MERCOSUL

Desencontro político na economia

O desenvolvimento que poderia ser impulsionado no grupo de países do bloco fica em segundo plano, diante de querelas e diferenças ideológicas

Cadastrado por

JC

Publicado em 09/07/2024 às 0:00
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Em discursos desafinados há anos, o objetivo essencial do Mercosul se encolhe, atrapalhado por disputas de egos e governos que não conseguem ver além de seus próprios mandatos. A falta de visão de longo prazo dos líderes vem minando a eficácia de um bloco criado, entre outros propósitos, para alavancar a competitividade das nações integrantes, melhorar as condições de negociação com grandes países, como os Estados Unidos e a China, e com a União Europeia, resultando em ambiente favorável ao desenvolvimento social conjunto, e não apenas de um só país.
O encontro de cúpula realizado no Paraguai para tratar do Mercosul foi mais uma oportunidade perdida. Se a visão estreita de um presidente recém-eleito, como Javier Milei, da Argentina, sabota explicitamente o bloco ao não comparecer do evento, a repetição de disputas políticas sem perspectiva de conclusão continua fazendo da reunião de líderes nacionais um encontro protocolar para o aproveitamento de discursos posados, de preferência para atacar adversários locais. Assim, os objetivos maiores, que deveriam ser prioritários, ficam de lado, à espera de que os políticos desçam de seus palanques e resolvam cuidar dos assuntos devidos.
É fundamental que uma iniciativa como o Mercosul esteja além de ameaças isoladas de um presidente crítico de seus princípios. O mais importante trabalho diplomático no âmbito do bloco é fazê-lo consensual, a fim de obter os melhores resultados para as populações integrantes. A necessidade do Mercosul não deveria nem ser questão, num cenário globalizado em que a existência dos blocos regionais é estratégica para posicionamentos de maior potencial de negociação. Por outro lado, o confronto ideológico tradicional entre livre-comércio e protecionismo não se sustenta, em vista da variação de problemas e aplicações no ambiente global. Discursos populistas numa direção ou noutra não ajudam na construção de bases sobre as quais os interesses de um conjunto de países devem ser debatidos e, na medida do possível, contemplados, tendo visto o favorecimento de todos.
A chegada de mais um país – a Bolívia – não atenuou o descaso do presidente da Argentina. A configuração do bloco pode servir ao fortalecimento da democracia no continente sul-americano, no entanto, a defesa do processo democrático não é suficiente para a consolidação de um bloco econômico. Sem coesão interna, será difícil avançar em acordos com os europeus e os chineses, por exemplo. Isso é pior para todos os países do bloco, e não apenas para a Argentina. A cultura da integração somente será revigorada se os líderes nacionais cessarem o bate-boca, dando preferências às suas equipes de governo para costurar as condições requeridas para a evolução do bloco. O Mercosul precisa de gestão, de mais política de Estado e menos política de palanque que une os radicais em declarações que enchem as manchetes, alimentam as redes sociais, e não produzem nada de bom para os países.

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