Na manhã deste sábado (28), os 23 alunos pernambucanos que estavam na Espanha, participantes do Programa Ganhe o Mundo, do governo estadual, desembarcaram no Aeroporto Internacional do Recife.
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A volta dos alunos, que viajaram no último dia oito de fevereiro para o país europeu, se deu por conta da pandemia do novo coronavírus. A Espanha, segundo levantamento do Ministério da Saúde espanhol feito neste sábado, é o país com o segundo maior número de mortes pela Covid-19 no mundo, com 5.690 óbitos, ficando atrás apenas da Itália, com mais de 10 mil vítimas.
A reportagem do Jonal do Commercio conversou com Micheline Moura, Técnica de Infermagem e mãe de Rômulo, de 17 anos, um dos estudantes regressos da Espanha. De acordo com Micheline, os adolescentes foram recebidos com uma palestra sobre cuidados para a não transmissão do vírus, já os pais foram orientados pela Secretaria de Saúde do Estado a manter os filhos em isolamento domiciliar durante sete dias, sem nenhum contato físico com a família, "o que mais dói é isso, não poder dar nem um abraço nos nossos filhos". A mãe de Rômulo ressaltou ainda que nenhum esclarecimento ou orientação foi feito por parte do governo pernambucano referentes ao intercâmbio, "o que causa mais frustração no meu filho, além deste retorno antecipado e inesperado, é o fato de desconhecer as futuras providências sobre o intercâmbio. Não nos disseram nada sobre um possível retorno, reembolso ou quaisquer outras informações rementente ao programa", completou.
DEMAIS ALUNOS DO PROGRAMA
Em meio à pandemia de coronavírus, pais de alunos que participam do Programa Ganhe o Mundo, do governo estadual, estão apreensivos em relação à segurança dos filhos que se encontram fora do Brasil. Atualmente há cerca de 700 estudantes no intercâmbio, em nove países, sendo um terço nos Estados Unidos (236 jovens), país que desponta com o maior número de casos confirmados do covid-19 no mundo (82 mil pessoas).
Quatro grupos que deveriam ter viajado neste mês para Canadá, Espanha, Estados Unidos e Nova Zelândia, totalizando 94 estudantes, nem arrumaram as malas. Com o avanço da doença e a suspensão de aulas em diversos países, o governo estadual avaliou que não valeria a pena manter a viagem desses alunos. Um outro grupo com 12 jovens que integravam o Ganhe o Mundo Esportivo viajou para o Canadá no dia 13 para ficar oito semanas, como prevê essa modalide, voltada para atletas. Mas retornou na última terça-feira (24) também porque encontraram colégios fechados e sem condições de manterem os treinamentos esportivos.
"Fomos avisados de última hora que teríamos que voltar. Soube terça-feira. Nossos pais também. Viemos num ônibus que passou em Málaga, Córdoba e Granada. De Córdoba viemos de trem para Madrid, onde iremos até São Paulo e depois Recife. A gente queria ficar porque era nosso sonho. Mas não nos deram alternativa de permanecer ou não na Espanha. Agora temos um futuro incerto sobre o intercâmbio", comentou uma das alunas, de 17 anos. Ela conversou com o JC na noite desta sexta-feira (27), enquanto esperava o vôo no aeroporto de Madrid. Pediu para não ser identificada. "Cheguei no dia 9 de fevereiro. Tive só um mês e poucos dias de aula. Não deu tempo de aproveitar muito", lamentou a jovem.
FRUSTRAÇÃO
A dona de casa Josenilda Maria Silva, 35, conta que foi surpreendida com a notícia de que o filho Maykon Henrique da Silva, 17, voltaria dos Estados Unidos. "Na terça-feira à tarde eu estava conversando com ele numa chamada de vídeo quando ligaram da coordenação do Ganhe o Mundo. Disseram que ele voltaria no dia seguinte. Falaram que Maykon estava numa área de risco do coronavírus e era para voltar", explica Josenilda. "Acabou um sonho. Foi uma luta para meu filho conseguir viajar. De uma hora para outra colocaram o menino num avião e mandaram para casa, correndo risco de contágio porque foram quatro vôos. Até agora não entendi direito o que aconteceu", diz Josenilda, moradora de Paulista, no Grande Recife.
A cabeleireira Ana Paula Nazário, 42, está preocupada com a filha de 17 anos que foi para o Chile. A garota viajou no último dia 16, dois dias antes de o governo estadual suspender as aulas nas escolas pernambucanas justamente por causa do coronavírus. "Perguntei se ela tinha certeza de que queria ir. A questão é que esses jovens se dedicaram muito para passar no Ganhe o Mundo. Todos sonhavam com o intercâmbio. Mas quando ela chegou lá nem conheceu a escola, nenhum colega. Encontrou a cidade parada, com tudo fechado e a perspectiva é só ter aulas em maio", comenta Ana Paula. "Ficamos angustiados porque a coordenação do programa não nos dá muitas informações", observa.
Maria Júlia Holanda, 17, está no Alasca, nos Estados Unidos, desde 17 de janeiro. Há duas semanas não tem aula presencial. Apenas videoconferências com os professores e a turma às segundas, quartas e sextas. Ela diz que não sabe se quer voltar. "Estava vivendo um sonho que se transformou em pesadelo. Estou longe da minha família e da minha casa. O intercâmbio estava sendo incrível até começarem a surgir os casos de coronavírus. Havia nove pessoas doentes na minha cidade, Anchoraze. Em poucos dias passou para 30", relata Júlia.
MONITORAMENTO
O secretário de Educação de Pernambuco, Frederico Amancio, informa que os 730 intercambistas estão sendo monitorados diariamente pela equipe do Programa Ganhe o Mundo. "Já fazíamos esse acompanhamento regular, mas com o coronavírus passamos a conversar todos os dias com as agências daqui do Brasil que mantêm contato com as agências dos países onde temos alunos", explica Frederico. "Não existe nenhum posicionamento de trazer os estudantes de volta. Estão todos bem e a maioria quer continuar no programa", diz o secretário de Educação.
Questionado sobre o retorno dos alunos da Espanha, ele informou que não iria comentar. Sobre os seis jovens que vieram dos Estados Unidos na última quinta-feira, Frederico disse que as famílias dos estudantes informaram que não tinham como continuar recebendo-os, algumas com a justificativa do covid-19. "Em outro momento nós iríamos tentar colocá-los com outras famílias, mas devido à pandemia, achamos melhor que voltassem", justifica o secretário.
NÚMEROS
8 mil estudantes já participaram do programa
10 países participam, sendo cinco de língua inglesa (Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Canadá e Inglaterra), quatro de língua espanhola (Espanha, Argentina, Chile e Colômbia) e um de língua alemã (Alemanha).
ONDE E QUANTOS SÃO OS ALUNOS HOJE DO GANHE O MUNDO
236 nos Estados Unidos
161 Canadá
116 Chile
84 Austrália
48 Nova Zelândia
27 Argentina
23 Espanha
20 Colômbia
15 Inglaterra
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