A redução da cobertura vacinal no mundo vem gerando apreensão nos médicos e nos gestores de saúde. Nos últimos três anos, desde 2019, com o panorama agravado pela pandemia de Covid, 48 milhões de crianças em todo o planeta não receberam nenhuma dose da tríplice bacteriana DPT, vacina que protege contra a difteria, a coqueluche e o tétano, e requer três doses para a imunização. Trata-se do pior cenário em 30 anos.
No Brasil, são 1,6 milhão de crianças desprotegidas, mesmo contingente que não recebeu a imunização devida contra a poliomielite no período. As informações são de um relatório divulgado pelo Unicef, ontem. Os dados nacionais foram baseados em informações do Sistema Único de Saúde (SUS), transmitidas por cada município.
Além das que não receberam qualquer dose, 700 mil crianças brasileiras não tomaram a terceira dose da DPT, comprometendo a formação de defesa no organismo contra essas doenças. Com isso, a cobertura no país é de 65%, considerada muito aquém do ideal de 95% estipulado pelo Ministério da Saúde.
Cerca de 40% do público infantil na América Latina que não recebeu nenhuma dose da tríplice bacteriana está no Brasil. Em relação à pólio, já erradicada, a cobertura no país é de 70%, quando também deveria ser de 95%. Para o representante do Unicef no país, Youssouf Abdel-Jelil, as enfermidades são sérias, porém evitáveis, desde que as vacinas sejam aplicadas.
A preocupação é que a queda na cobertura vacinal propicie novos surtos, inclusive de uma doença erradicada no país, como a poliomielite. Para a ministra da Saúde, Nísia Trindade, a retomada de altas coberturas vacinais é um desafio que precisa ser assumido pelo governo e pela sociedade. “Esse quadro tem que mudar. Para isso, temos de combater o negacionismo e as fake news”, aponta a ministra.
Para que a ameaça à saúde coletiva infantil venha a ser revertida, faz-se urgente a recuperação da imunização por meio das vacinas disponíveis. Mas para tanto, os adultos devem estar vacinados, simbolicamente, contra a desinformação, e retornem a levar as crianças para as doses necessárias a uma proteção efetiva.
De acordo com o Unicef, os últimos três anos representaram o retrocesso de mais de uma década na vacinação infantil de rotina, no mundo inteiro. Mais de uma centena de países tiveram redução na cobertura vacinal das crianças.
O relatório ainda indica que a maioria dos não vacinados reside em comunidades pobres e vulneráveis, revelando o grau de desigualdade na imunização: uma em cada cinco crianças pobres não recebeu nenhuma vacina nos últimos três anos, enquanto a proporção nas crianças ricas é de uma para vinte.
Condição econômica à parte, a confiança nas vacinas está em baixa em muitos países, inclusive no Brasil, onde a redução foi de mais de 10% entre antes e depois da pandemia. Cresce, portanto, a necessidade de campanhas informativas para a recuperação da credibilidade das vacinas.