Atualizada às 08h41 de terça-feira (28)
Produtos nas calçadas, expostos em frente a casas e também vendidos em porta-malas de carros. Apesar de estarem proibidos de atuar devido à pandemia do novo coronavírus, muitos sulanqueiros e feirantes que trabalham no Polo de Confecções, no Agreste do Estado, têm encontrado formas de comercializar mercadorias irregularmente. A região, a mais afetada pela interiorização da doença, está na etapa quatro do Plano de Convivência com a Covid-19, desenvolvido pelo Governo do Estado, e só poderá retomar essas atividades na etapa sete. Ainda assim, o movimento na Feira da Sulanca de Caruaru e na feira de Santa Cruz do Capibaribe foi intenso nesta segunda-feira (27).
Em Caruaru, a movimentação foi registrada no parque 18 de Maio e ruas adjacentes. Além de barracas terem sido montadas no local, alguns sulanqueiros aproveitaram seus próprios veículos para expor e vender a mercadoria. Segundo Ytalo Farias, secretário de Serviços Públicos do município, a gestão tem atuado para evitar esse tipo de ação, mas o desafio é grande porque os trabalhadores têm migrado para áreas do entorno. "Temos atuado em operações envolvendo a PM, a Guarda Municipal e os fiscais da feira para interromper o fluxo de pessoas na Feira da Sulanca. Somente nesse fim de semana, fechamos 16 ruas. O que ocorre é que montamos um perímetro de bloqueios e os comerciantes atuam no entorno delas", explica.
Segundo ele, outra questão é que, com a entrada na quarta etapa do plano, lojas de atacado e varejo foram autorizadas a abrirem as portas, o que aumenta o fluxo de pessoas na área. O secretário de Serviços Públicos afirmou que a gestão estuda as áreas para que o planejamento de atuação seja melhor a cada semana e que o município, em parceria com associações e as prefeituras de Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, já tem um plano organizado de retomada das atividades, que depende do aval do Governo do Estado.
Presidente da União dos Sulanqueiros de Caruaru, Fátima Amaral defende a urgência da reabertura. "A gente tem que ver aquele sulanqueiro pequeno, aquele sulanqueiro que pega mercadoria e vende pra ganhar R$ 1, no máximo R$1,50. Ele está sem ter como trabalhar. Temos os ambulantes que trabalham ali na Feira da Sulanca que também estão sem trabalhar. Nossa situação a cada dia que passa está pior. Tem que fazer alguma coisa. A feira tem que voltar rápido, porque não está mais dando pra continuar na situação em que nós estamos."
Caruaru tem 4.140 casos confirmados para covid-19, com 224 óbitos e 3.687 pacientes recuperados. De acordo com a Secretaria de Saúde do município, dos casos confirmados, 23 estão internados em unidades de saúde. Além desses, outros 31 que estão em investigação também estão em internação. No final do mês de junho, após Caruaru registrar uma alta considerável no número de contágios pelo coronavírus, o governo de Pernambuco chegou a decretar lockdown no município. A medida, que teve validade de dez dias, começou em 26 de junho e terminou em 5 de julho.
É no município que estão localizados os hospitais com maior números de leitos dedicados à covid: o Hospital Mestre Vitalino (HMV), que conta com 150 leitos ativos, sendo 60 de UTI; e o Hospital Regional do Agreste, com 18 leitos de UTI e 19 de enfermaria. A reportagem questionou a Secretaria Estadual de Saúde (SES) sobre a ocupação de leitos na região, mas a pasta se limitou a responder que existem leitos de UTI e retaguarda livres e que a taxa de ocupação média dos leitos estaduais dedicados à Covid-19 é de 61%, sendo 75% a média relativa aos leitos de UTI e 48% referentes aos leitos de enfermaria.
O mesmo cenário de aglomeração foi encontrado em Santa Cruz do Capibaribe, no entorno do Moda Center. De acordo com informações da TV Jornal Interior, por volta das 8h desta segunda-feira, o trajeto que vai da entrada da cidade até o centro de compras, de cerca de três quilômetros, que normalmente é feito em 10 minutos, estava sendo percorrido em 1h devido ao congestionamento.
Em nota, a Administração do Moda Center Santa Cruz informou que não há comercialização irregular de mercadorias em seu estacionamento, mas sim em seu entorno, e, por se tratar de um empreendimento privado, não têm a obrigação de fiscalizar a movimentação que acontece fora dos limites do centro de compras. “É de responsabilidade do poder público coibir e fazer valer o que foi determinado pelas autoridades estaduais”, disse o informe.
Questionado sobre a grande movimentação ao redor do Moda Center, o secretário de Defesa Social de Santa Cruz do Capibaribe, Manoel Sena, informou à reportagem que a prefeitura tem investido em “escalas extras” da Guarda Municipal, para a fiscalização na cidade.
Já para Edson Vieira, prefeito do município, neste momento é essencial o auxílio do Governo do Estado para controlar a situação.
“É quase impossível conter todas as pessoas que estão querendo sobreviver e se restabelecer economicamente. A gente tem aglomerações em frente ao moda center, e a gente começa a receber muitas pessoas de fora querendo entregar mercadoria. (...) Temos a nossa estrutura de guarda municipal e mobilidade urbana, mas não conseguimos controlar tudo sozinho. A gente carece e sente a falta do Estado, dessa infraestrutura, para que a gente possa ter uma melhor adequação”, revelou.
O gestor acredita que o Polo de Confecção do Agreste deva ter suas atividades liberadas a partir do dia 16 de agosto. “Nós estamos trabalhamos para os dias 16 e 17 de agosto. Esse é o protocolo inicial que a gente tem, se os números continuarem dessa maneira, caindo. Se não houver aumento, não vejo motivo para esticar mais”, completou. De acordo com o último boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), a cidade soma 103 casos graves da covid-19.
A Prefeitura de Toritama, que também integra o Polo de Confecções do Estado, argumentou que a situação no município está mais controlada porque as feiras são menores do que as de Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe. "Estamos seguindo a determinação do Governo do Estado. Claro que gostaríamos de que a situação fosse diferente, mas existe a possibilidade de colocar a vida das pessoas em risco. Para diminuí-los, estamos desenvolvendo protocolos de proteção e segurança. O momento é de retomada econômica, com todos os cuidados. Estamos conscientes sobre o equilíbrio necessário entre saúde e a economia", argumentou Robson Viana, secretário de Desenvolvimento Econômico do município. Em Toritama, 76 pessoas desenvolveram a forma grave do novo coronavírus até o momento, segundo a SES.
Em nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) esclareceu que policiais militares do 4º BPM e do 1°BIEsp, em Caruaru, assim como do 24º BPM, em Santa Cruz do Capibaribe, têm atuado de forma sistemática, em parceria com os órgãos municipais, para o cumprimento das medidas sanitárias. A pasta informou que barreiras foram criadas e que rondas a pé e de motocicletas são realizadas no entorno para coibir o comércio irregular. "É importante ressaltar que a Polícia Militar, os guardas municipais e diretorias de controle urbano dos municípios estão realizando fiscalizações, mas contam fundamentalmente com a conscientização e a apoio da população, seja cumprindo as recomendações ou atuando como fiscais", diz um trecho. Desde o início da Pandemia, o Centro Integrado de Comando e Controle (CICCR) da SDS já atuou em 84 mil denúncias de infrações sanitárias. Ao todo, 800 pessoas foram conduzidas para as delegacias em todo o Estado.
As atividades no Polo de Confecções estão suspensas desde março, com a chegada da pandemia ao Estado. Após algumas semanas, o setor passou realizar suas vendas apenas no formato delivery. Deste modo, o cliente entra em contato com o comerciante através do WhatsApp ou demais redes sociais, faz o pedido e pode retirá-lo em um horário específico. Para os sulanqueiros, no entanto, o modelo evidencia a desigualdade entre os feirantes. Em Caruaru, por exemplo, de acordo com o presidente da Associação dos Sulanqueiros de Caruaru, Pedro Moura, apenas 20% dos feirantes conseguem vender no modelo Delivery.
“A dificuldade dos feirantes é muito grande, 80% deles não consegue vender porque são pequenos, não tem capital de giro e suas fábricas pararam. No próprio Delivery Sulanca, que foi criado em Caruaru, apenas 20% dos feirantes, em média dois mil, conseguem vender. São esses que têm uma clientela pelas redes sociais e pelo WhatsApp, mas a maioria não consegue atingir esse patamar”, explicou.
Ainda de acordo com o presidente da Associação, assim que os feirantes se deparam com a impossibilidade de vender via delivery eles precisam tomar outros caminhos para poder trabalhar. É por conta disso que muitos vão às ruas em busca de garantir o sustento da família, formando cenários de aglomerações registrados nas últimas semanas.
“Toda segunda-feira, que é dia de feira, eles estão indo para as ruas com a pouca mercadoria que tem. Eles colocam no automóvel e vendem. É por isso que estamos solicitando a abertura da Feira, porque lá nós poderemos seguir todo o protocolo, que a prefeitura [de Caruaru] já fez, e nós já enviamos ao governo estadual. Nós temos condições de trabalhar e estamos realmente precisando. Cerca de 80% das pessoas que comercializam na feira estão passando por necessidades e não estão podendo suprir suas necessidades básicas”, contou.
Para o presidente da Associação dos Sulanqueiros, o retorno do setor, mesmo sem a permissão do governo talvez seja uma forma encontrada para chamar a atenção da gestão estadual para situação em que os comerciantes se encontram. "Estamos nessa luta, as pessoas precisam vender. O comércio de Caruaru já está aberto, os shoppings centers estão comercializando, então tem que abrir a feira também".
Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco informou que a reabertura do Polo integra a etapa 7 do plano de retomada econômica. "Porém, o plano é dinâmico e pode ter as etapas de flexibilização das restrições modificadas", diz o comunicado, que destaca ainda o diálogo existente entre o governo do Estado e o setor para elaboração de protocolos. "Vale ressaltar que, além dos protocolos prontos, a retomada de qualquer segmento econômico acontece a partir da análise dos indicadores pela Secretaria de Saúde. No caso das feiras, a participação das prefeituras é determinante, já que a regulação desse tipo de atividade é de ordem municipal."
Uma reunião extraordinária da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) aconteceu no último sábado (25), onde representantes do Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco pediram celeridade na reabertura das feiras da região. No encontro, que aconteceu por videoconferência, estiveram presentes os gestores de Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama; o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Bruno Schwambach; alguns deputados estaduais e feirantes da região.
Nesta reunião, Schwambach reiterou que cada região do estado passa por uma avaliação semanal onde critérios como curva de contaminação, número de infectados e disponibilidades de leitos são observados. Na última avaliação, realizada no dia do encontro, as Regiões de Saúde IV e V permaneceram na quarta fase.
"O polo [de confecções] é um caso único no mundo. Não é somente um equipamento, envolve atividades diferenciadas com uma grande quantidade de trabalhadores. Ele mobiliza indústria, comércio, logística e serviços de alimentação, hospedagem e transporte. Nossa intenção é abrir o máximo possível da economia, mas precisamos ter condições sanitárias e metodologia. Não podemos liberar atividades com base em 'achismo', sem que os dados da saúde nos deem conforto para avançar", explicou o secretário.
Em contrapartida, o deputado estadual Tony Gel (MDB) argumentou que a melhor opção, neste momento, é a reabertura da feira. Segundo ele, é preferível que o setor possa trabalhar de forma regular, adotando os protocolos de limpeza e sanitização, do que continuar comercializando seus produtos nas ruas, como vêm ocorrendo. "É como se a feira estivesse funcionando normalmente, mas sem autorização, protocolo ou fiscalização. O índice de contágio, com essa desorganização, está enorme".
Erick Lessa (PP), presidente da Comissão e deputado estadual, fez um apelo ao governo estadual para que acate o pedido de reabertura. "As pessoas estão vendendo as roupas nos braços, em bicicletas, carros, motos e estão colocando manequins na BR. Contamos com a sensibilidade do Governo do Estado e a participação dos três municípios, para que haja a reabertura. Os sulanqueiros já mostraram que têm maturidade [para acatar os protocolos]".
Mesmo sem data prevista para retomada oficial das atividades da Feira da Sulanca, a Prefeitura de Caruaru divulgou no dia 20 de julho, por meio de uma coletiva de imprensa online, os protocolos para a reabertura do polo. Agora, a cidade aguarda apenas a liberação por parte do Governo do Estado. As medidas divulgadas envolvem protocolos para o público em geral, excursionistas, lojistas, clientes e a própria prefeitura.
- Aferição obrigatória de temperatura e proibição de embarque de pessoas com temperatura acima de 37,5°C;
- Em viagem de mais de 4h de duração, a aferição deve ser feita a cada 2h;
- Uso de máscara por todos os passageiros e funcionários da empresa;
- Instalar e manter abastecidos, no interior do veículos, dispensador de álcool em gel ou lavatório para higienização das mãos;
- Higienizar o interior e o exterior do veículo;
- Lotação máxima recomendada de 50% da capacidade;
- Comunicar aos passageiros sobre recomendações e riscos do descumprimento das normas;
- Apresentação de guia de transporte dos passageiros com registro da temperatura;
- Monitorar a saúde dos funcionários dos excursionistas.
- Uso obrigatório de máscara;
- Proibição de expositores em áreas externas, não sendo permitido nenhum obstáculo fora dos limites do banco;
- Exibição de cartazes com as orientações de saúde;
- Higienização dos balcões e área interna dos bancos, antes, durante e depois da feira;
- Instalar e manter abastecido dispensador de álcool em geral ou recipiente para higienização das mãos;
- Monitorar saúde das pessoas.
- Uso obrigatório de máscaras;
- Evitar aglomerações e contatos físicos;
- Higienizar as mãos sempre que possível;
- Ao apresentar sintomas, ficar em casa.
- Implantar barreiras sanitárias nos principais acessos;
- Instalar estações de higienização em locais estratégicos;
- Realização de ações de sanitização, antes e depois da feira;
- Fiscalização com agentes de vigilância sanitária e fiscais das feiras;
- Reforço na higienização dos banheiros com produtos sanitizantes.