Em 1º de janeiro de 2020 muita gente fez planos para os 12 meses seguintes. Sem imaginar que em março a pandemia de covid-19 estouraria no mundo, alterando muito desses planejamentos. O desejo de realizar o que deixou de fazer neste ano é ainda maior. Candice e Leonardo querem a festa de casamento. Mylene e Danilo sonham com a chegada do primeiro filho. Diogo almeja expandir a empresa que criou. É a renovação da esperança de que apesar das dificuldades, vale a pena continuar sonhando. "É tudo novo de novo", como diz a música de Paulinho Moska.
"Mas tudo que acontece na vida tem um momento e um destino". Essa frase é da música Do seu lado, da banda Jota Quest, a primeira que a advogada Candice Gusmão Forte, 28 anos, lembra de ter recebido anotada numa folha de caderno do então namorado Leonardo Forte, 28. Eles tinham 16 anos, estudavam na mesma turma do 1º ano do ensino médio e começavam uma história que já dura 12 anos. Quase dois anos atrás, em fevereiro de 2019, Leonardo a pediu em casamento. Na virada do ano de 2019 para 2020, os dois sonhavam com o matrimônio, previsto para 3 de outubro do ano passado. Não imaginavam que a pandemia adiaria a tão desejada festa, que não tem nova data para acontecer.
"Em maio, quando estava no auge da pandemia, decidimos adiar o casamento para março de 2021. Muitas pessoas sugeriram que a gente tentasse casar ainda em 2020, mas preferimos colocar um mês mais distante, com uma boa margem de segurança. Mas infelizmente a covid-19 continua e sabemos que de novo será impossível fazer a festa em março", lamenta Candice. O consolo, diz, é que eles realizaram uma cerimônia para registrar o casamento no civil, pouco mais de três meses atrás, em setembro.
"O casamento no civil preencheu um pouco o vazio de não ter tido a festa. Mas só estavam nossos pais, padrinhos e um amigo dele e um meu para representar os demais. Foram 14 pessoas em um jantar. Sonhamos com uma festa com todos os primos, amigos, a família cantando, dançando, se abraçando. É nosso desejo. Por isso acho que só vamos fazer a festa em 2022 pois não queremos distanciamento e sim todos juntos, sem protocolo", afirma Candice.
"Desejamos uma festa sem ser na pandemia porque também temos pessoas de grupos de risco nas nossas famílias e não queremos que o sonho se transforme num pesadelo, caso alguém adoeça", ressalta a advogada. A festa estava marcada para ocorrer à beira mar, na Praia de Carneiros, em Tamandaré, no Litoral Sul, para 300 pessoas.
Para Candice, a lição que fica da pandemia é que não adianta querer ter controle das situações, como diz o refrão da música de Jota Quest. "Aprendi que não adianta se apegar a um plano pois ele pode não acontecer, como foi com a nossa festa de casamento. Primeiro ficamos frustrados e tristes. Depois deu um pouco de alívio com o casamento no civil. Ainda desejamos a festa para receber o calor humano de quem a gente ama. Mas agora será quando tiver que ser", afirma.
Em meio à pandemia, o casal Mylene Maciel e Danilo Gomes, 25 anos, decidiu que era hora de serem pais, atendendo a um desejo deles e também a um pedido de familiares e amigos, mas adiado porque havia outras prioridades antes. Casados há nove anos, eles engravidaram no primeiro mês que liberaram a gestação.
Mas a alegria de saberem que havia um bebê na barriga de Mylene durou pouco. Ela teve um aborto espontâneo bem no início da gravidez. A surpresa foi constatar que mais um mês depois e ela já estava novamente buchuda. O filho ou filha - ainda não sabem o sexo - está previsto para nascer em julho deste ano.
"Minha médica até perguntou se não achávamos melhor esperar passar a pandemia. Mas minha vontade era maior. A gente só não esperava que eu fosse engravidar tão rápido pois parei de tomar anticoncepcional num mês e no outro já estava grávida", diz Mylene.
"Fiquei sem chão quando tive o aborto. Até questionei Deus de por que ter acontecido isso comigo. O pastor da Igreja Batista, que frequento, falou num sermão que Deus é que sabe o momento certo. Acalmei meu coração e logo em seguida soube que estava novamente grávida", afirma Mylene.
A notícia da primeira gestação foi contada assim que viram o teste positivo, com direito a anúncio em redes sociais. Com a perda do bebê, decidiram ser mais cautelosos da segunda vez. Só contaram aos parentes e amigos na noite de Natal, semana passada, quando Mylene já estava com mais de três meses de gestação.
Para 2021, o plano é cuidados redobrados para garantir uma gravidez tranquila. "Estou com medo de sair de casa pois vi vários casos de grávidas com covid-19. Vou ficar quieta. Só peço saúde a Deus. Até tinha preferência de sexo antes, mas agora não. O importante é que meu filho ou filha chegue saudável", comenta Mylene.
Os nomes já foram escolhidos pelo casal: Betina ou Henry. "Queria menina para poder enfeitar, colocar tiara. Queria menino para jogar bola. Ou seja, o que vier nos fará muito feliz", garante Danilo.
Exatamente um ano atrás, no início de 2020, o empresário Diogo Caetano, 31 anos, estava inquieto. Não queria continuar na sociedade de uma empresa de desenvolvimento de software que mantinha com outros quatro sócios havia três anos.
Em fevereiro, saiu da firma. Março e abril, começo da pandemia de covid-19 no Brasil, foram para pensar num novo negócio, aberto em maio. Oito meses após a abertura de uma empresa de concepção e desenvolvimento de produtos digitais, neste janeiro de 2021, Diogo planeja ampliar o número de clientes, hoje oriundos de Pernambuco, São Paulo, Estados Unidos e Inglaterra.
"O ano de 2021 será para consolidar a empresa, aumentar a base de clientes. Quero expandir. Na primeira sociedade que tive, uma das coisas que me incomodava era que eu estava sempre disposto a assumir mais riscos que meus sócios. Eles eram mais conservadores, cautelosos", diz Diogo. "Tem uma frase de que gosto muito. Diz que a vida não nos dá uma propósito, nós é que damos um propósito à vida. É um pouco do que acredito. Não vou esperar que as coisas aconteçam. É preciso agir", comenta Diogo.
A nova firma que ele criou com mais dois sócios já tem mais seis pessoas trabalhando. Há um time de nove pessoas, portanto. "Criamos e estruturamos uma empresa em plena pandemia. Havia a incerteza do que ia acontecer. Mas por ser um negócio na área de tecnologia, de concepção de novos produtos digitais, fomos na contramão de outros mercados e conseguimos crescer", observa Diogo. O distanciamento social, uma das imposições da pandemia, ajudou.
O empresário diz que 2020 o ensinou a ser resiliente. "Acabei 2020 muito feliz com os resultados que conquistei. Muitas vezes cheguei no meu limite e precisei usar todas as habilidades que eu tinha. Sem dúvida, foi preciso determinação para enfrentar um ano tão difícil", ressalta Diogo.