BIDEN X TRUMP

Em busca de novos líderes

Debate entre os dois principais postulantes à presidência dos EUA reflete a necessidade de renovação da representação política em vários países

Cadastrado por

JC

Publicado em 01/07/2024 às 0:00
Joe Biden e as eleições nos Estados Unidos - Thiago Lucas

Mais que saber quem perdeu ou ganhou o primeiro debate entre Donald Trump e Joe Biden, na corrida à Casa Branca, mesmo sem as candidaturas oficializadas, a repetição de temas e de abordagens, e a saturação da imagem dos principais nomes da política norte-americana hoje, despontam como evidências de que falta renovação na disputa. Tanto para o eleitorado nos Estados Unidos, quanto na observação de um fenômeno que não se restringe a uma das maiores potências econômicas e bélicas do planeta. A representação política que não se renova aponta para um beco sem saída, estreitando a visão dos problemas e parecendo limitar o alcance da democracia.
O desempenho do atual presidente contra o seu antecessor provocou desanimação no partido, e em muitos eleitores democratas, enquanto os republicanos festejaram por antecipação, vislumbrando embates semelhantes com a proximidade do pleito, que acontece em novembro. Para quem é de fora, o duelo retórico explicitou a dificuldade de ambos em proporcionar confiança nas afirmações, e levar ideias novas para questões que nem um, nem outro, sabem como resolver, a exemplo da pressão dos imigrantes, do comércio global tendo o protagonismo da China, e do aumento das demandas sociais no país.
Vale dizer que não se trata de questionar a legitimidade de uns dos dois na posição que conquistaram junto aos cidadãos. Muito menos de etarismo aplicado ao contexto eleitoral. O debate maior que o debate Biden x Trump suscita é o da capacidade das instituições nacionais promoverem a renovação da democracia, através de nomes que possam dar continuidade à tradição de conquistas democráticas ao longo de uma história que, apesar dos reveses, apresenta certa linearidade. No Brasil, por exemplo, não se sabe quem pode ser o sucessor de Lula, no PT, após três mandatos presidenciais – e nem fora do PT, quando se abre o espectro partidário sem a outra extremidade populista, de Jair Bolsonaro. Há um vácuo no centro brasileiro, como há um vácuo na política norte-americana, com democratas e republicanos aparentemente despreparados para alcançar o futuro, sem terem pavimentado o caminho até ele.
A política não prescinde da virtude dos sábios, ou do aconselhamento maduro de quem carrega experiência e discernimento construído ao longo de anos de escolhas que significam erros e acertos. Mas a insatisfação que se verifica em várias nações, em relação aos limites do processo democrático, ao ponto de ascenderem e se elegerem lideranças que negam a democracia logo que se aproveitam dela para almejar ou assumir o poder, talvez configure uma insatisfação indicativa, dentre outras coisas, da falta de opções de representatividade. Nações reféns dos mesmos partidos, partidos reféns dos mesmos líderes, que por sua vez não se preocupam com a base de formação de lideranças para dar sequência às suas ações e pensamentos, promovem um ciclo de decadência que afeta a própria democracia. Para sair disso, novos nomes são imprescindíveis.

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