Atualizada em 22/06/2020, às 13h09
A pior tragédia ambiental já acontecida no litoral brasileiro e nordestino que chamou a atenção do mundo e despertou uma onda de solidariedade em prol da natureza, voltou a deixar vestígios em Pernambuco em meio a maior crise sanitária do século. A Organização Não Governamental (ONG) Salve Maracaípe fez uma denúncia neste domingo (21), no Instagram, sobre a volta do aparecimento de fragmentos de óleo no Litoral Sul pernambucano. Foram encontrados vestígios nas praias do Cupe e de Muro Alto, próximas a Porto de Galinhas.
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De acordo com Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), os primeiros vestígios das manchas de óleo apareceram em Pernambuco no dia 2 de setembro, e em 26 de outubro, segundo a Marinha do Brasil, as praias pernambucanas já não apresentavam vestígios do óleo, apenas "pelotas", que poderiam ser recolhidas quando chegassem às praias.
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Procurada pela reportagem do Jornal do Commercio, a Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) informou que terá uma equipe na área afetada na manhã da segunda-feira (22).
A página do Salve Maracaípe também já havia relatado o reaparecimento das manchas do óleo no litoral de Alagoas, e "em março, a situação já tinha ocorrido no litoral da Bahia".
De acordo com o gestor ambiental e integrante da ONG Salve Maracaípe, Sidney Marcelino, depois da liberação do governo do Estado para o acesso a praias e parques, várias pessoas fizeram denúncias através do perfil do Instagram e, quando a equipe do Salve Maracaípe foi averiguar, de fato, tinha petróleo na areia. "Essas pequenas partículas provavelmente estavam na areia, e quando você tem a movimentação através do fluxo da maré, isso acaba vindo à tona, mas não só aqui, como em várias praias que tiveram a presença do óleo mais intensa".
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A publicitária Larissa Lopes relatou que foi caminhar na praia de manhã com o namorado e a família, quando se deu conta que os pés estavam cheios de óleo. "Assim que entrei na praia já tinham uns pinguinhos e eu não me liguei que era óleo. Depois, fui olhar o meu pé e estava cheio, o do meu namorado e a família dele também estavam com os pés cheios". A publicitária contou, ainda, que ia entrar no mar, mas desistiu por conta do óleo. "Só continuamos a andar e voltamos", finalizou.
O gestor ambiental explicou que as partículas voltaram a aparecer através de duas possibilidades. "Naquela época da emergência, as partículas se misturaram com areia e ficavam embaixo, quando tem uma maré com maior energia, elas vêm à tona. Ou até mesmo partículas que afundaram no mar e não foram retiradas, em algum momento elas vão vir para a praia. Isso não acontece só em Muro Alto, mas em boas partes das praias do Nordeste inteiro que tiveram um fluxo significativo de petróleo. Aqui, começamos a tirar muito rápido, mas não se teve uma peneira na areia".
Sidney informou que a maior parte do óleo retirado nas praias de Pernambuco foi "pela população", e todas as problemáticas dos impactos desse crime ambiental ocorrem "devido a irresponsabilidade do poder público". "Isso acontece porque o poder público não procedeu da melhor forma possível. Esse é um dos impactos ambientais que vamos ter, porque um crime como esse tem impacto a curto, médio e longo prazo. Existem empresas especializadas em crimes ambientais de petróleo, e o governo não acionou esse tipo de empresa".
"Não adiantava só tirar o óleo que estava visível, precisava de todo um aparato do governo estadual e federal de busca desse petróleo para entender o que ficou de resíduo, porque impacta na área marinha e não sabemos em que grau isso vai ter impactos na questão da desova das tartarugas. A resolução desse problema deveria ser pensado de forma sistemática, e o governo só pensou na retirada, sem considerar os impactos e outras problemáticas desse evento que não sabemos a hora que vai chegar", finalizou o integrante da Salve Maracaípe.
Para cobrar um posicionamento das autoridades após o aparecimento de manchas não só em Pernambuco, como no Estado vizinho de Alagoas, o deputado federal João Campos (PSB), que é relator da CPI do Óleo, entrará com requerimento de informações junto ao Ibama e à Marinha esta semana.
"Até o momento, Ibama e Marinha não se pronunciaram sobre o óleo que apareceu em praias de Pernambuco e também em Alagoas. Mas, em princípio, o levantamento das ONGs aponta para o que seria o óleo do vazamento ocorrido ainda no ano passado", alerta o deputado.
Segundo João Campos, o que estava visível foi recolhido, mas sabe-se que há material enterrado e que pode sempre reaparecer a cada subida e descida de maré. "Esse é um impacto ambiental que se estende por muitos anos e já deveria estar em prática uma ação coordenada em nível federal para que houvesse uma avaliação técnica e precisa sobre os danos causados, uma espécie de programa de monitoramento, inclusive, com sinal de alerta para cada caso de ressurgimento do óleo", complementa.
Por meio de nota, publicada nesta segunda-feira (22), a Marinha do Brasil informou que tomou conhecimento ainda no domingo que vestígios de óleo apareceram nem praias do litoral pernambucano e alagoense. "Uma Equipe de Inspeção Naval foi deslocada para fazer a coleta do material, que será enviado para análise do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM)", disse, por intermédio da Capitania dos Portos de Pernambuco.
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A Marinha acrescentou ainda que mantém rotinas diárias de fiscalização do tráfego aquaviário,
"a fim de zelar pela salvaguarda da vida humana, segurança da navegação e prevenção contra a
poluição hídrica oriunda de embarcações".
CPI do óleo
Por causa da pandemia, foi decretado que todas as comissões do parlamento estão com seus trabalhos suspensos temporariamente, mas isso não impede a ação parlamentar de um deputado em virtude dos acontecimentos que pedem atuações emergenciais e precisas. Além disso, com a reativação das comissões, a CPI do Óleo trabalhará pela conclusão do relatório acerca do vazamento ocorrido no segundo semestre de 2019.
Óleo no Nordeste
Os primeiros registros das manchas no Nordeste foi em 30 de agosto, na Paraíba, nos municípios de Conde e Pitumbu, segundo o Ibama. Chegaram a Pernambuco em 2 de setembro, nas praias de Itamaracá, Maria Farinha, Janga, Pau Amarelo, Suape e Porto de Galinhas, atingindo Boa Viagem, Candeias, Piedade e Carneiros no dia 3. O Instituto relatou que o pico seria em 21 de outubro, quando o óleo já estendia uma faixa de mais de dois mil quilômetros da costa.
Em 26 de setembro, o óleo já atingia 105 praias de 48 municípios em oito, dos nove estados do Nordeste. Sem o conhecimento da causa das manchas, o turismo local e o Ibama estavam em alerta. No começo de outubro, o material completou os nove estados do Nordeste, chegando à Bahia, quando o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, veio para a região informar que já haviam sido recolhidas mais de 100 toneladas do óleo.
As manchas não apareceram no Estado desde 25 de setembro, voltando a contaminar as praias do Litoral Sul no dia 17 de outubro, na praia de São José da Coroa Grande, exigindo a atenção dos governos municipais, federais e estaduais, mesmo após membros da CPRH terem realizado um sobrevoo no litoral sem encontrar nenhum indício das manchas. Com isso, vários grupos de organizações não governamentais (ONG's) e voluntários se organizaram para impedir maiores danos no Estado e retirar os óleos com as próprias mãos. No dia seguinte, Pernambuco já registrava o recolhimento de vinte toneladas de óleo desde a sua chegada no Estado.
No sábado, 26 de outubro, quando o governo já registrava 249 locais afetados e mais de 1 mil toneladas de resíduos recolhidos, em coletiva de imprensa, a Marinha informou que as praias pernambucanas já não apresentavam mais óleo do vazamento, apenas "pelotas" de petróleo que poderiam ser recolhidas quando chegassem às praias. No dia seguinte, o governo informou que novas manchas não foram encontradas no litoral nordestino.
As orientações da CPRH eram que nas praias onde houvesse a "detecção visual de óleo" tivessem banhos evitados. No entanto, o governo do Estado pediu que a população tivesse o bom senso na hora de decidir entrar no mar das praias atingidas pelo petróleo.
Segundo dados do último relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de 27 de dezembro, foram encontrados vestígios de óleo em 21 áreas do Estado. Sendo 18 locais no Litoral Sul e três no Litoral Norte. No total, os vestígios foram encontrados em 15 praias. Paiva, Ilha do Francês, Suape, Muro Alto, Cupe, Gamboa, Barra de Sirinhaém, Carneiros, Boca da Barra, Tamandaré, Abreu do Una e São José da Coroa Grande. Foi encontrado ainda indício de óleo no mar, em uma área entre a Ilha de Santo Aleixo, Praia da Pedra, em Sirinhaém, Pau Amarelo, Janga e Gaibu.
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