O presidente da República, Jair Bolsonaro, reconheceu riscos de não conseguir o registro para o partido Aliança Pelo Brasil a tempo das eleições de 2022, mas afirmou que, caso esse projeto não se concretize, deverá se filiar a um novo partido em março de 2021.
"Pessoal da direita aí, vai ter partido de direita para 2022", disse Jair Bolsonaro, em entrevista publicada no canal de um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), no YouTube.
"Está difícil, burocratizou-se muito a questão da formação de partido; Se eu tivesse feito lá atrás um partido, alguns anos atrás, sem problema nenhum. Agora decisão minha: março, se o Aliança não estiver formado em março, é possível formar sim, mas se não estiver formado, já estou namorando aí alguns partidos, vou fechar com um, para esse pessoal poder se preparar para 2022", explicou o presidente.
Como mostrou o Estado em reportagem publicada em novembro, lançado para ser o partido de Jair Bolsonaro há pouco mais de um ano, o Aliança pelo Brasil ainda é uma incógnita e ninguém arrisca dizer se, de fato, o projeto sairá do papel para abrigar a candidatura à reeleição do presidente, em 2022. O próprio Bolsonaro já admite a possibilidade de se filiar a outra sigla em março de 2021.
Até novembro, o Aliança conseguiu apenas 10% das assinaturas necessárias para impulsionar o projeto de Bolsonaro. O presidente deixou o PSL, legenda pela qual se elegeu, há um ano, após muitas disputas pelo controle da máquina partidária e de seus recursos.
Nesta semana, o presidente já havia dito que definirá "mais ou menos" em março seu novo partido e candidatura à reeleição. Ele disse que tem conversado com algumas legendas, entre elas o Progressistas e o PTB.
Projetando 2022, seja com o Aliança pelo Brasil, seja com um novo partido, Bolsonaro disse esperar fazer 10 das 27 vagas para o Senado que estarão na disputa, e entre 70 a 80 deputados federais, dos 513 da Câmara dos Deputados. "Aí é um partido que vai começar a orgulhar o povo brasileiro com suas ações", disse ele, falando que os interessados deverão passar por uma seleção.
Os comentários vieram instantes após Bolsonaro dizer que não era momento de 2022. "Se eu estivesse pensando em eleição em 2022, teria sido ativo nas eleições municipais e não fui", disse. Segundo o presidente, ele não fez mais do que "quatro lives de um total de três horas", citando "alguns nomes de prefeito e vereador pelo Brasil". "Uns foram eleitos, reeleitos, outros não. A imprensa falou que eu perdi: eu pergunto à imprensa quantos prefeitos eu tinha? Zero. Agora quem perdeu foi a esquerda que perdeu barbaramente o número de prefeituras do país", disse.
Guedes - O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não demonstrou a ele se em algum momento esteve prestes a sair do governo, mas afirmou que o ministro fica "de vez em quando irritado" quando medidas que dependem do Parlamento não vão para frente.
"Não demonstrou para mim não (se alguma vez esteve prestes a sair do governo). Lógico que de vez em quando a gente vê que ele fica irritado porque certas medidas dependem de votações, eu sei como funciona o Parlamento e ele está aprendendo ainda. Então ele quer resolver e fica chateado", disse Bolsonaro em entrevista ao canal de vídeos do filho 03 e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Sobre uma eventual saída do governo, o presidente afirmou que Guedes deve desembarcar do cargo somente quando seu mandato presidencial acabar. "Então ele quer resolver e fica chateado, agora no tocante a sair, ele falou que vai sair comigo quando acabar meu mandato", disse.
Voto impresso - O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a implantação do sistema do voto impresso para o pleito de 2022 e afirmou que após as eleições das mesas no Congresso vai haver uma tentativa de aprovar a proposta de emenda à Constituição que prevê esse formato de votação. Envolvido com a escolha dos próximos presidentes da Câmara e do Senado, que serão eleitos em 2021, o presidente lembrou que a colocação do assunto em pauta estará "de acordo" com a composição das mesas. O planalto apoia o nome do líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL) para suceder Rodrigo Maia (DEM-RJ).
"Acabando as eleições da mesa - de acordo com sua composição, pessoas sempre apontam para o presidente, tem que votar em deputado que realmente de conta -, nós temos como aprovar essa PEC", disse Bolsonaro em entrevista gravada ao canal de vídeos do filho 03 e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Bolsonaro afirmou que não "dá pra aceitar mais a desconfiança no voto eletrônico no Brasil". "Agora, esse sistema eletrônico, eu não confio nele. E eu acredito que 70% ou mais da população também não acredita", disse." E acrescentou: "A gente vai naquela máxima velha. Quem ganha a eleição não é quem vota, é quem conta o voto", disse o presidente eleito no pleito de 2018.
A prática de Bolsonaro de questionar a confiabilidade do sistema eleitoral é recorrente. Sem provas, o presidente já afirmou em diversas ocasiões que houve fraude na eleição de 2018, quando disputou o segundo turno com o petista Fernando Haddad e saiu vitorioso. Em viagem aos Estados Unidos, ele chegou a dizer que tinha provas de que tinha vencido no primeiro turno. Ele, no entanto, jamais apresentou a comprovação.
O Supremo Tribunal Federal (STF), por sua vez, já decidiu que é inconstitucional a adoção do voto impresso, ao concluir que a medida viola o sigilo e a liberdade do voto. O sistema foi barrado em 2018, atendendo a um pedido feito pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge. A decisão da Corte foi confirmada neste ano pelo plenário, em julgamento virtual concluído em setembro.
Como mostrou reportagem, a impressão dos votos nas eleições brasileiras teriam um custo de R$ 2,5 bilhões aos cofres públicos ao longo de dez anos, segundo estimativas feitas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mencionando tamnbém a decisão do STF, Bolsonaro minimizou o que seria gasto para implantar o sistema.
"Como diz que a democracia não tem preço, se vamos gastar mais R$ 1 bilhão ou R$ 2 bilhões para botar a impressora do lado, vamos fazer isso aí. E aprovando via PEC, vamos botar em prática", disse.
B>Armas - Em mais uma defesa pela liberação geral de armas, o presidente Jair Bolsonaro disse que o acesso ao armamento ainda é limitado no Brasil e que fará de tudo para ampliar as autorizações para que a população se arme.
"O comércio de armas no Brasil ainda está restrito. Essas armas de maior potência que o pessoal tem vêm de fora, vem de há muito. Agora... os caras querem sempre relacionar o armamento com o número de violência", disse o presidente, durante entrevista que concedeu ao próprio filho.
Todos os estudos já realizados mostram que o aumento da violência e das mortes por armas de fogo estão diretamente atrelados ao acesso às armas.
Bolsonaro lembrou que boa parte das mudanças possíveis sobre o assunto precisam passar pelo Congresso Nacional, mas declarou que não medirá esforços para que haja maior liberação. "No que depender de mim... depende do parlamento, muita coisa... a arma vai ser bastante democratizada no Brasil."
Eduardo Bolsonaro perguntou ao pai sobre o que policiais, atiradores, caçadores e colecionadores podem esperar sobre o assunto para o próximo ano. "No que depender de mim, o máximo de liberação", respondeu o pai.
O presidente repetiu a frase que ficou conhecida após o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril vir a público. Na ocasião, Bolsonaro afirmou que queria a população armada para "impedir uma ditadura no País", e exigiu que o ministro da Defesa, Fernando de Azevedo e Silva, e o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, tomassem providências. "Eu quero todo mundo armado! Que o povo armado jamais será escravizado."
Nesta semana, Bolsonaro reclamou da recente decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, que suspendeu a alíquota zero para importação de revólveres e pistolas. Em evento em Porto Seguro (BA), o presidente afirmou que o STF não poderia revogar a isenção por não "gostar de arma".
A flexibilização de regras que facilitem a posse e o porte de armas no País é uma das bandeiras de campanha do presidente Jair Bolsonaro. Em junho, o Estadão mostrou que lobistas e empresários de armas e munições têm presença assídua nos gabinetes do governo de Bolsonaro - de janeiro a abril deste ano foram ao menos 73 audiências e reuniões com representantes do setor.
Torturador Ustra - O presidente Jair Bolsonaro voltou a exaltar a figura do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, primeiro militar condenado por sequestro e tortura durante a ditadura, e afirmou que presos políticos do regime militar eram "tratados com toda a dignidade". "(O livro A Verdade Sufocada, de Ustra) narra fatos, como os presos - não era preso político não - terroristas eram tratados no DOI-CODI de São Paulo, tratados com toda a dignidade, inclusive as presas grávidas", afirmou.
"Uma história realmente verdadeira, para quem não quer ser manipulado pela esquerda, não é aquela 'historinha' que a esquerda conta cheia de blá-blá-blá, sempre se vitimizando, lutando por democracia, etc, etc, etc", disse Bolsonaro em entrevista gravada.
Ustra esteve à frente do DOI-Codi no período em que foram registradas ao menos 45 mortes e desaparecimentos forçados no local, de acordo com relatório elaborado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). Ele morreu em 2015, aos 83 anos, sem cumprir pena. Presenteado pelo filho com 19º edição do livro de Brilhante Ustra, Bolsonaro também voltou a celebrar o golpe militar de 1964, segundo quem o episódio "livrou" o Brasil do comunismo, e chamou o momento de história com 'H'.
"É um livro que não tem como ser contestado, são fatos, tal dia, tal hora, o primeiro marido da Dilma (Rousseff, ex-presidente) sequestrou avião em voo, e foi para Cuba. Tem os fatos aqui, recortes de jornal, noticiava o fato em si. Não tem como fugir disso aqui, como nós nos livramos do comunismo naquele momento, não tem que se envergonhar disso, é história com H, não é historinha contada pela esquerda, deveria ser leitura obrigatória, pessoas que queiram saber da verdade, o que foi aquele período pré-64 e um pouquinho depois do 64 também", afirmou Bolsonaro.
Ao longo de sua vida pública, Bolsonaro já fez diversas declarações elogiosas a Ustra. A mais famosa ocorreu quando o atual presidente era deputado federal, em 2016, ao votar pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff - considerada uma das vítimas do DOI-Codi.
Sobre o episódio, o presidente comentou que resolveu naquele momento "resgatar a honra e a memória de um grande brasileiro". "Ali o dono de um instituto de pesquisa muito grande falou que não me elegeria nem vereador mais no Brasil, e acabou acontecendo o contrário", disse.