OAB diz que atitude de delegado pode levantar suspeição de inquérito do caso Miguel

Para presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cláudio Ferreira, delegado errou ao antecipar depoimento de Sarí Corte Real
Ciara Carvalho
Publicado em 29/06/2020 às 12:19
Familiares de Mirtes, mãe de Miguel, sentam na frente do carro de Sarí Corte Real, que presta depoimento na Delegacia de Santo Amaro Foto: Wellington Lima/TV Jornal


O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cláudio Ferreira, afirmou que a atitude do delegado Ramon Teixeira, de antecipar o depoimento de Sarí Corte Real, dá margem para levantar a suspeição na condução do inquérito. "Ao meu ver, ele errou ao tomar essa atitude. Não foi correto. Ele precisa explicar quantas vezes já tomou uma atitude dessa não só nesse inquérito, mas em todos os outros que conduziu. Ele se colocou numa atitude muito ruim, porque só fez levantar a suspeita de que pode haver algum tipo de proteção ou favorecimento da pessoa investigada." Sarí Corte Real deixou o menino Miguel Otávio Santana da Silva, 5 anos, sozinho no elevador do prédio onde a mãe dele trabalhava como empregada doméstica. O menino morreu ao cair de uma altura de 35 metros.


A OAB, que está oficialmente habilitada para acompanhar o caso, não foi comunicada do depoimento, nem tão pouco da antecipação do horário da ouvida. Sobre a justificativa dada em nota oficial pela Polícia Civil de Pernambuco de que o delegado atendeu uma solicitação da defesa para proteger a integridade física de Sarí Corte Real, o representante da OAB afirmou que o delegado poderia ter solicitado proteção policial na frente da delegacia, caso entendesse necessário. "Em relação a esse argumento, se não houver uma comprovação de que não haveria meios de garantir essa integridade, torna-se difícil para o delegado, depois dessa atitude, continuar conduzindo o inquérito."


Em relação à conclusão do inquérito que investiga a morte do garoto Miguel, Cláudio Ferreira afirmou que, dependendo do resultado, o questionamento por parte da sociedade será muito maior. "Não posso fazer nenhum pré-julgamento, mas qualquer decisão que ele tome, que não seja no sentido de endurecer a pena, vai torná-lo suspeito. Essa atitude prejudicou a imagem dele, porque vai dar argumentos de que o inquérito pode ter sido defeituoso."

O CASO

A previsão é de que o inquérito seja concluído até quinta-feira, quando completam os 30 dias da morte do garoto. O menino Miguel era filho de Mirtes, empregada doméstica de Sarí Côrte Real, esposa do prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB).

Mirtes havia deixado o filho sob a responsabilidade da patroa e desceu para passear na rua com o cachorro da família. Ao voltar para o prédio, ela se deparou com o filho praticamente morto. Miguel morreu no Hospital da Restauração.

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