Oitenta famílias sem-teto reocupam antiga unidade de saúde do Recife
O imóvel havia sido tomado pelo Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM) há 4 anos, mas, na pandemia da covid-19, foi desocupado
Cerca de oitenta famílias sem-teto ocuparam, na manhã desta quarta-feira (7), uma Unidade de Saúde da Família (USF) do Recife desativada que fica na Avenida Brasília, no bairro de Peixinhos, limite entre a capital pernambucana e a cidade de Olinda.
O imóvel havia sido tomado pelo Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM) há 4 anos, mas, na pandemia da covid-19, foi desocupado pela falta de saneamento básico e de água, que punha a vida dos moradores em risco.
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Segundo a representante do MNLM, Carla Eduarda, a reocupação se deu pela difícil situação financeira das famílias, agravada ainda mais pela pandemia. “99% das famílias que estão lá estão desempregadas, chefiadas por mães que não têm como se sustentar pagando aluguel e que não recebem um auxílio moradia”, disse.
Desempregada, Ana Célia da Silva, 28 anos, disse não ter encontrado outra saída. Ela havia saído da ocupação para uma comunidade próxima, mas as chuvas de maio no Grande Recife derrubaram o barraco que tinha. Então, precisou pagar um alguel de R$ 400 com a única renda família, o Auxílio Brasil de R$ 600.
“A gente foi aprovado auxílio por Recife, mas até hoje não recebemos nada e tivemos que voltar. Temos dois filhos pequenos que estão aqui comigo pela necessidade, porque eu não iria trazê-los se não fosse”, disse.
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Durante todo o dia, os moradores da Ocupação Dandara fazem uma limpeza no local, que, segundo Carla, vinha sendo usado como um ponto de tráfico de drogas e prostituição - assim como parte do Nascedouro de Olinda, que fica ao lado.
“As famílias estão levantando seus barracos e amanhã vamos fazer a pintura, porque tem muitas paredes queimadas. Estamos organizando, dando vida para melhorar o espaço, enquanto infelizmente não há uma solução habitacional para essas pessoas”, contou.
A catadora de reciclagem Geristácia Santana, 27, é um exemplo disso. “A situação apertou e tivemos que voltar para ocupar, porque temos filho para criar e não temos como pagar aluguel. Vivi em casa de família de favor e nem dinheiro para comer eu tenho”, afirmou.
A ocupação é, também, um ato simbólico contra o fim da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 828, do Supremo Tribunal Federal (STF), que impedia, até 31 de outubro de 2022, as ordens de remoção e despejos de áreas coletivas habitadas antes da pandemia.
“São 18 milhões de famílias que se encontram em risco de despejos por falta de uma política nacional de moradia popular”, afirmou o movimento.
Em Pernambuco, estima-se um déficit habitacional acima de 326 mil unidades, segundo levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) junto à Ecconit Consultoria Econômica.
Só no Recife, seriam necessárias mais de 70 mil habitações para suprir o déficit, segundo o Plano Local de Habitação de Interesse Social (PHLIS) de 2018.