Acordar, fazer as tarefas do trabalho ou da escola e aproveitar o fim do dia em família. Assim têm sido a rotina da família do biólogo Clemente Coelho, de 53 anos, desde que ele, a esposa e as duas filhas, de 10 e 13 anos, entraram em quarentena. Há 13 dias, eles estão confinados na casa onde vivem, no bairro do Rosarinho, Zona Norte do Recife. Mas lidar com o trabalho, as demandas dos filhos e a convivência 24 horas por dia, explicam especialistas, não é tarefa fácil, e pode gerar conflitos familiares.
Professor da Universidade de Pernambuco (UPE), Clemente tem trabalhado de casa pelas manhãs. A esposa, Gisela Monteiro, 47, que é advogada, segue a mesma rotina. "Aqui em casa são quatro computadores. Além do meu e da minha esposa, as meninas também fazem as atividades da escola pela manhã, antes das atividades lúdicas", conta o biólogo.
Os fins de tarde são dedicados à família, com jogos e prática de atividades físicas. "Procuramos criar condições para que as meninas tivessem múltiplas escolhas, que pudessem decidir entre atividades físicas ou que exercitem a criatividade e a parte cognitiva", afirma. Para isso, até a disposição dos móveis foi mudada. "Tiramos as mesas e cadeiras da varanda, que virou nosso lugar de banho de sol pela manhã e à tarde, de esteiras para alongamentos."
Valentina e Pietra, filhas de Clemente e Gisela, foram orientadas e esclarecidas pelos pais sobre a pandemia e a necessidade de permanecer em casa. "Elas estão super conscientes. Queremos que elas aprendam que esse é um momento diferente, que exige paciência, saber conviver e dividir as tarefas de casa. É um momento de aprendizagem para todos", defende o pai.
Para a neuropsicóloga e professora do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes (Unit) Giedra Hollanda, estabelecer rotinas é o primeiro passo para lidar com o período de quarentena. "Acordar, tomar banho, tirar o pijama e fazer as atividades da escola ou do trabalho, antes de se dedicar às atividades da família, são exemplos." Segundo ela, separar locais da casa em que as atividade de trabalho e escola serão realizadas é outra solução para separar as responsabilidades dos momentos de lazer.
Na casa de Clemente, o maior desafio é conseguir conciliar o home office com a presença das crianças em casa. "O trabalho exige concentração e as meninas querem atenção." Para a psicóloga, esse é uma das questões mais comuns. "É importante estabelecer que aquele é um horário de trabalho, como se não estivesse em casa", orienta Giedra Hollanda.
De acordo com a especialista, é comum que conflitos aconteçam durante o período de quarentena. "O próprio confinamento propicia questões de animosidades, discussões e brigas, por se tratar de uma rotina diferente. A palavra-chave neste momento é paciência", orienta. "É preciso acolhimento e afeto para entender que esse é um momento de angústia e medo em todos, mas que vai passar."