Os esquemas de corrupção desvendados com o escândalo do petrolão, que se entranhou na Petrobras nos governos anteriores do PT no Planalto, receberam panos quentes e foram retirados da agenda política, como se o Brasil não tivesse mais corruptos confessos, flagrados pela Polícia Federal e com graves processos na Justiça. O efeito dessa revisão, contudo, pode ter consequências muito além dos conchavos políticos, passando para a população a sensação de que a impunidade voltou a ser a regra – se é que deixou de ser por algum momento, embora os cercos policiais e jurídicos tragam notas de esperança para um país mais sério e honesto.
Ao sair da pauta, a corrupção parece deixar de ser prioridade como algo a ser combatido. Como se não houvesse risco em governo algum, quando a história nacional insiste em repetir que todo governo, em qualquer esfera, está exposto aos ladrões, às negociatas e aos esquemas que se aproveitam até dos dramas e tragédias para roubar, sem dó nem limites. Em especial no âmbito de um partido que já envergonhou filiados com o mensalão, e viu a proliferação de corruptos em muitos de seus exercícios no poder, não apenas no nível federal. Mas não se vê, no PT, grande preocupação com o tema, o que levanta preocupação do lado de fora, para quem ainda se importa com o problema.
Desde 1995, a Transparência Internacional produz um relatório com o Índice de Percepção da Corrupção (IPC) em diversos países. Entre 180 nações, o Brasil figurou no ano passado na 104ª posição. É a segunda pior colocação desde a criação do IPC, numa faixa similar a países como a Ucrânia e a Sérvia, lugares que têm aparecido como expoentes de corrupção. A pontuação do Brasil foi 36, mais perto da última colocada, a Somália, com 11 pontos, tida como altamente corrupta, do que da primeira colocada, a Dinamarca, com 90 pontos, considerada a nação mais íntegra. A situação deveria incomodar não somente aos cidadãos, mas sobretudo aos gestores públicos, parlamentares e integrantes do Judiciário em nosso país, pois é a respeito deles que se fala quando a percepção da corrupção é notória e permanente.
A insegurança jurídica é uma das questões levantadas pela Transparência Internacional como facilitadoras da corrupção, assim como as decisões monocráticas do Supremo Tribunal Federal (STF). Por outro lado, a organização vê como sinais positivos a aprovação da reforma tributária, que poderia inibir os corruptos, e a atual investigação da Polícia Federal sobre os desvios na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Em postura de defesa, a Controladoria-Geral da União (CGU) recebeu o ranking com desconfiança, afirmando oficialmente que a corrupção é um assunto complexo, que não se revela em um índice. De fato. Tão complexo e presente na gestão pública brasileira que mereceria mais atenção dos governantes, dos políticos em geral, da Justiça e dos órgãos de controle.