CRISE CLIMÁTICA

Pequeno passo na transição energética

Documento final da COP28 em Dubai aceita pressão do petróleo, mas celebra um tímido avanço para a substituição dos combustíveis fósseis

Cadastrado por

JC

Publicado em 14/12/2023 às 0:00

A 28ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas terminou ontem, em Dubai, sem a contundência esperada pela eliminação gradual dos combustíveis fósseis baseados no petróleo, como pedem há décadas os ambientalistas, sob respaldo crescente da ONU. Sem o termo “eliminação”, a proposta final aprovada pela maioria dos mais de 200 países participantes do encontro é considerada um marco histórico da transição energética – termo já desgastado, no entanto, pela lentidão com que o processo se dá, em comparação com a elevação da temperatura média da superfície da Terra e suas consequências nas mudanças climáticas que vêm sendo registradas nos últimos anos em todo o mundo.
Havia pouca expectativa de que o documento conclusivo da COP28 refletisse o tom de urgência ambiental que se alastra com a maior incidência de fenômenos climáticos extremos. Mesmo assim, o acordo envolvendo a diplomacia ambiental e as ressalvas econômicas a uma mudança de curso civilizatória de grande porte traz o reconhecimento de uma direção consensual de redução do uso de combustíveis poluentes derivados do petróleo, e disseminação do aproveitamento das fontes renováveis e não poluentes. O objetivo é conter o risco de aumento ainda mais incisivo da temperatura planetária, cujos efeitos podem ser catastróficos para cidades litorâneas como o Recife, por exemplo, se o nível dos oceanos subir como se preconiza.
A formação de um consenso mínimo pode ser o primeiro passo na direção da transição energética tida como crucial para minimizar esse risco. O entendimento conceitual e, de certa maneira, protocolar, peca mais uma vez pela falta de comprometimento com o propósito vagamente assumido. Repetindo cenário bem conhecido, os países ricos não assumem a responsabilidade de pagar pela transição nos países pobres ou em desenvolvimento, deixando um abismo na viabilização da contenção do aquecimento global.
O número recorde mais de 90 mil pessoas inscritas no evento também contou com a atuação jamais vista de defensores e lobistas de empresas petrolíferas. Em Dubai, travou-se um duelo entre dois modelos econômicos, um vigente e poderoso, outro iminente e em ascensão. Ainda teremos o domínio da economia do petróleo por algumas décadas, ao que se extrai da COP dos Emirados Árabes. Evitar a emissão de gases provocada pelas fontes de carvão, petróleo e gás é a única saída vislumbrada por muitos cientistas para limitar o aumento da temperatura global em 1,5 grau Celsius. Caso a meta de triplicar a capacidade de energia renovável até 2030 – em apenas sete anos – seja alcançada, o que é bastante improvável, talvez o pequeno passo em Dubai se mostre maior do que se apresenta, agora, à diplomacia frustrada pelo pragmatismo e pela inércia.
É digno de nota a ausência de lideranças capazes de se contrapor à indústria negacionista das mudanças climáticas. O redirecionamento da civilização, caso se firme lentamente, nem se dará pela ciência, nem pelos ambientalistas, e sim por uma nova economia com a potência de fontes limpas.

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