Daqui a uma semana, no dia 15 de novembro de 2020, quase 150 milhões de brasileiros irão às urnas em 5.569 municípios para escolher novos prefeitos e vereadores. No Recife, 1,1 milhão de eleitores têm à disposição 11 candidatos a prefeito e 901 candidatos a vereador para decidir quem os representará no Executivo e no Legislativo da cidade pelos próximos quatro anos. Esses postulantes, impedidos pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE) de realizar aglomerações, vão usar todos os artifícios que estão à sua disposição para conquistar cada um desses votos nesses sete dias que lhes restam.
Segundo pesquisa Datafolha publicada na última quinta-feira (5), o candidato do PSB à sucessão do prefeito Geraldo Julio (PSB), João Campos, é o preferido dos recifenses até o momento, com 31% das citações. A deputada federal Marília Arraes (PT), por sua vez, surgiu no estudo com 21% das menções, enquanto Mendonça Filho (DEM) tem 16%, e a Delegada Patrícia (Pode) 14% das intenções de voto. Os demais postulantes não excederam 2% das citações.
Nesse contexto, na próxima terça-feira (10), a partir das 10h50, a TV Jornal transmitirá o primeiro - e único - debate na televisão antes do primeiro turno na capital pernambucana. Um evento do tipo foi reivindicado várias vezes por parte dos candidatos, que vêem nele um espaço para não somente apresentar suas ideias de governo para a audiência da emissora, mas também para confrontar os seus adversários e demonstrar que têm mais traquejo político do que eles.
>> Bolsonaro quer volta do voto impresso no Brasil nas eleições de 2022
>> Eleições: a partir deste sábado, candidatos só podem ser presos em flagrante
Mas será que um debate teria o poder de promover uma mudança significativa da percepção do eleitorado acerca dos candidatos? Para a cientista política Priscila Lapa, da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), a resposta para essa pergunta é: depende. De acordo com a docente, em uma campanha atípica como esta, que está ocorrendo em meio a uma pandemia, qualquer momento de exposição pública dos postulantes cumpre um papel importante na decisão do eleitor.
“Segundo os principais institutos de pesquisa nós ainda temos cerca de 12% de indecisos no Recife, e esse percentual pode perfeitamente desequilibrar a disputa. Por exemplo, se parte desses 12% se deslocar para um dos candidatos que está tecnicamente empatado no segundo lugar, ele acaba se viabilizando para ir para o segundo turno. Por outro lado, de houver uma migração maciça desses indecisos para a campanha de João Campos, ele pode se tornar um potencial vencedor no primeiro turno. Por isso, nessa última semana, tanto o debate quanto os guias eleitorais devem ser decisivos”, explicou Priscila.
Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o cientista político Ernani Carvalho pondera que candidatos que estão à frente em pesquisas de opinião podem enxergar debates como uma espécie de “armadilha”, pois naturalmente eles são os alvos preferidos dos adversários. O docente completa dizendo que, nesta reta final de campanha, o evento à frente das câmeras deve ser amplamente explorado por todos os postulantes.
“Quem está na frente pode ver nos debates uma armadilha. O próprio João Campos deve sofrer uma artilharia pesada, porque a maioria dos candidatos vai criticar o prefeito que o está apoiando e ele tem um posicionamento de defesa dos feitos do gestor. Isso pode ter uma repercussão de mudança de voto de um candidato para outro ou significar a consolidação do voto. Ou seja, quando o eleitor vê o seu candidato defendendo as ideias que considera corretas, eles podem firmar o voto ali”, argumentou Ernani.
PESQUISAS
As pesquisas que serão divulgadas nesta semana, como a quarta e quinta rodadas do levantamento realizado pelo Ibope a pedido do Jornal do Commercio e da Rede Globo nestas segunda-feira (9) e sábado (14), por exemplo, também devem influenciar as estratégias dos candidatos, dizem os analistas políticos, pois é isso o que vem ocorrendo ao longo de toda a campanha. “Observando o caso de Marília Arraes, nós percebemos que ela começou a crescer nas pesquisas fora da margem de erro quando assumiu a sua posição no PT, quando trouxe (o ex-presidente) Lula (PT) para o programa eleitoral. E certamente ela não faz isso apenas a partir da sua cabeça, a candidata está baseada em pesquisas, onde o eleitor dela disse que estava sentindo falta desse posicionamento”, detalhou Priscila Lapa, explicando ainda que nesta reta final o João Campos deve manter-se longe de polêmicas para administrar a vantagem que acumulou nas últimas semanas.
Ernani Carvalho chama atenção, também, para as características da disputa na centro-direita nessa fase da campanha. Segundo o analista, com base nos resultados da última pesquisa Datafolha, que mostrou que a Delegada Patrícia detém, hoje, a maior rejeição entre os candidatos da cidade, é possível que Mendonça Filho seja beneficiado pelo fenômeno do voto útil.
“No campo da centro-direita, essa semana promete ser bastante acirrada e pode haver uma migração dos votos, o que chamamos de voto útil. Ou seja, o eleitor que estiver interessado em uma briga de cunho mais ideológico com relação ao posicionamento do PSB, pode tender a mudar seu voto. E quem vai ser o beneficiado disso? Quem tiver melhores condições de vencer a situação no segundo turno. Levando em consideração a pesquisa Datafolha, eu acho que Mendonça sairia ganhando, até porque os ataques feitos à Delegada Patrícia surtiram efeito, ela começa a perder fôlego e a sua rejeição disparou”, detalhou Ernani. O professor referiu-se às menções feitas nas redes sociais e no guia eleitoral a publicações da policial no Facebook com frases depreciativas com relação ao Recife e que foram amplamente exploradas por seus adversários.
Comentários