Com alta de mortes por covid-19, cemitérios do Grande Recife ampliam oferta de vagas
Recife, Olinda, Camaragibe, Paulista e Jaboatão dos Guararapes anunciaram a ampliação dos espaços para abrigar futuras vítimas de uma tragédia já anunciada
A abertura de novas covas para abrigar os corpos de munícipes é um procedimento padrão nos cemitérios municipais e acontece todos os anos. Mas, desde que a pandemia da covid-19 se alastrou em Pernambuco, levando 14.434 vidas até esta sexta-feira (7), a demanda por vagas cresceu, e, em alguns casos, a oferta não deu conta de tal aumento. Com isso, Recife, Olinda, Camaragibe, Paulista e Jaboatão dos Guararapes anunciaram a ampliação dos espaços para abrigar futuras vítimas de uma tragédia já anunciada.
Durante coletiva de imprensa realizada nessa quinta-feira (6), o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, deixou claro que "questões funerárias são de responsabilidade dos municípios". "Cada um deles foi alertado desde 2020 para a necessidade de montar os seus planos de contingência em relação à necessidade da ampliação de sepultamentos. O Estado fez as regras do ponto de vista sanitário, seguindo as recomendações das agências de vigilância sanitária em relação à rotina que deve ser feita para casos suspeitos e confirmados de covid-19, e orientou sobre o invólucro desses corpos", disse.
No Recife, três necrópoles são destinadas ao sepultamento de pessoas que perderam a vida para a doença: Santo Amaro, Tejipió e Parque das Flores. Segundo a prefeitura da capital, estão vagas 1.333 (21,21%) covas ou gavetas em tais cemitérios. Mesmo assim, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) providenciou a abertura e/ou a construção de mais 6.284. O órgão também informou que o pico de enterros pelo novo coronavírus foi em 2020, e que, desde o último ano, “não desamparou qualquer munícipe que tenha sido vítima de SRAG/Covid”.
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A psicóloga Jullia Caldas, de 24 anos, enterrou a avó no dia 10 de abril no Parque das Flores, que faleceu devido a complicações causadas pelo novo coronavírus. Ela conta não ter tido problemas para encontrar vagas, apenas considera o ritual de caixão fechado - feito para evitar a transmissão da doença - “muito pesado”. “Achei a estrutura parecida com como é normalmente, a diferença é que os pacientes com covid estão sendo sepultados em gavetas, o que considero um pouco frio, por não ter o ritual ou a possibilidade de jogar flores”, contou.
A Prefeitura de Olinda conta que houve um aumento de 200% na procura por túmulos na cidade desde março de 2020, quando foram registrados os primeiros casos do novo coronavírus no Estado. O município conta com dois cemitérios públicos, um no bairro de Águas Compridas e o outro no Guadalupe, área do Sítio Histórico da cidade. Em 2020, a gestão diz ter ampliado a necrópole em Águas Compridas em 145 covas, chegando a 1.364. Atualmente, diz reorganizar o espaço “para gerar cerca de 40 vagas nos próximos dias, e que tem contratado vagas em cemitérios privados da cidade”.
A Secretaria de Gestão Urbana de Olinda afirma ainda que o Cemitério de Guadalupe, que possui 1.380 covas, “não pode ser ampliado devido à legislação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)”. Mesmo assim, garante que “não há falta de túmulos na cidade de Olinda e que todos os olindenses estão sendo atendidos”. Por outro lado, o representante da Associação Pernambucana dos Diretores Funerários (Apedif), Herton Viana, afirmou que Olinda é um dos municípios que mais apresenta falta de vagas atualmente. “Hoje, só há dificuldade na oferta de vagas nos cemitérios municipais, nos privados, não. Olinda vem tendo uma das piores situações, realmente não tem vaga, porque quando os moradores da cidade nos procuram, nos relatam essa dificuldade”, disse.
Em Jaboatão dos Guararapes, são abertas atualmente mais 120 vagas nos Cemitérios Parque da Paz e da Saudade. Desde o ano passado, a prefeitura diz ter aberto cerca de 800 espaços. A gestão afirma que “não há falta de vagas para os munícipes”, apesar da demanda ter aumentado pela pandemia. A assessoria de imprensa estima que entre 30% e 40% dos sepultamentos realizados atualmente nos cemitérios municipais têm sido por complicações da covid-19.
Em Paulista, a Secretaria de Infraestrutura e Serviços informou que o seu único cemitério municipal, Campo Santo São José, opera próximo de sua capacidade total, e, “por precaução”, ampliará o espaço em mais 180 sepulturas. Desse total, 60 já estão em execução. “Em paralelo, a prefeitura segue licitando a ampliação de um novo espaço para sepultamentos”. No entanto, a gestão explica que a medida não se dá “exclusivamente pelos óbitos causados pela covid-19, mas pela demanda natural devido ao aumento da densidade demográfica do município”. Só em abril, houve 206 sepultamentos, dos quais 62 foram de vítimas da doença.
O Cemitério de Camaragibe, o único da cidade, libera vagas a partir de exumações - retirada dos restos mortais de uma pessoa já falecida. Sendo assim, a disponibilidade varia de acordo com o dia. Por exemplo, neste sábado (8), haverá “4 vagas públicas para o cemitério, 3 de exumações mais uma vaga pública que sobrou”, segundo a prefeitura. De janeiro até esta sexta (7), “27,94% das pessoas enterradas foram vítimas da covid-19”. A gestão completa que o “mês de abril de 2021 teve uma diminuição de 9% no número de sepultamentos em relação ao mesmo período de 2020”.
No último mês, o munícipe Gleison Coelho denunciou ter passado mais de 9h tentando encontrar uma vaga para enterrar o sogro em Camaragibe. O corpo do parente teve que peregrinar por várias cidades até ser sepultado no município de Paudalho, na Zona da Mata. “Recebemos a informação da administração do cemitério de que não dispomos de nenhuma vaga para sepultamento hoje. Nenhuma vaga para algum ente que venha a óbito. Fica aqui nossa indignação e nosso registro”, disse o vigilante.
À época, a Secretária de Infraestrutura Eryka Luna, explicou que a dificuldade de vagas ocorria em função do aumento de óbitos durante a pandemia, e afirmou que a prefeitura da cidade desenvolve um projeto para a ampliação do cemitério, com incremento de mais 1.410 gavetas e 1.350 ossuários. “Neste ano, de janeiro para hoje, tivemos quase 400 mortes registradas e enviadas ao cemitério. Desde 2020 estamos trabalhando para a ampliação desse cemitério”, explicou a secretária.