GUERRAS

A irrelevância da ONU

Assim como a invasão da Ucrânia pela Rússia foi condenada pelas Nações Unidas, qualquer resolução da entidade global sobre o conflito em Gaza não fará diferença

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JC

Publicado em 19/10/2023 às 0:00
Joe Biden desembarca em Israel para encontro com Netanyahu para falar sobre guerra no Oriente Médio
Joe Biden desembarca em Israel para encontro com Netanyahu para falar sobre guerra no Oriente Médio - Thiago Lucas

Como era previsível, a passagem do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por Israel, ontem, não deu em nada. Nem deixou de respaldar a guerra, garantindo o que Netanyahu tem chamado de “próxima fase”, nem se apresentou para realizar a mediação na direção da solução dos dois Estados, que levaria à formalização do reconhecimento da soberania dos palestinos, em Gaza e na Cisjordânia. No ápice de uma crise humanitária de largas proporções, agravada por manifestações populares em cascata, nos países árabes, depois da destruição de um hospital cheio de pacientes e equipes médicas – de autoria incerta, elevando a chama da disputa de narrativas – Biden manteve distância do problema, apesar de prometer continuar financiando as armas israelenses.
Enquanto isso, em Nova York, a Organização das Nações Unidas (ONU) segue buscando relevância para a diplomacia global. Sequer a pausa para atender aos feridos, prevista em resolução articulada pelo Brasil no Conselho de Segurança, pôde ser aprovada, apesar de contar com o apoio da ampla maioria dos integrantes do conselho. Como os integrantes permanentes têm a prerrogativa do veto, a representante norte-americana fez uso dela, e frustrou os brasileiros. Mesmo que fosse aprovada, no entanto, dificilmente seria posta em prática: as resoluções da ONU estão cada vez mais inúteis, sem consequências práticas, evidenciando o descrédito e a baixa influência política da entidade. Se dependermos da ONU para acreditar na paz, vamos continuar nos chocando com repetidas cenas de terror e guerra.
A Rússia pretende convocar a Assembleia Geral para votar uma moção contra Israel, da maneira como os próprios russos foram condenados pela invasão à Ucrânia. Se as mortes e a destruição do país de Zelenski prosseguem sem horizonte de término, é razoável supor que uma resolução pela suspensão do conflito na Faixa de Gaza não teria a menor consequência sobre a realidade. Neste caso, ainda mais, por causa da possibilidade de ações terroristas do lado de fora da região ocupada pelos palestinos, em Israel e em outros lugares. A aprovação de textos que levam dias para serem montados, infelizmente, reflete a incapacidade da diplomacia global, instalada na ONU, de atuar solidamente pela pacificação e pelos direitos humanos – como já fez no passado: o trabalho marcante de um brasileiro, morto em plena atividade, conta bem essa história. Mas Sérgio Vieira de Mello não estaria coletando assinaturas para fazer de conta que a ONU existe.
A irrelevância das decisões e das reuniões emergenciais de embaixadores graduados é um triste sinal de que a população mundial está entregue às más escolhas de líderes que não hesitam em optar pela retroalimentação do ódio e pelo aumento bilionário do gasto bélico, para transformar a defesa em ataques, e se comportar como terroristas, matando inocentes anônimos. As grandes potências do planeta já fizeram muito isso, sem se importar com os discursos e resoluções de nações unidas na paralisia.

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