A ascensão do ministro que se baseou em fatos científicos

O ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM) se tornou uma voz de equilíbrio durante uma das maiores crises do País, a pandemia do coronavírus
Angela Fernanda Belfort
Publicado em 05/04/2020 às 13:50
Luiz Henrique Mandetta é ex-ministro da Saúde Foto: ISAC NÓBREGA/PR


Mesmo se definindo como “político”, é a atuação técnica que fez o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), fazer a diferença como uma voz de bom senso, levando em consideração a ciência e o equilíbrio numa das maiores crises que o Brasil enfrenta, a pandemia do novo coronavírus. Natural do Mato Grosso do Sul, ele é médico ortopedista e ocupou dois mandatos na Câmara dos Deputados (2011-2019).

Uma das características da personalidade do ministro da Saúde é a ponderação e o equilíbrio, segundo pelo menos três deputados e um ex-parlamentar escutados pela reportagem do JC. A ponderação fez a diferença num cenário em que o atual presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), chegou a dizer que o novo coronavírus era “uma gripezinha“ e defendeu um isolamento vertical por temer que um isolamento social mais abrangente trouxesse mais dificuldades à dura recuperação econômica do País, combalido por uma recessão recente.

Com a voz calma e baseado em dados científicos, as argumentações do ministro começaram a ser escutadas nas coletivas diárias concedidas em Brasília em virtude das operações de contenção da covid-19. Outras autoridades do País, como governadores e prefeitos, implantaram o distanciamento social com a finalidade de conter a rápida transmissão do coronavírus, adiando um eventual colapso do sistema de saúde do País.

O ministro manteve as suas afirmações defendendo o isolamento social e não se posicionou, quando questionado, diretamente, sobre as críticas do seu chefe, o presidente Bolsonaro. “Ele tem uma responsabilidade gigante com o Brasil, de ser o timoneiro dessa crise relacionada à saúde pública. Tem muito conhecimento na área. Era um deputado qualificado”, resume o ex-ministro da Educação e ex-governador de Pernambuco, Mendonça Filho (DEM).

Como parlamentar, Luiz Henrique Mandetta ajudou na implantação da lei do autismo e de vários projetos relacionados à saúde, como o tratamento de doenças, e também em questões sociais. Chegou a apoiar algumas greves e os pedidos de aumento salarial dos servidores do setor. Como grande parte da classe médica, ele foi contra o Mais Médicos, programa no qual o governo federal sob a presidência de Dilma Rousseff (PT) contratou médicos cubanos. A gestão do PT, com Lula e depois Dilma, sempre foram criticadas pelo agora ministro.

Mandetta se identifica com as pautas de costumes conservadores. Mas, como médico, foi a favor, no Congresso Nacional, de facilitar a importação de medicamentos à base de maconha.

FORMAÇÃO

Mandetta fez pós-graduação em ortopedia no Brasil e nos Estados Unidos. “É extremamente preparado. Conhece filosofia, política, história do Brasil e administração. Foi provedor da Santa Casa de Campo Grande, além de secretário municipal de Saúde (em Campo Grande)”, diz o ex-deputado federal José Carlos Aleluia (DEM), ex-presidente da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). Aleluia conheceu o atual ministro quando ambos eram deputados.

Até hoje, o atual ministro disputou duas eleições, em 2010 e 2014, ambas para deputado federal. Em 2014, obteve 57,3 mil votos, ocupando a posição do terceiro menos votado entre os representantes do Mato Grosso do Sul que conseguiram se eleger à Câmara dos Deputados.

Na eleição de 2018, o nome de Mandetta foi colocado como pré-candidato ao governo do Estado. Mas ele retirou o nome porque considerou a aliança regional firmada com o PSDB “mal calibrada”. Nesse grupo, havia alguns puxadores de voto, o que dificultaria a reeleição dele como deputado federal.

Segundo José Carlos Aleluia, “ele não queria ser deputado a vida toda. Tinha inclusive recurso partidário para a sua reeleição em 2018, mas começou a falar em trabalhar numa organização internacional”, diz Aleluia.

ATUAÇÃO

Atualmente, além de ministro da Saúde, Mandetta é presidente do Stop TB Partnership, uma instituição internacional que deseja erradicar a tuberculose no mundo. “Ainda quando estava na Câmara, Mandetta me disse que não se via mais como deputado. Queria ser candidato a governador ou senador. Caso isso não se viabilizasse, não seria mais candidato à Camara Federal”, afirma o deputado federal pernambucano Augusto Coutinho (Solidariedade).

Eles foram colegas de partido, quando Augusto Coutinho integrava o DEM. “Ele é um político previsível, se posiciona e tem argumentos.”

FUTURO

O líder do DEM na Câmara dos Deputados, o paraibano Efraim Filho, se manifestou, na semana passada, por intermédio de uma nota dizendo que, “com suas explicações técnicas, embasadas na ciência, (Mandetta) conquistou o respeito e a confiança das famílias brasileiras. Mandetta tem o apoio total, absoluto e irrestrito do Democratas. O caminho que ele apontar será também o nosso”.

O ministro já tem a intenção de deixar o cargo quando passar a pandemia, segundo alguns políticos. “Ele se projetou, ganhou notoriedade. É difícil prever qual será o próximo passo”, argumenta Mendonça Filho.

A pesquisa do Instituto Datafolha divulgada na última sexta-feira (3) mostrou que, com relação ao enfrentamento da pandemia, Luiz Henrique Mandetta tem 76% de aprovação; os governadores, 56%; enquanto o presidente Jair Bolsonaro está com 36%. Perguntado sobre a popularidades, Mandetta disse que se trata de algo “efêmero”. E que não descarta, em um futuro próximo, estar levando a “culpa” de eventuais erros.

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