A Concatedral de São Pedro dos Clérigos, uma das principais representações da arquitetônica religiosa barroca em Pernambuco, voltará a movimentar o Centro do Recife na próxima semana.
Situada no Pátio de São Pedro, no bairro de São José, a Igreja será reaberta ao público na quinta-feira, 9 de fevereiro, após três anos em obras, que vinham sendo realizadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Antes disso, na quarta-feira (8), o arcebispo metropolitano dom Fernando Saburido celebrará uma missa exclusiva para as autoridades religiosas e políticas do Estado, às 10h.
Entre os convidados para a cerimônia, estão o prefeito do Recife, João Campos (PSB), a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB) e o novo presidente do Iphan, Leandro Grass.
"A partir de quarta, voltamos às atividades, e a Igreja ficará aberta para celebrações. Estamos programando que ela fique aberta pela manhã e tarde, todos os dias", disse o padre Augusto César, reitor responsável pela concatedral.
Desde o dia 18 de janeiro, uma equipe de cerca de 20 pessoas está empenhada em deixar o ambiente pronto para os fiéis. Na tarde desta quinta-feira (2), ninguém tinha descanso. Funcionários enceravam o piso, enquanto outros tiravam a poeira dos sinos.
A intenção do Iphan, que reconheceu o valor do imóvel em 1938, ano em que foi tombado, foi devolver à concatedral as características que tinha quando erguida, no século XVIII.
Agora, a talha voltou a ter detalhes dourados a partir de um revestimento em ouro - que apesar de não ter valor comercial, deu uma imponência ao seu interior.
“Achamos que o ouro era um símbolo de riqueza, mas, pesquisando, vimos que, na liturgia católica, é a representação da luz”, explicou a historiadora Anazuleide Ferreira.
Anazuleide é, também, coordenadora do setor de patrimônio da Irmandade de São Pedro dos Clérigos no Recife, vinculada à Arquidiocese, que também fez ajustes na Igreja, além do órgão do governo federal.
“Estamos nas finalizações. Fizemos a limpeza, cuidamos do patrimônio. Também restauramos as janelas e a parte elétrica”, contou o engenheiro Hugo Santana, também da Irmandade.
Junto com a catedral de Olinda (dedicada ao Santíssimo Salvador), a concatedral de São Pedro dos Clérigos tem a "cátedra", uma cadeira somente usada pelo bispo responsável pela Arquidiocese.
A reportagem questionou ao Iphan quanto foi gasto na reforma, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.
O órgão já havia feito, entre 2012 e 2016, uma grande revitalização no prédio, quando restaurou as cobertas, paredes, esquadrias, cantaria, instalações elétrica e hidráulica, piso e pinturas.
Onde antes havia apenas uma horta e seis casas, a Igreja, idealizada pelo mestre-pedreiro Manuel Ferreira Jácome, é uma imponente e vertical construção que contrasta com as 63 edificações, entre casas térreas e sobrados, presentes no Pátio de São Pedro - um conjunto considerado um monumento nacional.
Ela possui uma nave octogonal com pequenos pedestais onde se assentam imagens, duas torres e uma pequena cúpula. A fachada tem um gradil de ferro que separa o átrio do pátio, com uma porta principal ladeada por duplas colunas.
O interior é exuberante, repleto de pinturas feitas pelo pernambucano João de Deus Sepúlveda. O forro, por outro lado, foi elaborado por seu ajudante, Manuel de Jesus Pinto. Há, também, obras delicadas de entalhamento e arabescos.
A capela-mor da catedral contém um teto em madeira, ricamente esculpido, onde é possível apreciar, sob a forma de medalhões, as armas de São Pedro, as imagens dos 12 apóstolos e dos 4 evangelistas, três balcões ou tribunas (de cada lado), e 36 cadeiras esculpidas em jacarandá.
Quem habita o bairro de São José, que possui um intenso comércio popular e é palco frequente de manifestações culturais da cidade, está animado para que toda a beleza dessa estrutura sagrada tenha suas portas reabertas e movimente ainda mais a região.
“O Pátio de São Pedro é um polo multicultural e gastronômico, que tem disponível belas casas e institutos, como o Memorial Luiz Gonzaga. A reabertura vai ser mais um agregador de valor; mais pessoas vão conhecer, através dela, esse espaço importante para a cultura, disse o segurança José Luiz Santos, 44, que trabalha em um restaurante na frente.