Começam as escavações arqueológicas no Mercado de São José, no Recife

Achados paralisaram serviços em parte do equipamento, que agora só poderá ser escavado com presença de arqueólogos; mercado deve ser entregue em 2026

Publicado em 06/11/2024 às 11:02

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) autorizou, no final do mês de outubro, o início das escavações arqueológicas na obra de requalificação do Mercado de São José, um dos mais importantes marcos históricos, no Centro do Recife.

A decisão foi tomada após a identificação de ossadas humanas durante as escavações para a instalação de um mezanino no mercado, que está passando por uma obra de revitalização, com investimento de R$ 20 milhões do Novo PAC Patrimônio Cultural.

A medida visa assegurar que o trabalho siga todas as diretrizes éticas e legais para resguardar os achados, considerados vestígios sensíveis.

Escavações arqueológicas no Mercado de São José

JAILTON JR./JC IMAGEM
Mercado de São José, no centro do Recife - JAILTON JR./JC IMAGEM

Localizado em um dos núcleos históricos do Recife, o Mercado de São José possui uma rica memória que remonta às primeiras ocupações urbanas da cidade.

Embora as escavações estejam em fase inicial, há uma grande expectativa de que o sítio arqueológico possa revelar não só sepultamentos humanos, mas também artefatos de diferentes épocas e culturas.

Esses vestígios poderão fornecer informações importantes sobre os modos de vida das populações que habitaram a região, contribuindo para o entendimento da formação social e cultural da área.

“Assim que as descobertas foram comunicadas, a equipe técnica do Iphan realizou fiscalizações e solicitou, emergencialmente, o isolamento do local. É importante ressaltar que a obra só foi paralisada em áreas onde eram necessárias escavações. As intervenções continuaram nos demais pontos, como na fachada e no corredor central”, explicou a técnica do Iphan-PE, Mônica Nogueira.

O trabalho de escavação no Mercado de São José está sob responsabilidade de uma equipe habilitada em bioarqueologia, contratada pela Prefeitura do Recife, executora da obra, e tem previsão de duração de nove meses, incluindo a fase de análise laboratorial. 

Obras do obras do Novo PAC em Pernambuco

Em entrevista ao JC, Gilberto Sobral, superintendente do Iphan-PE, destacou as obras do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e os maiores desafios com a preservação do patrimônio no estado.

O programa destinou R$ 20 milhões para reforma do Mercado de São José.

"Algumas já estão acontecendo e outras em fase de contratação ou elaboração de projetos. São ações importantíssimas e obras previstas em Fernando de Noronha, Recife, Igarassu e Olinda. Isso demanda muita expertise da equipe técnica que vai acompanhar tudo. Estamos em articulação diária com parceiros que têm algum bem e intervenção em área tombada", explicou.

E, de acordo com superintendente, as obras contempladas são:

No PAC Seleções, que trata de projetos: os restauros das Ruínas da Misericórdia, em Igarassu, da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres do Monte dos Guararapes, em Jaboatão, do Conjunto dos Chalés do Carmo, em Olinda, do Memorial Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão e do Teatro de Santa Isabel, no Recife, e do Convento de Santo Antônio, em Sirinhaém.

No PAC Obras, ou Novo PAC: a conservação e revitalização dos Fortes de Santo Antônio e de São Pedro do Boldró, em Fernando de Noronha, a restauração da Igreja Matriz de Santo Antônio, do entorno do Conjunto do Carmo e da Igreja de São José do Ribamar e a requalificação do Mercado de São José, no Recife, a restauração da Igreja de São Pedro Marques, do Mosteiro de São Bento do Largo e do Adro da Igreja de Nossa Senhora do Monte e do Cine Duarte Coelho, em Olinda.

Reforma no Mercado São José

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Comerciantes de artesanato do Mercado de São José passam a trabalhar em local provisório - JAILTON JR./JC IMAGEM

O Mercado de São José é um equipamento tombado a nível federal, desde 1973, pela sua importância cultural, histórica e arquitetônica. Edifício é o mais antigo pré-fabricado em ferro no Brasil.

Sua requalificação já era um pedido constante de comerciantes e frequentadores. Em 2022, o JC denunciou a queda frequente dos vitrais e telas, a falta do uso de itens de higiene pelos comerciantes, a pouca manutenção, além de corredores sem sinalizações e sem limpeza.

A primeira etapa das obras de reforma e restauro do mercado começou no início de 2024, afetando o setor de artesanato do equipamento, que precisou funcionar em um anexo provisório.

Atritos e mezanino 

Conforma a obra foi se desenrolando, houve desgastes entre Prefeitura e comerciantes, principalmente sobre a realocação dos permissionários e a construção do mezanino.

O Iphan diz ter aprovado a instalação do mezanino como "alternativa para incluir todos os permissionários, sem que nenhum perdesse seu posto de trabalho".

Com a instalação do mezanino, foram encontradas ossadas humanas e isso exigiu a paralisação da obra até que os estudos arqueológicos sejam finalizados.

Os serviços estão sendo realizadas pela Autarquia de Urbanização do Recife (URB), e vão contemplar e reorganizar todos os 403 boxes existentes.

Além disso, as obras incluem a reforma dos banheiros, restauração dos elementos de ferro, vidro e madeira.

O mercado está previsto para ser entregue à população no primeiro semestre de 2026.

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