A exposição do trabalho artístico e de manifestações culturais em grandes espaços, para muita gente, vem de antigas tradições em diversas partes do mundo. Seja em feiras regulares ou circuitos itinerantes, as artes atingem maior público através de eventos produzidos com antecedência, com muito suor e dedicação envolvidos. Assim é nas turnês de grandes artistas da música ou do teatro, e mesmo nas pequenas e possíveis turnês de quem está começando e aproveita uma chance para divulgar seu trabalho. É assim, em grande escala, com os livros. A maioria dos autores e das editoras busca levar seus títulos aonde os leitores se encontram – e na ausência de livrarias em quantidade suficiente, num país como o Brasil, de leitores em formação, ávidos por leitura, os eventos se apresentam como nichos de oportunidade.
De hoje até o próximo dia 15, acontece a 14ª edição da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Iniciativas privadas que necessitam de apoio público e de outras empresas e entidades para se viabilizar, as bienais, as feiras e os festivais de literatura são momentos nobres para a movimentação do mercado editorial, em qualquer parte do planeta, ainda hoje. A especulativa sugestão de que os encontros de grande porte poderiam ser desprezados pelo público, feita anos atrás, por causa do advento de opções de compra pela internet, não levou em conta a demanda pela presença e pela proximidade – não só com o livro, mas com quem escreve, edita, vende, ilustra, monta e produz os livros. Cada publicação tem uma história maior do que a contida em suas páginas, e essa história não para de ser contada, sendo expandida a cada leitura e a cada encontro.
Os encontros literários geram ambientes de articulação, prospecção e desenvolvimento de relações e ideias. Uma bienal ou festival em torno dos livros amplia os potenciais da literatura, por exemplo, ao multiplicar perspectivas de leitura nos debates, ou oferecer cenários de interação para as crianças e os adolescentes, suscitando a descoberta de laços indispensáveis entre a literatura e a educação. Para quem aproveita, os eventos são festas incomuns em torno de motivos que entusiasmam os leitores. Para quem expõe, para quem participa no dia a dia da consumação de um planejamento de meses, um evento dessa natureza pode ser exaustivo, mas é sempre gratificante.
Este ano, a Bienal de Pernambuco traz o tema “Fome de quê? Você é o que você lê”, e como homenageados, Josué de Castro e Lia de Itamaracá. Uma intensa programação de lançamentos, debates e apresentações culturais é o chamariz para mais de uma centena de estandes com livros distribuídos em 9 mil metros quadrados no Centro de Convenções. Na última edição, em 2021, ainda sob restrições da pandemia de Covid, a Bienal teve uma movimentação de R$ 12 milhões em negócios. Para este ano, a expectativa é de mais público, devido à ampliação de expositores e dos nomes convidados para as atividades de conteúdo. A programação completa pode ser consultada no site bienalpernambuco.com.
A ampliação dos potenciais da literatura, permitida pelos eventos literários, por sua vez, expande os potenciais do indivíduo, e desanuvia o horizonte coletivo.