A adoção de medidas para conter o novo coronavírus parece ter piorado a situação das agências bancárias do Recife. Em meio ao período de pagamento de benefícios como aposentadoria, pensão e auxílio-doença do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que começou no dia 25 de março e vai até o dia 7 de abril, e no último dia do Saque Imediato do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o cenário nos bancos, privados e públicos, nesta terça-feira (31), é de filas grandes, falta de orientação e aglomerações, mesmo com recomendações do Ministério da Saúde para manter população, principalmente idosos, em quarentena para evitar contaminação da covid-19.
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A reportagem do JC percorreu diversas agências da capital pernambucana e ouviu de idosos que eles estão enfrentando filas maiores do que antes do período da pandemia da covid-19. É o caso do aposentado Manoel Marcolino, de 63 anos, que esteve na Caixa Econômica Federal da Praça da República, no Centro do Recife. "Vim desbloquear um cartão. Eu acho melhor vir do que ligar, nunca atendem. Estou achando que tem muita gente aqui, mais que o normal. A Caixa, infelizmente, não tem ninguém para resolver esse negócio e não tem nenhuma orientação para a gente", lamentou.
As agências da Caixa Econômica Federal de todo o país tiveram o horário de funcionamento alterado, desde a última terça-feira (24). Agora, funcionam das 10h às 14h, com atendimento presencial restrito apenas para casos que não podem ser tratados remotamente. A instituição manteve a abertura antecipada em 1 hora, a partir das 9h, para atendimentos de clientes de grupo de risco. Porém, o pedreiro Fernando Henrique Bernardo, 65, relata que o horário preferencial não foi respeitado no prédio da Praça da República e reclamou da falta de cadeiras. "Eu vim receber um dinheiro, mas [o atendimento para] idosos, que deveria começar às 9h, aqui começou às 10h. Deveríamos estar sentados, mas ficamos no sofrimento em pé", afirmou ele.
Durante o período de quarentena, exigido pelo Governo Federal e Estadual por orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS), bancos do País estão adotando medidas como a antecipação do horário de atendimento e desaconselhando os saques para reduzir o risco de contágio devido à aglomeração de segurados, principalmente os idosos, nas agências bancárias. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) recomendou ao público, no último dia 20 de março, sempre que possível, evitar o comparecimento nas agências e dar preferência aos canais eletrônicos.
Para o aposentado Alexandre Medeiros, de 62 anos, que esteve na agência da Caixa na Encruzilhada, na Zona Norte do Recife, o uso do meio digital não é possível. “Vim fazer um saque e um depósito na conta de uma pessoa. [Não dá para fazer pela internet] porque meu processo é diferente, já que vou sacar da poupança. Só essa necessidade me fez sair de casa hoje”, relatou. O aposentado frequenta o local e relata que o movimento estava mais intenso do que em outros dias. “Está absurdamente diferente. Está pior hoje”.
Nessa segunda (30), o Senado Federal aprovou o “coronavoucher”, auxílio emergencial de R$ 600 que será fornecido durante três meses aos trabalhadores autônomos informais, que tiveram que paralisar as vendas durante a pandemia. O valor, que ainda não tem data ou operação para retirada definidas, será sacado através dos bancos públicos federais, o que trará ainda mais pessoas às agências, como expõe a presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco (Bancários-PE), Suzy Rodrigues. “É a Caixa e o Banco do Brasil que vão fazer o pagamento desse programa da emergência. Então, além dos clientes que [as agências] já têm, vão atender uma demanda de pessoas que precisam do auxílio do governo”, explicou.
Para atenuar aglomerações, o Bancários-PE propõe que bancos adotem atendimentos pré-agendados ou por telefone, para que clientes não esperem em filas. “Temos pedido que os bancos façam atendimento por telefone, agendando para aposentados e pensionistas, para que não precisem ficar nas filas. Quando você faz o atendimento agendado, você evita aglomerações”, defendeu a presidente, que diz também ter solicitado que instituições realizem campanhas para orientar as pessoas a realizar operações bancárias por meio da internet. “Queremos que os bancos realizem uma campanha para orientar os clientes sobre o risco da contaminação do coronavírus e uso dos meios digitais. Se fizerem isso, vai ajudar bastante”, expôs.
No caso dos bancos privados, a situação não é diferente. No Itaú da Estrada de Belém, na Zona Norte do Recife, a fila, com adultos e idosos, dava voltas e houve até empurra-empurra. O pensionista Isaque Augusto de Souza, de 57 anos, estava esperando atendimento há cerca de uma hora e denunciou falta de orientação. “Está me incomodando. Podia ser minha mãe, meu pai ou meu avô. Tinha um cidadão escorado na parede, faltando fôlego”, disse. “Se o banco proporciona caixas eletrônicos, tem que ter operador. Porque no meio dos aposentados e pensionistas tem pessoas leigas, que não sabem digitar uma senha ou não enxergam. Não tem ninguém lá orientando”, completou.
Já nas casas lotéricas que a reportagem visitou, tanto no Centro quanto na Zona Norte do Recife, o movimento era brando. Na da Encruzilhada, havia cerca de vinte pessoas aguardando nas filas. Edineide Maria de Souza, de 37 anos, foi até o local para saber se já recebeu a primeira parte do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS, que será pago apenas em abril, conforme anunciado pelo Ministério da Economia. “Eu vim ver se o décimo terceiro já está na conta”, disse. Edineide, que vai sempre à mesma casa, notou que havia mais pessoas no local, mas que ainda assim o atendimento estava rápido. “Eu venho mais aqui e hoje tem muita gente, sempre quando venho, tem menos. Mas cheguei há 20 minutos e não [teve agonia]”, confessou.
A reportagem do JC solicitou resposta à Caixa Econômica Federal e ao Itaú sobre as denúncias contidas nesta matéria, e aguarda posicionamento dos bancos.
Veja o que recomenda a Febraban
A Febraban e os bancos recomendam a seus clientes e usuários do setor bancário que atendam às orientações das autoridades sanitárias, evitem deslocar-se para as agências bancárias e deem preferência para usar produtos e serviços dos bancos pelos canais digitais destinados à população.
Por meio do celular e internet, os usuários podem fazer, com segurança, agendamento e pagamento de contas, consulta de saldos e extratos, transferências financeiras, contratação de serviços e empréstimos, entre outros serviços. Nos aplicativos e internet banking, os clientes poderão encontrar ferramentas úteis para todas as necessidades, além de ter acesso a comunicados e canais de atendimento.
Ao evitar voluntariamente ir às agências bancárias, todos colaborarão para que os bancos possam dar prioridade ao atendimento aos grupos mais vulneráveis, protegendo todos, inclusive os bancários, com a redução do fluxo de pessoas necessárias aos esforços contra a disseminação do vírus COVID-19.
Em caso de urgência e necessidade, a rede de autoatendimento (ATMs), com seus 170 mil terminais espalhados em todo o país, também está à disposição da população para saques e depósitos. Para proteger os clientes, foi intensificada a higienização desses terminais, seguindo a orientação de aperfeiçoar e intensificar os protocolos de higienização das instalações bancárias.
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