Um mês e meio depois de escaparem da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, os ex-detentos Rogério Mendonça e Deibson Nascimento não precisam mais se preocupar com a ação em campo das Forças Nacionais em sua recaptura. O Ministério da Justiça e Segurança Pública, comandado pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, deu esse trabalho por encerrado, após o envio de mais de 500 agentes especiais para a região. A estratégia do governo federal mudou, diante do insucesso flagrante, para o foco em ações de inteligência – que devem ter sido conduzidas, também, em paralelo ao cerco nos arredores da prisão. Seria um disparate imaginar que até agora as operações não estivessem em sintonia com a inteligência na busca dos foragidos.
As dificuldades encontradas pela gestão da insegurança brasileira se afinam com as facilidades do crime organizado para circularem nos meandros do poder – que dirá, planejar e executar uma fuga de dois de seus componentes, mesmo de uma das fortificações consideradas indevassáveis, sob a administração federal. Aliás, a fuga foi tão bem-sucedida que é de se indagar por que não saem mais presos do sistema prisional regular, controlado – apenas no papel – pelos governos estaduais. Talvez não saiam porque não precisam, uma vez que dão ordens, podem se comunicar e muitos dos chefes de facções têm qualidade de vida comparável à que teriam do lado de fora. Para que sair?
No ano passado, quando o ministro da Justiça era o hoje ministro do STF, Flávio Dino – os poderes no Brasil de Lula são assim, intercambiáveis – um episódio da rotina ministerial chamou a atenção do mundo. A esposa de um líder do Comando Vermelho amazonense, conhecida como “dama do tráfico”, visitou o ministério e teve agenda com secretários do ministro. Ela também presidia uma ONG que atua em defesa do direito dos presos. Faz sentido. Embora a proximidade com o Planalto tenha sido repudiada e minimizada pelo governo, o fato é que o crime organizado no Brasil não apresenta escrúpulos para pisar em qualquer lugar, e mandar onde bem entender. Ou tirar da cadeia de segurança máxima quem quiser.
Reunidos com um só objetivo, as centenas de policiais federais e dos estados do Rio Grande do Norte, do Ceará, do Piauí, da Paraíba e de Goiás, deslocados para Mossoró, em revezamento 24 por dia, não conseguiram achar o paradeiro dos fugitivos, que são integrantes do Comando Vermelho. A mudança de foco para a inteligência, sem efetivo tão grande e caro utilizado por mais de 40 dias, não veio acompanhada de grandes explicações – nem da mesma ânsia por protagonismo e holofotes do começo da operação, nos primeiros dias após a fuga. Ao cidadão brasileiro, resta a expectativa de que a contenção de gastos signifique maior eficiência. E que as lições da derrota sejam compreendidas, para a reformulação estrutural e operacional da cada vez mais vulnerável segurança no país.