Com quase 45% da população em situação de pobreza, e perto de 10% em pobreza extrema, a Região Metropolitana do Recife (RMR) continua sendo uma das mais vulneráveis do país. O que não destoa de uma situação regional que reflete a desigualdade brasileira. De acordo com o levantamento da PUCRS Data Social, mais de um terço dos habitantes em todas as regiões metropolitanas do Norte e do Nordeste se enquadra no índice de pobreza. No entanto, a precária qualidade de vida dos pernambucanos aparece como destaque entre as piores, lançando desafios emergenciais e estruturais para os gestores públicos, do novo governo estadual que assumiu em janeiro, até os prefeitos e prefeitas que já passam da metade de seus mandatos.
A pobreza metropolitana, em Pernambuco, é um recorte do quadro socioeconômico de dificuldades no estado. Com dados de sobra a respeito da baixa renda, da falta de oportunidades e do sofrimento diário da população. No Grande Recife, a miséria está nas ruas, nas beiras dos rios e canais, na ocupação dos morros e margens de avenidas, à revelia dos riscos e das condições insalubres de moradia. Sem investimentos estruturadores para mudar a realidade, os governantes buscam, na maioria dos casos, soluções imagéticas e paliativas, que em pouco ou nada afetam a raiz da questão.
Apesar do cenário de degradação humana, ao menos uma leve recuperação se deu no ano passado, com muitas pessoas saindo da pobreza extrema, e da pobreza, em todo o território nacional, incluindo o Nordeste. Também foi o caso da RMR, e mesmo assim, os números continuam aviltantes. Calamidade a olhos vistos, os milhares de excluídos, chamados de invisíveis – porque sua dor não chama a atenção de muita gente – atravessam gerações em sobrevivência instável, penando para se alimentar, e impedidos de terem direitos básicos respeitados. E não são apenas os mais pobres, miseráveis, que sofrem. A pobreza de quase a metade da população metropolitana se traduz em acesso insatisfatório a saneamento, saúde, educação, trabalho, transporte, cultura e lazer. Quase não têm acesso à humanidade.
São considerados pobres os cidadãos que recebem, por mês, menos de R$ 636, e extremamente pobres, abaixo de R$ 199. Vê-se quanta gente precisa de apoio para o sustento mais básico, para quem até os itens considerados de necessidade, como de higiene, podem ser artigos de luxo. Na perspectiva da gestão pública, a emergência social deve anteceder à econômica, para resgatar a dignidade dessas pessoas – e a possibilidade de esperança. E na perspectiva da sociedade como um todo, para além das ações governamentais, a solidariedade é a chave para a construção de espaços de convivência em que a empatia seja a regra, e não a indiferença.
Em se tratando de um dado metropolitano, cabe a formulação de soluções metropolitanas. Alternativas de articulação entre o governo do Estado e os municípios, com a participação da esfera federal e de entidades não-governamentais, visando o enfrentamento conjunto de um problema complexo, que se for abordado conjuntamente, terá resultados mais satisfatórios, em menor tempo.