CRÍTICA

Plano de reabertura da economia começa em Petrolina, mas especialista faz alerta: "não deveria ter sido retomada"

Devido a uma diminuição de casos e mortes, foi dado início ao plano de retomada econômica, composto por cinco etapas, que permitiu a reabertura de diversas atividades e serviços; especialista afirma que queda não foi suficiente

Katarina Moraes
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Katarina Moraes
Publicado em 01/06/2020 às 13:45 | Atualizado em 01/06/2020 às 16:50
MARCO AURÉLIO/RÁDIO JORNAL PETROLINA
Nesta segunda-feira (1º), estão liberados a voltar às atividades, com 50% da capacidade, o comércio, shopping, serviços públicos, parques públicos e templos religiosos - FOTO: MARCO AURÉLIO/RÁDIO JORNAL PETROLINA

A chegada do mês de junho em Petrolina, Sertão de Pernambuco, representou o retorno gradual da normalidade da vida comercial e urbana, após cerca de três meses com comércio não-essencial fechado pelo Decreto Estadual que entrou em vigor no dia 22 de março. Isto porque, a partir desta segunda-feira (1º), foi dado início ao plano de retomada econômica, composto por cinco etapas, que permitiu a reabertura de diversas atividades e serviços, desde que funcionem com 50% da capacidade e mantenham medidas de prevenção. A Prefeitura de Petrolina afrouxou a quarentena após ter observado uma queda nos indicadores de letalidade e contaminação pelo novo coronavírus no município. No entanto, cientista afirma que a diminuição não foi suficiente e que a medida pode ser prejudicial para o sistema de saúde, podendo causar uma reincidência da covid-19 na cidade.

O pesquisador do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (Lika-UFPE) e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Jones Albuquerque, explica que só se pode pensar na reabertura do comércio após quedas consecutivas de novos casos e mortes pela covid-19 durante o tempo de incubação do vírus, de duas semanas. “Precisa ter duas semanas, com dados diários e consecutivos, sem aumento de números de contaminação e óbitos. Cada vez que aumenta o número anterior, o prazo [de retorno das atividades] deve ser ampliado em duas semanas”.

Do dia 17 até o dia 31 de maio, no entanto, Petrolina apresentou nove dias de aumento, seja no número de infectados ou de óbitos, contra seis de queda, segundo os boletins divulgados e disponíveis no site da Prefeitura. O último dia de aumento no registro foi no sábado (30), um dia após o anúncio do retorno gradual da economia. Ou seja, segundo Jones Albuquerque, só deveria pensar na reabertura em, no mínimo, 14 dias. “No dia 30 deveria zerar a contagem [para reabertura do comércio] e começar a contar as duas semanas de novo”. O especialista afirma, ainda, que retorno antecipado pode causar em uma "reincidência" dos casos. "Do mesmo jeito que a gente demora a observar que está caindo, a gente demora a observar que está subindo". O primeiro caso de coronavírus em Petrolina foi registrado no dia 23 de março. De lá para cá, foram nove semanas com números crescentes nas ocorrências, indicando uma tendência de epidemia. Apenas a última semana de maio apresentou um movimento de estabilidade de casos com viés de queda.

Por nota, o prefeito Miguel Coelho (MDB) lembra que a liberação pode ser cancelada a qualquer momento, a depender da evolução do vírus, e que está condicionada à reavaliação quinzenal da Secretaria de Saúde. Caso seja constatado um crescimento relevante de casos, as atividades poderão ser fechadas novamente. "Será preciso um sentimento de responsabilidade coletiva para não regredirmos. Para avançar, todos terão que colaborar, não queremos retroceder nessas etapas, fechar o comércio de novo. Então, peço a comerciantes, empresários, enfim, toda a população para manterem o rigor nos cuidados, usar proteção e evitar ao máximo sair de casa. Poderemos superar juntos tudo isso, mas é necessário comprometimento coletivo", orienta o prefeito.

Até este domingo, a cidade contava com 253 casos e 8 mortes pelo coronavírus. Um fator importante na contagem dos casos é a subnotificação. Em todo o mundo, este é um empecilho para saber os reais números da covid-19. Do total de casos descobertos, 182 (72%) foram notificados pela testagem municipal e 71 (28%) pelo Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE). Até agora, o município realizou 5.614 mil testes, em um universo de 349 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o que representa que 1,6% da população foi testada. O percentual é semelhante ao do Recife, cidade com 1,6 milhão de habitantes e que testou 28 mil pessoas até esta segunda, ou seja, 1,75% da população, de acordo com a Secretaria de Saúde da cidade. A meta da Prefeitura de Petrolina é que, até julho, 10% da população seja testada. Nas últimas duas semanas, a cidade sertaneja realizou em média 2.200 testes.

O município conta com 15 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), 10 no Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco e outras cinco em hospital privado, contratadas pelo Governo do Estado. Segundo a prefeitura, a ocupação é, nesta segunda, de 66%, porém apenas 20% dos leitos são ocupados por pacientes de Petrolina, 40% é utilizada por pacientes da Bahia; e 6,6% por pessoas de outros municípios de Pernambuco. No último dia 25, foi inaugurado o Hospital de Campanha do município, com 100 novos leitos intermediários de enfermaria para tratamento exclusivo de pacientes com o novo coronavírus. Agora, apenas três pacientes são tratados no centro médico.

Calendário de retorno

Nesta segunda-feira (1º), estão liberados a voltar às atividades, com 50% da capacidade, o comércio, shopping, serviços públicos, parques públicos e templos religiosos. O transporte coletivo por ônibus da cidade voltou a funcionar em 75% de ocupação. Já a agricultura, indústria, mototáxis, táxis, transporte por aplicativo e serviços essenciais poderão funcionar na totalidade de capacidade. No dia 15 de junho, está prevista a abertura de bares e restaurantes também com 50% da capacidade. Neste dia, poderá ser estendida a 75% a capacidade do comércio, shopping, serviços públicos, e templos religiosos. No dia 1° de julho, academias, cinemas, museus, bibliotecas, teatros, clubes sociais, ilhas e centros de artesanato serão liberados para funcionar com metade da ocupação. A Prefeitura afirma que uma nova avaliação será feita no dia 3 de agosto para determinar a ampliação da capacidade de todos os estabelecimentos. A última etapa de liberação gradativa está prevista para dia 31 de agosto, quando a Prefeitura de Petrolina disse que mais uma vez avaliará a liberação completa para todas as atividades, exceto eventos, festas, que permanecerão sem autorização por tempo indeterminado.

O comerciante Cícero Bahia da Silva, de 66 anos, dono de uma lanchonete na Praça do Bambuzinho, no Centro de Petrolina, diz temer a reabertura do comércio e que, mesmo prejudicado, prefere não abrir no dia 15, previsão para retomada de bares e restaurantes. “Eu estou muito preocupado com ele (coronavírus) e com o pessoal na rua. Gostaria que o prefeito não abrisse agora. O principal é a vida. Se perder a vida, acabou a lanchonete, o ramo, tudo. Era bom que tivesse dado mais um tempo, entre 30 e 60 dias. Na minha lanchonete só trabalha eu, minha esposa, e uma diarista, e a gente não tá querendo abrir, nem no dia 15”.

Medidas preventivas

Os estabelecimentos autorizados terão que manter medidas de prevenção. Segundo o decreto municipal, práticas incluem desde a proteção de clientes quanto os cuidados aos trabalhadores das empresas. Estão incluídos no rol de exigências para funcionamento: uso obrigatório de máscaras, distanciamento de 2 metros entre as pessoas, testagem de funcionários, afastamento dos colaboradores com algum sintoma, aferição de temperatura entre outras providências. A fiscalização de todas as determinações municipais será em caráter educativo até o dia 7 de junho. Depois disso, poderá ocorrer a suspensão e cassação de alvarás entre outras punições.

O também comerciante Ricardo Andrade, de 44 anos, dono de um comércio no centro da cidade, defende a medida tomada pela gestão municipal. “O que foi feito já prejudicou muita gente, tem muita gente desempregada, muita empresa fechada”. Ele, inclusive, foi um dos afetados economicamente pela necessidade de isolamento social. “Eu creio que não vou mais abrir a loja [física], vou ficar só com a virtual, porque o aluguel é muito caro. Muito comércio já fechou em Petrolina”.

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O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

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