitária e o engajamento da população no trato das questões referentes ao descarte e destinação dos resíduos.

Mas a participação social depende de um tipo de engajamento vinculado à decisão política, sem a qual as melhores intenções carecem de consequência. Conforme noticiamos aqui no JC, o último lixão da Região Metropolitana do Recife, que funcionava em Camaragibe, encerrou sua operação no dia 1º de outubro. A esta altura, as 14 cidades da RMR deveriam contar, desde 2018, com a universalização da coleta seletiva e a implantação de unidades de triagem em 30% da região. De tudo que é coletado, apenas 3,5% vem a ser reciclado, índice muito baixo de reaproveitamento que indica, igualmente, alto nível de desperdício - além da destinação inapropriada do que poderia ser objeto de reuso. No passo atual, é improvável que a distribuição de centros de triagem atinja os 100% preconizados pelo Programa de Coleta Seletiva para a Região Metropolitana, para 2028.

Mesmo onde se encontra a melhor prática de coleta seletiva, falta escala para que as atividades ganhem efetividade. A demanda de um município do tamanho de Jaboatão dos Guararapes reclama por uma estrutura de coleta maior e diversificada. Isso vale para todas as cidades. A reciclagem começa pela coleta, e sem pontos de recolhimento e centros de triagem, perde-se a oportunidade dos benefícios sociais e econômicos que o reaproveitamento dos resíduos pode gerar. Segundo o representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, está faltando no Grande Recife interesse dos gestores e apoio para os 30 mil catadores que atuam nas cidades. É a ausência da escolha política pela reciclagem como imposição civilizatória. Seja por visão estreita, ou pura incompreensão da necessidade ampliada no ambiente urbano, o problema vai se avolumando como os montes de descartes nos lixões.

A temporada eleitoral aberta se presta ao exame das condições presentes para a vida dos cidadãos que definirão seus prefeitos no próximo dia 15 de novembro. Como o voto é um gesto de esperança, propostas relativas a temas como a reciclagem, e a confiança em que serão cumpridas, devem ser vistas como rotas para um futuro em que a consciência ambiental comece pelo gestor público, e se estenda à população, colaborando com um modo de vida sustentável.

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