Abandono escolar e desigualdade: o desafio social da educação

É preciso tornar o ambiente escolar, o conteúdo e a vivência mais atraentes para jovens que não se motivam a ir à escola
JC
Publicado em 08/06/2023 às 0:00


Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sobre o cenário da educação no Brasil, dizem muito sobre a realidade social em que a educação aparece mais como problema, e menos como solução. Os entraves continuam, sem que políticas públicas efetivas abram o caminho para um processo educativo de melhor qualidade, que valorize o conhecimento, a formação crítica e os profissionais envolvidos, em especial, os professores. Dentre os obstáculos, o abandono escolar e a pressão da desigualdade ratificam o quadro presente como um desafio social histórico, agravado ao longo dos anos na medida em que a situação permanece, marcando a vida de gerações seguidas de brasileiros.
Com números de 2022, o IBGE levantou que 18% dos 52 milhões de jovens entre 14 e 29 anos não possuía naquele ano o ensino médio completo. Desse contingente de quase 10 milhões de cidadãos que já ingressam na idade produtiva com o futuro comprometido, mais de 40% apontaram a necessidade de trabalhar como causa principal para o abandono ou o fato de nunca terem, sequer, frequentado a escola. É o mesmo percentual encontrado em levantamento similar feito em 2019. Cabe registrar outro motivo que se destaca: para quase um quarto desses estudantes, a falta de interesse em estudar é a razão para que não tenham o ensino médio cumprido. Por gênero, o número sobre para os homens: acima de 51% dos jovens deixaram o estudo para trabalhar, e cerca de 27% relataram falta de interesse em ir à escola.
É quase uma dezena de milhões de cidadãos, ou impedidos, ou desmotivados para trilhar o percurso educacional que se atrela, em seguida, ao desenvolvimento profissional. No momento em que se estanca a reforma do ensino médio, reativando o debate sobre o que e como ensinar, é válido o exame do cenário de desalento descortinado pelo IBGE. E aí cabem duas linhas de estratégia para elevar a adesão dos alunos e alunas à vida escolar. A primeira, buscar meios de compensação, sob a forma de renda familiar, para o cumprimento do ciclo escolar, na falta de oportunidades de trabalho, para os pais ou responsáveis, suficientes para que o estudante não precise ir atrás do complemento financeiro. A segunda, tornar o ambiente escolar, o conteúdo e a vivência mais atraentes para jovens que não se motivam a ir para a escola.
Em outro ramo do levantamento do IBGE, o analfabetismo ainda atingia, em 2022, 9,6 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais. Desse total, 6,9 milhões de pretos ou pardos, e 2,5 milhões de brancos. Para cidadãos acima de 60 anos, 16% são analfabetos – mas a desigualdade continua: para os pretos ou pardos, a taxa supera 23%, enquanto para a população branca, é de pouco mais de 9%. Com quase 12% de analfabetismo geral de seus habitantes, o Nordeste é a região com a maior taxa, e o Sudeste, a menor, com menos de 3% de pessoas que não sabem ler. Entre os nordestinos, praticamente um terço dos idosos com 60 anos ou mais é de analfabetos, enquanto no Sudeste esse percentual está abaixo de 9%.
A desigualdade, portanto, sem surpresa, compõe o panorama de uma educação problemática, onde as melhores alternativas e os mais bem-sucedidos exemplos demoram a ser multiplicados.

TAGS
jornal do commercio opinião editorial Assinante Educação
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory