Mas de onde vem esse poderio das organizações criminosas, que promovem o caos, espalham o medo e mantêm a prerrogativa de mandar e desmandar nas penitenciárias, como se fossem propriedades privadas em posse das gangues? O cenário de depredação e balbúrdia no Rio Grande do Norte é um exemplo, muito próximo de nós, do quanto a segurança pública dos governos estaduais – e dos governos em geral – parece incapaz, há muitos anos, de dominar a aparelhagem das prisões pelos chefes do tráfico de drogas. Daí se pode afirmar que a força do crime organizado vem do mercado de drogas, financiado por parte da população brasileira.
Os ataques a ônibus e prédios públicos em várias cidades do Rio Grande do Norte ilustram o tamanho de um problema cuja proporção foge do controle dos aparatos e das autoridades de segurança. O nome da facção criminosa chega a ser coisa de cinema: o Sindicato do Crime conseguiu suspender as aulas e instalar um clima de pânico entre os potiguares. A organização é uma dissidência do PCC de São Paulo, formando por bandidos que a rebelaram contra o fato de terem que obedecer e enviar recursos para o Sudeste. O exercício de intimidação que temos visto nos últimos dias, de acordo com a própria Policia Militar, é comandado por mensagens de Whatsapp disparadas de dentro dos presídios. Ou seja: nem há impedimento policial nem tecnológico ao uso de celulares, nem, por outro lado, as empresas de comunicação, apesar dos avanços contemporâneos, fazem o bloqueio das mensagens originadas nas penitenciárias.
Assim, pelo visto, o poderio do tráfico igualmente advém de uma facilidade de comunicação que não deveria, sequer, ser cogitada. A transmissão do terror se beneficia da tecnologia que continua livre no ambiente prisional. O aumento da pena em até quatro anos para o preso que utilizar celular na unidade prisional não é levado em consideração, e o poder público não coíbe esse uso. Há poucos dias, foram lançados celulares por cima dos muros de um presídio do Complexo do Curado, no Recife. A tecnologia de embaralhamento de sinais de celulares e drones encontra-se em fase de testes no Rio Grande do Sul, nos arredores de duas penitenciárias. Trata-se de uma providência que precisa se espalhar sem demora no país inteiro.
As guerras do tráfico acontecem por oportunidades franqueadas pela vulnerabilidade no sistema penitenciário e na segurança pública nacional. Se é preciso reduzir a violência nas ruas e nas comunidades dominadas pelas gangues, não é menos necessário devolver as prisões ao controle do Estado, sem as possibilidades atualmente abertas aos bandidos e suas organizações. Há seis anos, uma rebelião em Alcaçuz, no RN, resultou na morte de 26 integrantes de uma facção, assassinados por membros da outra. Agora, a Força Nacional foi acionada para dar apoio ao governo estadual no combate às gangues que dão ordens dos presídios. Algo importante, mas é urgente ir além, com medidas estruturais de amplo alcance. Essas demonstrações de força do crime organizado têm que acabar no Brasil.