METEOROLOGIA

CHUVAS EM PERNAMBUCO: temperatura do oceano Atlântico pode prever evento climático no Nordeste até três meses antes, diz pesquisa

A conclusão está em estudo publicado na revista científica Geophysical Research Letters, que envolveu pesquisadores do Brasil, China, Austrália e Alemanha

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Katarina Moraes

Publicado em 08/06/2022 às 10:52 | Atualizado em 08/06/2022 às 11:38
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A temperatura das águas do oceano Atlântico Norte pode indicar períodos de eventos extremos ligados à redução de chuvas e secas intensas na região Nordeste do Brasil com até três meses de antecedência. A conclusão está em estudo publicado na revista científica Geophysical Research Letters, que envolveu pesquisadores do Brasil, China, Austrália e Alemanha.

O grupo descobriu que a influência do Atlântico Norte se tornou mais persistente do que a atuação do Pacífico tropical, até então apontada como um dos fatores de impacto na intensidade das secas no Nordeste. Ainda, que a conexão entre Pacífico e Atlântico Norte ficou mais frequente, sugerindo que essas interações entre as bacias oceânicas tropicais reforçaram as estiagens na região nas últimas décadas.

Os resultados revelaram um papel dominante do Atlântico Norte para o déficit de precipitação e secas, particularmente nas últimas décadas. “O trabalho foi motivado pela grande seca registrada entre 2012 e 2015. Esse longo período nos fez refletir, do ponto de vista meteorológico, como as temperaturas dos oceanos tropicais influenciam essas condições climáticas”, pontuou Lincoln Muniz Alves, cientista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Segundo ele, que também é um dos autores do artigo, os resultados servem como ferramenta de gestão para que centros meteorológicos façam a previsão com antecedência de eventos com esse potencial.

Entre as conclusões do artigo, o grupo aponta ainda que outros fatores, como mudanças no uso da terra, podem levar a alterações no ciclo hidrológico, como já demonstrado em estudos de modelagem, particularmente sobre a bacia amazônica. Por isso, os cientistas sugerem que novos trabalhos com a metodologia desenvolvida podem focar em como essas mudanças no uso da terra alteram as características e interações climáticas.

“Quando discutimos variações climáticas estamos falando também em impactos socioeconômicos e na biodiversidade. Por isso, centros meteorológicos podem usar o modelo para trabalhar em prevenção, focando em políticas públicas ou na tomada de decisão sobre ações de mitigação de eventos extremos”, completa Alves.

Chuvas em Pernambuco deixaram 129 mortos

A pesquisa foi divulgada dias após Pernambuco registrar 129 mortos em decorrência das fortes chuvas que atingem o Estado. Já em abril, no entanto, a Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac) havia avisado que a previsão era de que os meses de maio, junho, julho e agosto tivessem chuvas acima da média.

O alerta segue ligado, visto que junho, historicamente, tem mais precipitação que maio. A preocupação é se as chuvas serão espaçadas durante o mês ou se cairão de uma vez, como aconteceu no último mês, quando o Estado registrou o maior desastre natural em quantidade de vítimas do século 21.

"O que não sabemos ainda é se essa chuva vai ser distribuída ao longo de junho ou se vai ser mais concentrada, como aconteceu maio, quando praticamente não choveu nos 20 primeiros dias. Temos que ir acompanhando diariamente para ver se vai ser ao longo do mês ou mais concentrada", disse a meteorologista Zilurdes Lopes.

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