A olimpíada de química no Uzbequistão, com jovens de vários países, contará com a participação de quatro estudantes brasileiros. Entre eles, o pernambucano João Victor Sales da Escola de Aplicação do Recife, da FCAP/UPE. Com 17 anos, o representante nacional também representa a escola pública e o estado. Vai cruzar o planeta, até a Ásia, munido de conhecimento e inteligência para uma disputa de altíssimo nível. As premiações para quem vencer as tarefas serão medalhas e certificados. Mas o mais importante, antes mesmo de qualquer resultado, é o exemplo que João Victor dá, que precisa servir de estímulo para sua geração, e de exemplo para a universalização do ensino de excelência em Pernambuco.
Além da nota alta na olimpíada estadual, o estudante chegou à final da Olimpíada Brasileira de Química, com o detalhe de ser o único oriundo de rede pública estadual em 28 anos de disputa. O que diz muito sobre a desigualdade educacional no país, e do quanto é necessário buscar o desenvolvimento do aprendizado na rede pública. Porque o fracasso a que aludiu o presidente da República, ontem, ao anunciar investimentos em alfabetização, é muito maior e mais antigo do que o passivo dos últimos quatro anos, com todas as críticas cabíveis ao governo federal anterior. Em Pernambuco, como no país inteiro, o passivo vem de décadas, e aponta um fracasso social de maior amplitude, que demanda múltiplos investimentos e a sensibilidade política dirigida à transformação de triste realidade.
Se os indicadores de desempenho da educação brasileira, em comparação com o mundo, são baixos, e a persistência do analfabetismo infantil e adulto é um sinal alarmante do descompromisso dos gestores públicos, ao longo dos anos, com um dos pilares para a inclusão e o desenvolvimento, exemplos como o do jovem pernambucano da Escola de Aplicação do Recife provam que é possível fazer melhor. A conquista de João Victor também configura uma realização de seus professores, do ambiente escolar em que está inserido, e da rede a que está atrelado. Por isso, deve ser uma conquista a ser seguida, louvada e multiplicada.
A dedicação do aluno pernambucano é conhecida, e percorre uma trilha de grande alcance em medalhas – já são 20 medalhas, desde o ensino fundamental. Para ele, as olimpíadas proporcionam novas experiências acadêmicas que ajudam a aprofundar os conhecimentos. “Essas competições representam uma oportunidade de crescimento pessoal e acadêmico que qualquer aluno deveria ter acesso”, defende João Victor, ressaltando sua importância para “o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da educação em Pernambuco”, disse ao JC.
A vitória individual de um estudante pode ser a chave para o desenvolvimento coletivo, como sugere o nosso atleta do saber.