Covid-19

Com apenas 4% da população total do Brasil, Pernambuco representa mais de 8% das mortes por coronavírus no país

Em entrevista à Rádio Jornal nesta terça-feira (02), os professores da UFPE Gauss Cordeiro e Jones Albuquerque apresentaram dados sobre a pandemia no estado; número de mortes por milhão de habitantes em Pernambuco é de 265

Vanessa Moura
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Vanessa Moura
Publicado em 02/06/2020 às 12:29 | Atualizado em 02/06/2020 às 13:10
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Com o fim do lockdown nas principais cidades do Grande Recife no último domingo (31), o afrouxamento das medidas de isolamento social e o plano gradual de reabertura do comércio em Pernambuco será posto em prática nos próximos dias - FOTO: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Apesar de dispor de apenas 4% da população total do Brasil, Pernambuco representa hoje mais de 8% do número de mortes pelo novo Coronavírus do país. Tais dados foram debatidos durante o programa Passando a Limpo, transmitido pela Rádio Jornal na manhã desta terça-feira (02), onde os professores Gauss Cordeiro e Jones Albuquerque, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) mostraram que, apesar da estabilização da curva, a taxa de óbitos pela doença ainda é alta no Estado. 

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“Pernambuco está contribuindo com 8.5% e 9.5 % das mortes do país, apesar de ter somente 4% da população total. Então, isso é agravante porque Pernambuco entra para os estados perigosos, como Ceará, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Amazonas”, afirmou afirmou Gauss, que é professor do departamento de Estatística da UFPE.

Com o plano gradual de reabertura do comércio em Pernambuco e o consequente afrouxamento das medidas de isolamento social, o número de casos e mortes, que já não é pequeno, pode voltar a crescer caso esta retomada não seja feita de forma gradativa e responsável. “Estamos mostrando um cenário de estabilização de óbitos, da diminuição na quantidade de demanda por leitos de UTI nos hospitais privados, mas ainda não é momento de voltar às nossas atividades corriqueiras. Os gráficos nos mostram que a gente ainda está muito próximo do limiar”, afirmou Jones Albuquerque, cientista do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) da UFPE. Para o professor Jones, é muito perigoso viver neste limite. "Eu comparo muito essa situação à uma barragem, que nem tá derramando ainda, mas está chegando em 98%. Você ficaria embaixo de uma barragem que está em quase 98% do seu limite? Esta é a pergunta.", questionou. 

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Mortos por milhão de habitantes

Em dados estatísticos, a taxa de mortos por milhão de habitantes em Pernambuco se mostra bastante preocupante. Apesar do Estado apresentar o índice de 265, Gauss explicou que este número tende a subir e superar a taxa de óbitos por milhão da França, por exemplo, que é de 440.  “Num país continental como o Brasil, cada estado vai se comportar como um país na Europa. Se a gente analisa o número de óbitos por milhão de habitantes, na Espanha tem 580, Itália 550, França 440, Suécia 435. O Brasil tá 131, muito baixo, porque o sul está bem controlado, estados grandes como Minas Gerais, está controlado. Mas se a gente vai para, por exemplo, o Amazonas, tem essa taxa de óbitos por milhão superior à França, em 456. E Pernambuco, apesar de ter 265 vai superar a França, eu não tenho dúvidas”, explicou.

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De acordo com Gauss, a variação do tempo médio de morte de um paciente com Covid-19, internado em unidades hospitalares, é bastante amplo por conta das morbidades pré existentes do indivíduo e da variabilidade de idades. "O intervalo de confiança é de 15 a 62 dias. Obviamente, pacientes mais resistentes vão demorar mais a morrer.” Por outro lado, uma pessoa infectada pelo novo coronavírus tem chance média de recuperação de 98% e, quando internada em unidades de saúde, tem tempo médio de recuperação de menos de um mês. "Eu peguei dados de vários locais e estimei um intervalo de 95% confiança entre 23 e 29 dias. Ou seja, dificilmente ele passa mais de um mês se recuperando", contou. 

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Mortes 'secundárias'

Durante a conversa no Passando a Limpo, o professor Jones Albuquerque falou também sobre outra consequência preocupante da pandemia do novo coronavírus: o número de mortes 'secundárias'. "Quando você fala em mortes na pandemia, tem dois tipos de mortes. A que é causada direta pelo vírus. E aqueles 'secundárias', que são as pessoas que morreram e vão morrer por falta de tratamento", contou o professor. Doenças como câncer, diabetes e hipertensão continuam afetando as pessoas como em qualquer outra época, e a falta de tratamento destas enfermidades, por conta do medo em ir ao hospital procurar por serviços de saúde ou pelo falta de disponibilidade destes serviços, vai gerar um grande quantitativo de mortes nos próximos meses. 

"Pessoas com câncer continuam tendo câncer, mas tem medo de ir ao hospital fazer seus exames. Ao sentir uma dor no peito, a pessoa fica em casa, não vai pro hospital. Diabetes e hipertensão se descontrolam. As outras doenças não pararam, só que as pessoas não tem assistência. Essas mortes vão ser absurdamente grandes. Depois de um ano ou dois anos, vai se contabilizar as pessoas que morreram a mais durante a pandemia, e este número vai ser absolutamente assustador no Brasil e no mundo", explicou Jones.

 

 

 

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