A secretária especial de Cultura, Regina Duarte, foi surpreendida com a renomeação do maestro Dante Henrique Mantovani para a presidência da Fundação Nacional de Artes (Funarte), exonerado por ela há dois meses, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo. A volta de Mantovani ao cargo foi entendida internamente no governo como uma sinalização de que o prazo da atriz na pasta está prestes a vencer. Regina está em Brasília e há a expectativa de que ela se encontre com o presidente Jair Bolsonaro ainda nesta terça-feira (5).
A primeira nomeação de Mantovani havia sido no dia 4 de novembro do ano passado. Seguidor do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, Mantovani já disse em vídeo que o "rock ativa as drogas, que ativam o sexo livre, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo".
Em conversa com sua assessora de imprensa nesta manhã, Regina relatou a surpresa com a nova nomeação de Mantovani e disse achar que o presidente quer demiti-la. O áudio foi gravado pela revista eletrônica Crusoé. "Que loucura isso, que loucura Eu acho que ele está me dispensando", diz trecho da conversa captada pela publicação.
Na Secretaria de Cultura, o processo de "fritura" de Regina é tema recorrente entre os integrantes da pasta. A atriz de 72 anos tem ficado em sua residência em São Paulo durante a pandemia do coronavírus. Por integrar o grupo de risco, ele tem participado de reuniões por videoconferência. A ausência física, no entanto, intensificou os reveses que tem sofrido com o grupo ideológico do governo, avançando sobre as nomeações na Cultura.
Ao mesmo tempo, a secretária, que aceitou o cargo após ser cortejada pelo presidente e integrantes do governo, acabou ficando isolada. Regina teve a escolha para o cargo defendida pelo ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, como um nome para apaziguar os ânimos e recuperar a imagem do governo após a demissão em janeiro do ator Roberto Alvim, então secretário de Cultura que gravou um vídeo com referências ao nazismo.
Há alguns dias, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que "infelizmente a Regina está trabalhando pela internet" e que esperava que ela estivesse mais próxima. "Eu gosto de conversar pessoalmente com as pessoas. A gente espera que restabeleça a normalidade rapidamente no Brasil para poder funcionar."
Antes da volta de Mantovani ao cargo, Regina viu, no dia 23 de abril, a nomeação de Aquiles Brayner para o cargo de diretor do Departamento de Livro, Literatura e Bibliotecas ser cancelada após blogueiros bolsonaristas o acusarem de ser "traidor" e "esquerdista infiltrado". Brayner tem doutorado em Literatura e se graduou em Psicologia e Biblioteconomia. Antes, Brayner era nomeado no gabinete da Presidência e cuidava do acervo pessoal de Bolsonaro.
Cinco dias após Regina tomar posse na Secretária de Cultura em 4 de março , o Palácio do Planalto cancelou a nomeação de Maria do Carmo Brant de Carvalho da Secretaria de Diversidade Cultural. Filiada ao PSDB desde o fim dos anos 80, Maria do Carmo também e tornou alvo de olavistas que espelharam na internet que ela era "petista".
Ao tomar posse no dia 4 de março, Regina disse ao presidente Jair Bolsonaro que não se esqueceria de que tinha recebido a promessa de "carta-branca" no cargo. Em seguida, ao responder-lhe, Bolsonaro afirmou que exerceria o poder de veto, como já fez em todos os ministérios.
Os ataques à atriz se pontencializaram após ela conceder uma entrevista ao "Fantástico", da Rede Globo, e dizer que existe uma "facção" no governo que deseja retirá-la do cargo.