A população da Região Metropolitana do Recife está acostumada ao péssimo serviço de transporte público há muitos anos. O desconforto, a superlotação, os atrasos, o calor, o desrespeito e o abandono fazem parte do cotidiano de quem se desloca de uma cidade a outra, ou dentro da mesma cidade na RMR. A questão se repete em outras regiões do estado, com diferentes dimensões. Mas é no sucateamento do Metrô e na precariedade do serviço das linhas de ônibus que a situação do Recife e municípios vizinhos se apresenta como crítica – e apesar de antiga, sem sinal de melhora. O que está tão ruim já poderia ter sido amenizado de algum modo, mas não é o que o pernambucano vê.
A decadência do sistema de transporte público é acentuada pela violência, como destacou a colunista de Mobilidade do JC, Roberta Soares. A condição dos veículos de frotas velhas, sem manutenção, e o acúmulo de problemas sem a devida atenção dos gestores, termina atraindo criminosos para as viagens, que promovem assaltos e intimidações aos profissionais dos ônibus. Até os passageiros confundem o direito negado ao transporte decente com a prerrogativa, inexistente, de agressão a esses profissionais, como se fosse deles a responsabilidade pelas mazelas enfrentadas pelos usuários. O dever continua cabendo ao poder público, mesmo quando o serviço é prestado por concessão. Se o sistema não funciona – o que acontece faz tempo – é preciso mudar sua gestão, e é para isso que os governos são eleitos.
A ira dos passageiros que descontam a frustração nos motoristas é mais um fator de preocupação, em um quadro de deterioração que tem no aumento de assaltos um grave e persistente sintoma de descontrole. Se as empresas de ônibus não são contratadas para garantir a segurança nos deslocamentos, o governo do Estado não há de se eximir de buscar soluções emergenciais, antes que o problema cresça ainda mais. Além disso, a violência nos coletivos integra o cenário mais amplo de insatisfação com o serviço de transporte público, que faz com que os usuários migrem para aplicativos de carros e motos – no caso das motos, gerando outro problema: o congestionamento de vítimas nos hospitais, em decorrência da imprudência de motociclistas e passageiros nas ruas, ou simplesmente do maior volume de veículos sobre duas rodas num trânsito já complicado.
A insegurança no transporte público é da conta do governo do Estado, que gere a segurança para a população. O usuário de ônibus não deixa de ser um cidadão quando está lá dentro. Como a violência e a expansão da criminalidade em Pernambuco é um problema, também, antigo, a sobreposição de demandas eleva a cobrança da população.
Roberta Soares chama a atenção para o fato de que os passageiros dos ônibus são as vítimas preferenciais dos bandidos, uma vez que não há mais dinheiro relativo ao pagamento das viagens. “É uma guerra perdida. Para um sistema que já tem muitas mazelas operacionais para cuidar. Não precisa também da violência urbana”, expressa a colunista do JC, em tom de desabafo que certamente é compartilhado pelos usuários.