Prefeitura promete parte dos habitacionais do Pilar até dezembro. Prédios restantes seguem sem previsão
Projeto inicial previa 588 unidades habitacionais, das quais, até agora, foram entregues 192. Outras 256 devem ser inauguradas neste ano, segundo a Prefeitura do Recife
A Prefeitura do Recife promete entregar até dezembro deste ano mais 256 apartamentos do Habitacional do Pilar, localizado em uma Zona Especial de Interesse Social (Zeis) que é o último respiro de moradia no Bairro do Recife, no Centro. Além desses, contudo, o projeto inicial previa mais 160 unidades que, após um distrato no contrato em 2020, seguem sem previsão para sair do papel.
Inicialmente, seriam construídas, ao todo, 588 unidades habitacionais. Dessas, até agora, foram entregues apenas 192. As quadras 45 e 60 sequer começaram a ser erguidas. Enquanto isso, famílias que integram o déficit habitacional de 70 mil unidades da capital pernambucana seguem vivendo, há décadas, em barracas improvisadas no coração da cidade.
"Algumas pessoas estão no auxilio moradia e outros não. Uns estão em barraco de madeira, outros de alvenaria. A URB diz que só pode tirá-los quando fizerem o serviço todo, porque podem invadir de novo", relatou o líder comunitário Josafá José do Nascimento.
Problemáticas urbanas, contudo, também atingem quem já recebeu as chaves da casa. Hoje, os prédios apresentam rachaduras e infiltrações, necessitando de reparos. "A gente está lutando para fazer a requalificação de todo o habitacional. Vai entrar na licitação. O mais problemático é que nao colocaram mantas em cima, deu muita infiltração nos prédios", disse o líder.
PRÉDIOS EM CONSTRUÇÃO
Os dois habitacionais a serem entregues até dezembro estão sendo construídos nas quadras 46 e 55, nas proximidades das ruas Bernardo Vieira de Melo, Ocidente e São Jorge. Ao todo, estão sendo investidos R$ 33,2 milhões pela gestão municipal, com trabalho sob a responsabilidade da Autarquia de Urbanização do Recife (URB) e inseridos no Recentro, programa de requalificação da área central da cidade.
Na quadra 46, o conjunto terá quatro blocos com 32 unidades cada, totalizando 128 apartamentos (essa quadra está com as obras em andamento). Já na quadra 55, a construção será dividida em dois blocos de 32 unidades, um de 24 e outro com 40, num total de mais 128 moradias (essa quadra já está com as obras contratadas e deve iniciar a construção quando for concluído o serviço no achado arqueológico).
Ambos os habitacionais terão área construída em torno de 6,1 mil m². O projeto prevê quatro tipos de apartamentos, variando entre 39,42 m² e 41,75 m² de área, com 2 quartos, sala de estar, cozinha, área de serviço e banheiro social. O lazer e a convivência dos moradores estão garantidos na praça já existente na Avenida Alfredo Lisboa.
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"É importante ressaltar que as 128 unidades habitacionais que estão em construção são bancadas com recursos da Prefeitura do Recife e que no entorno temos vários serviços, como creche, escola, upinha e uma praça feita pela PCR. Tudo isso garante uma moradia digna e uma infraestrutura adequada para quem já mora aqui há muito tempo”, disse o prefeito João Campos (PSB) em visita às obras na última semana.
ACHADO ARQUEOLÓGICO
A expectativa de Campos era entregá-lo em 2023; contudo, em 2022, o maior achado arqueológico urbano do Brasil foi encontrado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) no canteiro de obras do Pilar. Foram contabilizados cerca de 40 mil fragmentos, vestígios do Forte de São Jorge sob a Igreja do Pilar, obras do século XVI, como a ocupação de casas e armazéns, e vestígios de um cemitério.
Por isso, como manda a lei, especialistas precisaram ir ao local estudar o material, que foi tratado e retirado. Só após a liberação o trabalho pôde ser retomado. “Agora, a obra já está a todo vapor e em breve será entregue", ressaltou o prefeito.
Além da habitação, o local também ganhou uma creche-escola, uma escola de tempo integral, uma Upinha e uma praça. O mercado que estava previsto no projeto, contudo, segue esquecido. “Os novos habitacionais se somam a esse amplo conjunto de intervenções para proporcionar mais qualidade de vida aos moradores da ZEIS”, afirmou o presidente da URB, Luís Henrique Lira.
A RESISTÊNCIA DO PILAR
A área, que antes já foi chamada de Fora de Portas e Favela do Rato, ganhou em 1999 o nome de Comunidade do Pilar, em razão da Igreja de Nossa Senhora do Pilar, que ainda está situada em seus limites, mas continua a par de todo o luxo e beleza do Recife Antigo, como os antigos nomes sugerem.
O Pilar começou a ser habitado por famílias em vulnerabilidade social nos anos 80, quando houve uma tentativa de retomada da ocupação no perímetro central da cidade. Escondida, a comunidade é cercada pelos edifícios majestosos da Avenida Alfredo Lisboa, tombados nacionalmente.
Em 2001, um projeto de revitalização do Pilar foi prometido e começou a ser elaborado, no mandato do então prefeito do Recife João Paulo (PT). A obra passou anos sendo discutida, mas foi anulada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por não cumprir exigências de preservação patrimonial. Em 2009, o atual projeto foi aprovado.
A reportagem do JC questionou à Prefeitura do Recife e ao Ministério das Cidades se há previsão para construção das demais quadras, mas não obteve resposta até o momento. O espaço segue aberto.