Em assembleia, rodoviários da empresa Metropolitana não saem às ruas e afetam 130 mil passageiros

Esta é a segunda reunião realizada pelo Sindicato dos Rodoviários. Nessa quarta, ocorreu em frente à empresa Caxangá, em Olinda
Mayra Cavalcanti
Publicado em 05/03/2020 às 7:15
Motoristas da Metropolitana questionam a dupla função nos ônibus Foto: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM


Motoristas e cobradores de ônibus realizaram uma assembleia, na manhã desta quinta-feira (5), em frente à garagem da empresa Metropolitana, que fica no bairro do Barro, na Zona Oeste do Recife. Devido a isto, os ônibus da empresa não circularam no início da manhã. Cerca de 400 trabalhadores, entre motoristas, cobradores e fiscais, estiveram no local. As linhas da Metropolitana atendem áreas do Recife e de Jaboatão dos Guararapes. Por volta das 8h20, os trabalhadores voltaram às atividades.

>> Entenda o impasse entre rodoviários e a Urbana-PE

Esta foi a segunda reunião realizada pela categoria nesta semana. Na manhã dessa quarta (4), eles estiveram em frente à empresa Caxangá, em Olinda. "Esta é mais uma assembleia. São assembleias setoriais, por garagem, para que a gente possa discutir com os trabalhadores se eles aceitam ou não, se tem acordo ou não, em relação à dupla função. Também vamos discutir o início da campanha salarial, começar a fazer a construção da nossa pauta", relata Aldo Lima, presidente do Sindicato dos Rodoviários.

Sobre a paralisação, o Grande Recife Consórcio de Transporte informou que 130 mil passageiros foram afetados. A empresa Metropolitana funciona com 49 linhas e circula pelos Terminais Integrados do Barro, da Macaxeira e de Jaboatão. Com o auxílio de outras empresas, o órgão reforçou 12 linhas que estão paralisadas devido à assembleia. São elas: 

200 – Jaboatão (Parador)

252 – Vila Rica/Jaboatão

321 – Jardim São Paulo (Abdias de Carvalho)

101 – Circular (Conde da Boa Vista/Rua do Sol)

116 – Circular (Príncipe)

117 – Circular (Prefeitura/Cabugá)

243 – Vila Dois Carneiros

312 – Mustardinha

313 – San Martin (Abdias de Carvalho)

202 – Barro/Macaxeira (Várzea)

232 – Cavaleiro

207 – Barro/Macaxeira (BR-101)

324 - Jardim São Paulo (Piracicaba)

Aldo Lima acrescenta que a dupla função está adoecendo os motoristas. "É um ataque brutal aos trabalhadores, é o maior retrocesso no sistema de transporte público, porque a dupla função não é avanço, a dupla função é um retrocesso. Isso adoece os motoristas, traz riscos a eles e, consequentemente, muito risco à população. Eles não vão ter mais atenção exclusiva ao trânsito e vão ter que exercer outras atribuições, além de ter que dirigir e transportar as pessoas com segurança", acrescenta o presidente do Sindicato.

Devido à paralisação, alguns passageiros que foram ao Terminal Integrado do Barro não tiveram como chegar aos compromissos. Uma delas é Carolina Cássia, de 23 anos, que trabalha no Hospital Otávio de Freitas, no bairro do Tejipió, também na Zona Oeste do Recife. "Geralmente o ônibus demora uns 20 minutos para passar, mas só soube da paralisação quando cheguei aqui. Vou ter que voltar para casa, porque eu só tenho uma opção para ir para o trabalho", relatou. No TI, apesar de ser bastante movimentado em dias sem paralisação, a movimentação de passageiros era tranquila.  

Outra pessoa que ficou sem opção de transporte foi a cuidadora de idosos Sandra da Silva, de 49 anos. Ela foi ao TI para chegar ao bairro do Totó. "Cheguei aqui e os funcionários avisaram. Vou tentar pegar outro ônibus, mas enquanto isso vou ter que avisar no trabalho que não vou conseguir chegar", completou a passageira.

Apesar dos transtornos causados pela assembleia, muitos usuários concordam com a pauta dos rodoviários. "Eu acho que é válido. Além de estar sobrecarregando, é um desvio de função, porque o motorista não tem obrigação de estar passando troco. Isso tira a atenção dela e eu acho totalmente válido. Eu espero que eles consigam resolver alguma coisa. Eu sei que é complicado, mas imagina a situação. Querendo ou não, eram dois trabalhadores e agora é só um", comentou a estagiária de enfermagem Taciana Oliveira, de 28 anos.

O aposentado João Marques, de 56 anos, também se mostrou favorável às reivindicações da categoria. Ele aguardava um ônibus no TI Barro para seguir para o bairro do Ibura, na Zona Sul do Recife. "A paralisação foi boa para os cobradores voltarem. Sem cobrador, o motorista fazendo duas funções em uma só, só é bom para os donos das empresas. Eu sou a favor dos cobradores", acrescentou. 

De acordo com o Grande Recife Consórcio, 215 linhas de ônibus circulam sem cobrador na Região Metropolitana do Recife (RMR) atualmente e 1.264 condutores acumulam função. Para desempenhar as duas atividades, o motorista recebe um acréscimo de R$ 135 no salário, como, segundo o órgão, foi acordado em convenção coletiva. O Consórcio ainda diz que apenas linhas com baixa demanda de pagamento em dinheiro não possuem mais os cobradores.

O Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado de Pernambuco (Urbana-PE) afirmou, por meio de uma nota, que repudia a ação dos rodoviários em paralisar as atividades. O órgão ainda declarou que não houve demissões de cobradores. Confira a íntegra da nota:

A Urbana-PE repudia a insistência do Sindicato dos Rodoviários em penalizar a população e economia local ao politizar um tema negociado e aprovado pelos próprios rodoviários na convenção coletiva da categoria.

Urbana-PE reitera que não houve demissões de cobradores motivadas pelo alteração no procedimento de embarque. Ao contrário, os profissionais estão sendo capacitados e aproveitados em outras funções, isto é, a mudança repercutiu em promoções e ganhos reais para os operadores.

Reforçamos que, atualmente, mais de 78% dos passageiros utilizam os cartões VEM para embarcar e que o setor continua investindo na ampliação da rede de venda de créditos eletrônicos e incentivando o uso dos cartões VEM, que confere maior agilidade e segurança à operação. A admissão do eventual pagamento em dinheiro é uma forma de garantir uma alternativa para o embarque de todos os nossos clientes.

A Urbana-PE informa ainda que um esquema de contingência foi montado para garantir o atendimento às principais linhas prejudicadas pela paralisação desta quinta-feira. A Urbana-PE e suas associadas reforçam que envidarão os esforços necessários para garantir o serviço e reduzir os prejuízos à população.

 

 

Empresa Caxangá

Nessa quarta-feira, a assembleia aconteceu em frente à empresa Caxangá, no bairro de Peixinhos, em Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Os ônibus também não circularam e a situação só foi normalizada às 8h, quando os motoristas e cobradores retornaram às atividades. A assembleia foi realizada para discutir com a categoria a dupla função realizada pelos motoristas.

Segundo o Sindicato, um comunicado interno da empresa Caxangá informou que, desde o último dia 29 de fevereiro, os cobradores de várias linhas de ônibus foram retirados e, por isto, foi realizado o protesto. A empresa opera com 54 linhas, transportando 180 mil passageiros diariamente.

Impasse entre rodoviários e Urbana-PE

Para entender as polêmicas envolvendo a retirada dos cobradores das linhas de ônibus do Grande Recife, é preciso retornar ao ano de 2016. Em julho daquele ano, a primeira linha, a 901 - TI Abreu e Lima/TI Macaxeira, deixava de trafegar com os profissionais, em uma tentativa do Governo de Pernambuco e do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado de Pernambuco (Urbana-PE) de diminuírem a circulação de dinheiro dentro dos veículos, estimulando o uso do Vale Eletrônico Metropolitano (VEM) e, consequentemente, reduzindo os assaltos.

Em março de 2017, o anúncio de mais oito linhas aderindo à, então, novidade, fez com que o governador Paulo Câmara determinasse que a retirada dos cobradores fosse suspensa. O pedido ocorreu em abril de 2017, quando 32 linhas já trafegavam apenas com os motoristas. A retirada dos profissionais, à época, chamou a atenção do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Mesmo com a suspensão, duas linhas deixaram de ter cobradores em dezembro do mesmo ano.

O histórico de protestos realizados pelo Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco contra a demissão dos profissionais, e mais recentemente contra o acúmulo de função por parte dos motoristas, o que a categoria chama de dupla função, não é pequeno. Mesmo com a determinação do governador, em 2017, foram quatro manifestações relacionadas ao tema, entre março e abril.

Com a retomada da saída dos cobradores das linhas, que ocorreu em maio de 2019, e a intensificação da retirada, em novembro do ano passado, vieram novas manifestações relacionadas ao tema. Além dos protestos, ocorreu também a eleição de um novo representante para o Sindicato dos Rodoviários, que até então era comandado pelo presidente Benilson Custódio. Foi durante a gestão dele, inclusive, que foi acordando com os empresários de ônibus, em convenção coletiva dos motoristas e cobradores, e em seguida validada pelo governo de Pernambuco, a dupla função. Nas assembleias realizadas em julho de 2019, inclusive, houve a proposta de aumento em 35% na gratificação dos motoristas que tivessem acumulando função, que ganhavam R$ 100 até então.

Com as eleições, desde o dia 23 de dezembro de 2019, o novo líder da categoria é Aldo Lima, que já comandava algumas das manifestações realizadas pelos rodoviários, mas como oposição ao Sindicato. De outubro de 2019 a dezembro, foram seis mobilizações, em diversos pontos do Recife. Em 2020, já foram dois atos, sendo um em fevereiro e outro realizado na manhã desta quarta-feira (4), em frente à empresa Caxangá, no bairro de Peixinhos, em Olinda.

Diante de todo o histórico, mesmo após suspensão e retorno da retirada dos cobradores, protestos da categoria e a convenção coletiva, o que impera é o impasse. De um lado, os rodoviários alegam que vão continuar mobilizados e que são contrários à dupla função e à demissão dos cobradores. De outro, a Urbana-PE e do Grande Recife Consórcio dizem que o acúmulo foi acordado com a categoria, que aceitou o acordo durante a convenção coletiva.

Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory