Uma rede de carinho em torno de menina de 10 anos, após estupro e aborto

Menina de 10 anos ganhou flores, brinquedos e roupas no hospital, onde fez procedimento para interromper a gravidez
Ciara Carvalho
Publicado em 17/08/2020 às 22:51
As acusações são em torno de supostos pediatra e obstetra que teriam usado a posição de médico para acessar o quarto da criança, poucas horas depois de ela dar entrada na maternidade Foto: DAY SANTOS/ JC IMAGEM


Uma onda de cuidado e solidariedade se formou em torno da menina de 10 anos, vítima de estupro no Espírito Santo e submetida a um aborto legal no Recife, no último domingo (16). Ontem, a criança ganhou flores, brinquedos, roupas e um laboratório de análises clínicas da capital se prontificou a fazer os exames genéticos do material coletado do aborto, procedimento necessário para a produção de provas que serão usadas no processo criminal que investigará o estupro do qual a garota foi vítima. O caso, que ganhou repercussão no País, também chamou a atenção de youtubers, como Felipe Neto, que se ofereceu para pagar os estudos da criança até ela concluir a faculdade.

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O procedimento de interrupção da gravidez teve início por volta das 17h do domingo e foi concluído no final da manhã de ontem. O feto foi expulso e os médicos fizeram a curetagem. A criança passa bem e está num quarto acompanhada da avó, que veio do Espírito Santo com ela. "Ela está se sentindo aliviada e quer voltar para casa, recuperar a sua vida. Ela já está em condições de ter alta médica. Mas, para preservar a criança, não vamos informar quando ela deixará o hospital", afirmou o médico Olímpio Moraes, diretor do Cisam, unidade de referência estadual nesse tipo de atendimento e de acolhimento às vítimas.

"Uma menina muito tranquila, o tempo todo agarrada com os bichinhos de pelúcia. Uma menina linda, muito inocente e muito sofrida", descreve Paula Viana, enfermeira obstetra e uma das coordenadoras da ONG Grupo Curumim, que acompanhou a chegada da criança ao Recife e todo o processo de internação, inclusive o momento da interrupção da gravidez. "Eu senti no olhar dela um sentimento profundo. E isso me tocou bastante, como mulher, como mãe e como feminista", conta.

Desde a chegada no aeroporto até o hospital, a maior preocupação do grupo foi de proteger a criança, já que as informações sobre o local onde o procedimento seria realizado tinham sido divulgadas na internet. "Elas não sabiam muito o que estava acontecendo, mas precisaram se abaixar no carro para não serem vistas ao entrar no hospital, tiveram que entrar na mala do carro. Um coisa muito constrangedora, mas necessária para garantir a proteção física e mental (da criança)", conta a enfermeira, em referência ao protesto ocorrido na entrada da maternidade.

Na tarde do domingo, políticos e pessoas ligadas a segmentos religiosos fizeram um ato na porta do Cisam para impedir que o aborto fosse realizado. Os manifestantes tentaram invadir a maternidade, mas foram contidos com a chegada da Polícia Militar.

PEDIDO DE INVESTIGAÇÃO

Ontem o Gabinete de Assistência Jurídica às Organizações Populares (Gajop) entrou com um pedido de investigação junto ao Ministério Público Estadual para que a entidade apure a participação de manifestantes, sobretudo de parlamentares estaduais, no protesto ocorrido na porta da maternidade. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Pernambuco, e a representação estadual do Colegiado Nacional de Conselheiros Tutelares também condenaram o ato.

Em nota, divulgada antes do ofício protocolado pelo Gajop, o Ministério Público informou que os crimes contra honra são de representação privada e dependem da apresentação de queixa-crime por parte dos ofendidos. "O Ministério Público de Pernambuco está à disposição dos familiares da criança para receber sua manifestação através da Ouvidoria", disse o comunicado.

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