CORONAVÍRUS

Um ano de pandemia: veja cronologia da covid-19 em Pernambuco

Atualmente, casos da covid-19 se multiplicam mais rápido e desafiam ciência

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 11/03/2021 às 6:28
BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
A média móvel semanal de vidas perdidas foi de 873 - FOTO: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Um ano atrás, depois de observar níveis alarmantes de proliferação da covid-19, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarava que o planeta vivia uma pandemia. Naquele 11 de março de 2020, eram cerca de 118 mil casos e 4.291 mortes provocadas pelo novo coronavírus no mundo. Doze meses depois, os números são mais assustadores: 118 milhões de doentes e 2,6 milhões de óbitos, com recordes diários de vítimas fatais e contaminação, sobrecarga nos hospitais (sobretudo nos leitos de UTI), equipes de profissionais de saúde no limite.

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No Brasil - terceiro país com mais infectados (11 milhões de pessoas), perdendo apenas para Estados Unidos e a Índia - associado a tudo isso há a vacinação ainda em ritmo lento e flagrantes diários de descumprimento, pela população, das medidas sanitárias para conter a disseminação do vírus. Diante do cenário próximo de entrar em colapso, médicos, cientistas e gestores públicos alertam para a gravidade da situação.

Em Pernambuco, até essa quarta-feira (10), a Secretaria Estadual de Saúde contabilizou 311.558 casos da doença (33.190 graves e 278.368 leves) e 11.246 mortes. Amanhã completa um ano que os dois primeiros doentes foram notificados no Estado: um casal que havia viajado, no final de fevereiro de 2020, para o Egito e a Itália. Naquele momento, o Norte da Itália vivia um surto provocado pela covid-19, enfermidade identificada inicialmente na China no fim de 2019.

"A realidade hoje, em Pernambuco, eu diria que é pior que a do início da pandemia. Quando o governo decretou lockdown, em maio do ano passado, as ruas ficaram mais vazias e as pessoas perceberam que algo complicado estava acontecendo. Hoje a impressão, vendo a normalidade nas ruas, é que as pessoas não acreditam no caos que está nos hospitais. A situação é muito grave, a população precisa entender que estamos vivendo uma verdadeira segunda onda da covid-19 e não aquele aumento de casos que houve em novembro e dezembro", destaca o médico Demetrius Montenegro, chefe do Departamento de Infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, ligado à Universidade de Pernambuco (UPE) e que se tornou a primeira unidade de referência no Estado para tratamento da doença.

"Estamos abrindo novos leitos para covid-19 em tempo recorde, com uma média de, no mínimo, 10 de UTI por dia. No entanto, a velocidade da doença está assumindo um ritmo muito forte. Neste momento, não temos escolha: ou a sociedade se engaja no enfrentamento da pandemia, ou vai haver grande escassez de vagas nos hospitais e teremos mais mortes", enfatiza o secretário estadual de Saúde, André Longo. Ontem a ocupação de leitos de UTI na rede pública estava em 95%.

"Compreendo que, passado um ano de pandemia, muitos estejam cansados das medidas de contenção. Mas precisamos ter empatia e adotar medidas que gerem proteção para todos. A sociedade precisa estar ciente que os próximos dias serão de muita dificuldade e só o respeito aos protocolos e o avanço da vacinação serão capazes de minimizar a aceleração da doença", complementa Longo.

O Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) defende a adoção de medidas mais rigorosas de restrição da circulação e das atividades não essenciais, de acordo com a situação epidemiológica e capacidade de atendimento de cada região. Em Pernambuco, serviços não essenciais estão proibidos de funcionar no próximo fim de semana. Já de segunda à sexta-feira podem abrir até 20h. A determinação vale até o dia 17.

Apesar dos números preocupantes, o governador Paulo Câmara descartou lockdown nos próximos dias. Pesquisador da Fiocruz, infectologista e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Paulo Sérgio Ramos discorda. "Medidas mais restritivas, como o lockdown, já deveriam ter sido decretadas."

Veja cronologia da pandemia em Pernambuco

 

Trabalho duro para salvar pacientes

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
LINHA DE FRENTE Demetrius Montenegro destaca união entre profissionais de saúde - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Ele diz que acordou do que era um pesadelo - a covid-19 no mundo - para o que seria, a partir de março de 2020 em Pernambuco, uma triste realidade que se arrasta até agora. "Bateu ali o medo de um inimigo monstruoso, invisível e desconhecido", conta o infectologista Demetrius Montenegro, 50 anos, um dos médicos a tratar os primeiros doentes no Estado. Passados 12 meses, o medo continua, mas em escala menor. Ainda existe o temor de contrair o coronavírus - apesar da pesada rotina em duas UTIs, ele não foi contaminado. Mas também aprendizados importantes do ponto de vista médico e pessoal.

"Um deles é valorizar pequenas coisas da vida, encontrar felicidade em situações simples. Tem muita gente reclamando porque não pode ir a um restaurante ou praia. Eu sei que é duro, é difícil ficar em casa, mas tenha certeza que não é maior que o sofrimento de quem está numa UTI com covid-19 ou dos familiares desse doente", ressalta Demetrius. "Dá tristeza e muita preocupação ver pessoas irresponsáveis descumprindo as medidas sanitárias".

O infectologista ressalta ainda a união dos diversos profissionais para salvar vidas. "É gratificante a cooperação, o trabalho em equipe. Numa crise como essa, todos arregaçarem as mangas para vencer o vírus."
 

Vacina traz esperança e novos planos

 
CHICO BEZERRA/Divulgação
PROTEÇÃO Vânia Tinoco recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 - CHICO BEZERRA/Divulgação
 
Em abril de 2020, a gerente de vendas aposentada Vânia Tinoco Novaes, 74 anos, levou o telefone celular para o conserto, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. O rapaz que fez o serviço estava tossindo e com febre. Ali, ela o alertou que poderia ser coronavírus. Uma semana depois, Vânia começou a sentir os sintomas da doença e confirmou que estava infectada. Desenvolveu um quadro leve, não precisou ser hospitalizada, mas diz que não quer passar pela experiência de novo. Ontem, ela recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19, num posto de drive trhu montado pela prefeitura no Shopping Guararapes, em Piedade.

"Quero estar imunizada para visitar minha neta Maria Eduarda, que mora em São Paulo. É um dos grandes amores da minha vida. Ela veio para cá em dezembro, mas também pegou covid e por isso passamos pouco tempo juntas. A minha ansiedade em tomar a vacina é para revê-la logo. Se bem que do jeito que está a pandemia não sei quando será possível viajar", lamenta Vânia. "O governo deveria agilizar e vacinar mais gente", comenta Vânia. A aposentada conta que não gosta de usar máscara, mas já que é necessário, coloca sempre que sai de casa. "Tenho uns 30 modelos diferentes, dourada, com pedras enfeitado, de todo jeito. Se tem que usar, que pelo menos a gente fique bonita."
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LINHA DE FRENTE Demetrius Montenegro destaca união entre profissionais de saúde - FOTO:FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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PROTEÇÃO Vânia Tinoco recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 - FOTO:CHICO BEZERRA/Divulgação

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