O isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus, como tentativa de conter o avanço no número de casos da doença, acendeu um alerta de quem presta apoio emocional e atendimento psicológico no Recife. Devido à impossibilidade temporária do encontro físico, muitos serviços passaram a oferecer atendimento e acolhimento às pessoas por meio de chamadas telefônicas ou pela internet.
É o caso do Projeto Incubadora do Serviço Escola do curso de psicologia da Faculdade de Ciências Humanas Esuda, que fica no bairro de Santo Amaro, no Centro do Recife. O serviço, devido à pandemia do novo coronavírus, disponibilizou o telefone de 18 psicólogos cadastrados no Conselho Regional de Psicologia para fazer atendimento psicológico gratuito. De acordo com a coordenadora do Serviço Escola e do serviço de plantão, Selme Lisboa, a procura tem sido muito grande, principalmente em decorrência de crises de pânico.
"Nesse momento de crise, a gente criou o plantão online feito por profissionais. Os atendimentos são por ligação, mensagem ou áudio no WhatsApp. A gente tem atendido pessoas até de fora do Brasil e também profissionais de saúde, que estão extremamente fragilizados. A população em geral está fragilizada. Justamente por isto estamos oferecendo o atendimento, para que as pessoas tentem dividir esta angústia, para que possam compartilhar", explica a coordenadora.
Ela afirma que o isolamento é um momento delicado e mobilizador. "A ideia do confinamento já é muito difícil, além da possibilidade de qualquer pessoas ser contaminada pelo vírus. O nosso objetivo é prestar este serviço à comunidade de forma ética", acrescenta Selme. O Serviço Escola existe há anos e realiza atendimento psicológico e plantões, ambos presenciais. Selme conta que o plantão online gratuito seguirá enquanto durar o confinamento e, em seguida, será retomado o serviço na instituição.
O Projeto Escutatória, que oferece escuta e suporte emocional nas ruas do Recife, também passou a oferecer o apoio online, por meio da plataforma Zoom. Na quinta-feira (26), a partir das 20h, o interessado poderá entrar no site e ser ouvido por pessoas treinadas para realizar esta escuta. "Não é um projeto de psicólogos, é de escuta afetiva, escuta de rua. A gente vai para a rua, coloca as cadeiras e só escuta. Não é aconselhamento, não é terapia. As pessoas estão muito ansiosas, com medo, raiva, são sentimentos que estão permeando. E por isto muitos têm se sentido sobrecarregadas. Nosso projeto oferece um espaço de escuta, para que a pessoa possa colocar o que está sentindo", comenta a coordenadora-geral do Projeto Escutatória, Djenane Mendonça.
Ela afirma que o projeto conta com 60 voluntários e, para participar, basta ter empatia. "O Escutatória nasceu dessa ideia de escutar na rua. Damos esse apoio emocional através da escuta. Quando o escutador percebe que a pessoa está precisando de apoio profissional, eles entregam um folheto onde a pessoa pode encontrar a rede de apoio psicológico pública", completa. Assim como o projeto Escutatória, o Centro de Valorização da Vida (CVV) também faz esta escuta por telefone. De acordo com o coordenador de divulgação do CVV, Roberto Maia, o serviço continua funcionando e disponível 24h, por meio do número de telefone 188.
"A gente não tem como mensurar se houve aumento no número de ligações por causa do isolamento. Mas nossa rotina não mudou, continuamos atendendo. A gente só suspendeu o atendimento presencial e alguns voluntários mais idosos estão em casa", relata Roberto. Segundo ele, em Pernambuco, o CVV possui postos no Recife, em Caruaru, Garanhuns e em Petrolina, com 72 voluntários, entre especialistas, plantonistas e estagiários. "A situação do coronavírus tem sido um tema recorrente. A gente tem recebido muitas ligações em que as pessoas falam, comentam e querem desabafar em relação ao tema", ressalta o coordenador.
Serviço
Centro de Valorização da Vida (CVV) - 24h
Site: https://www.cvv.org.br/
Número de telefone: 188
Projeto Escutatória de Rua
Link para escuta online: https://zoom.us/j/828809056
Data: 26 de março de 2020, às 20h.