Manifestações contra Bolsonaro seguem em todo o País

Os atos criticam a condução federal na pandemia, pedem a retomada do auxílio emergencial de R$ 600 e a vacinação em massa da população, além de defenderem o impeachment do presidente
Estadão Conteúdo
Publicado em 29/05/2021 às 16:58
OLHAR DO OUTRO Manifestantes correram para se proteger. Alguns pegaram material que está sendo utilizado na reforma da Rua da Aurora Foto: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM


Movimentos sociais, centrais sindicais e partidos de oposição estão nas ruas neste sábado, 29, em manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro e a gestão federal. Os atos criticam a condução federal na pandemia, pedem a retomada do auxílio emergencial de R$ 600 e a vacinação em massa da população, além de defenderem o impeachment do presidente.
No Recife, a manifestação com centenas de pessoas terminou com forte repressão da Polícia Militar de Pernambuco, que disparou com balas de borracha e usou spray de pimenta e bombas de efeito moral em manifestantes. Há registros de feridos, mas ainda não foram contabilizados. A ação da PM foi realizada já no final do ato político, entre a avenida Conde da Boa Vista, no bairro da Boa Vista, e a ponte Duarte Coelho, no centro da cidade, por volta do meio-dia.
Os manifestantes afirmam que a PM atacou de forma inesperada e sem nenhum motivo aparente. "A gente não estava fazendo nada. Não estava acontecendo nada. A gente só estava atravessando a ponte, em fila, batendo palma, algo muito tranquilo, e eles (a PM) responderam dessa forma, do nada", relatou a professora Eva Marinho. Ela participava do ato desde o início, às 10h, e não ficou ferida. A PM chegou a usar spray de pimenta contra a vereadora do PT Liana Cirne, também de forma inesperada, e dentro de uma viatura, enquanto ela conversava com agentes.
Na saída da concentração do ato, a polícia, que acompanhou todo o protesto, impediu a saída de carros de som, que eram utilizados pelas lideranças da manifestação para fazer falas políticas e recomendações de segurança da pandemia, como manter a distância de pelo menos um metro entre as pessoas durante o ato. Desde a última segunda-feira, 24, Pernambuco está sob um novo decreto estadual com medidas de restrição para atividades sociais e econômicas. Especialmente neste final de semana e no seguinte está permitido apenas o funcionamento de serviços essenciais, mas as pessoas não estão proibidas de circular na cidade.
Na última sexta-feira, 28, a 34ª Promotora de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital (PJDCC), Helena Capela, com atribuição na Promoção e Defesa da Saúde do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), emitiu um documento recomendando a "não realização de eventos que possam ocasionar aglomeração neste final de semana (...) a exemplo do ato agendado para a data de 29 de maio na Praça do Derby".
A recomendação utilizou o decreto assinado pelo governador Paulo Câmara (PSB) como base. O documento reforça que "o Código Penal brasileiro, nos artigos 267 e 268, tipifica como crime casos em que cidadãos ou organizações apoiem a disseminação de uma epidemia ou mesmo a infração à determinação do poder público que venha impedir a disseminação de doença contagiosa".
A vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos (PCdoB), em vídeo publicado em rede social, afirmou que a ação da PM não foi autorizada pelo governo do Estado. "Nós estamos ao lado da democracia. Os atos de violência, que repudiamos desde já, estão sendo apurados e terão consequências". diz a publicação, que termina com a hashtag #ForaBolsonaro.
O governador Paulo Câmara repudiou a violência policial durante ato. Câmara também disse, em vídeo publicado nas redes sociais, que determinou a imediata apuração de responsabilidade.
"A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social já instaurou procedimento para investigar os fatos. O oficial comandante da operação, além dos envolvidos na agressão à vereadora Liana Cirne, permanecerão afastados de suas funções enquanto durar a investigação."

Belo Horizonte

Em Belo Horizonte, uma multidão se reuniu na praça da Liberdade, região centro-sul, e saiu em direção ao centro da capital, ora cantando a música que marcou a luta contra a ditadura, "Para não dizer que não falei das flores", de Geraldo Vandré, ora gritando "Fora Bolsonaro". Das janelas dos prédios, houve panelaço.
O protesto foi organizado por cerca de 80 entidades, entre elas a Associação Brasileira de Médicos pela Democracia, que distribuiu máscaras e álcool em gel para as pessoas. Os manifestantes portavam cartazes com os dizeres "Genocida", "Vacina no braço, comida no prato" e "Eu apoio a CPI", entre outros.
Houve um princípio de tumulto quando um motorista, irritado com a manifestação, tentou passar pelas pessoas e chegou a entrar com o carro em uma ciclovia, quase atingindo um ciclista, na avenida Augusto de Lima. "Veio um Sandero prata na contramão e avançou sobre os manifestantes, virou a rua Rio de Janeiro para fugir, quase derrubou um ciclista, desceu do carro fingindo ter algo na mão. Nós nos afastamos com medo e ele se foi", disse a servidora da UFMG Clarissa Vieira, ainda ofegante. O professor Danilo Marques, que estava junto, acionou a polícia, mas o homem já tinha ido embora. Ao chegar à praça da Estação, por volta das 13h30, o protesto se dispersou.

Salvador

O ato #29MForaBolsonaro também reuniu centenas no centro de Salvador. Além do impeachment contra o presidente Bolsonaro, os manifestantes cobraram, sob gritos de "vacina, trabalho e pão", a responsabilização pela negligência do governo federal frente à pandemia.
A militância de esquerda, incluindo lideranças de movimentos sindicais e estudantis, se reuniu no Largo do Campo Grande, centro da capital baiana, por volta das 10h, e seguiram até a Praça Castro Alves. Houve alerta para o distanciamento a ser mantido e, em alguns pontos, chegaram a distribuir máscaras do tipo PFF2 na tentativa de garantir de segurança durante a caminhada, que ocorre de maneira pacífica e é acompanhada pela Polícia Militar.

Interior de São Paulo

Algumas das principais cidades do interior de São Paulo também registraram atos contra o governo. Na maioria das manifestações, houve uso de máscara e cuidados para evitar aglomerações. Até o início da tarde não tinham sido registrados incidentes.
Em Campinas, os manifestantes se reuniram no Largo do Rosário, tradicional ponto de concentrações políticas, no centro da cidade. O ato tinha representantes de centrais sindicais, como a CUT, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), além de movimentos sociais, como o Movimento dos Sem-Terra (MST).
O grupo saiu em marcha pelas ruas centrais, deixando o trânsito tumultuado, e retornou para a praça. Durante a passeata, os manifestantes gritavam em coro bordões, como "fora Bolsonaro" e "genocida". Em alguns pontos houve aglomeração. A Polícia Militar acompanhou o ato, mas não calculou o número de participantes. A Guarda Civil Municipal estimou em 1,5 mil pessoas, mas os organizadores falaram em 3 mil.
Em Sorocaba, os manifestantes se reuniram na Praça Fernando Prestes, a principal da cidade, e caminharam pelas ruas do centro, levando faixas e bandeiras. Com todos usando máscara, o grupo pedia vacina para todos, o fim dos cortes na educação e a saída do presidente Bolsonaro. Houve participação de partidos políticos e coletivos de esquerda.
Em Bauru, a concentração aconteceu em frente à Câmara Municipal. Além de "Fora Bolsonaro", os manifestantes pediam "emprego, vacina no braço e comida no prato". Muitos protestavam também contra o aumento na tarifa de ônibus na cidade. Integrantes da comissão de saúde formada pelos organizadores fiscalizavam o uso de máscara. Para evitar aglomeração, o grupo estendeu duas faixas largas para manter o distanciamento entre os manifestantes.
Em Marília, os manifestantes se reuniram na "ilha" da Avenida Nove de Julho, com faixas e cartazes. O mote principal foi vacina para todos e auxílio emergencial digno. Houve protestos também em Araçatuba, na Praça Rui Barbosa - a mesma em que Bolsonaro fez comício durante a campanha eleitoral. Em São Carlos, o protesto aconteceu na região do Mercadão, no centro, e reuniu 300 pessoas, segundo a Polícia Militar. Os manifestantes arrecadaram alimentos para famílias carentes.
Em Piracicaba, os organizadores fizeram marcas na Praça José Bonifácio, no centro, para evitar aglomeração. Os manifestantes fizeram uma "roda de ciranda" no local, gritando palavras de ordem contra o governo Bolsonaro. O sindicato dos servidores municipais e a União Estadual de Estudantes (UEE) estiveram à frente da manifestação.

Outras capitais

Em São Paulo, a manifestação está marcada para acontecer a partir das 16h. A concentração será em frente ao Masp, na Avenida Paulista.
Pelas redes sociais, as entidades organizadoras dos atos compartilham registros dos atos e fazem transmissões ao vivo das passeatas. Segundo publicação da Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), foram distribuídas máscaras PFF2 para os manifestantes do ato em Belém.
Também pelas redes sociais, entidades organizadoras registraram manifestações em Teresina, Porto Velho, João Pessoa e Aracaju.

Redes sociais

Políticos da oposição também registraram seus apoios aos atos pelo País. Guilherme Boulos (PSOL), que disputou a Prefeitura de São Paulo nas eleições de 2020, compartilhou vídeo que mostra outros países que organizaram manifestações políticas em meio à pandemia.
O senador Humberto Costa (PT-PE), membro da CPI da Covid, compartilhou vídeo da manifestação em Recife e defendeu a mobilização digital. "Estou recebendo fotos e vídeos do ato do Recife. Todos usando máscara e formando filas para respeitar o distanciamento. Esse é o melhor caminho. Nas redes sociais, sua militância também é muito importante!", escreveu ele.
O empresário Marcelo de Carvalho, sócio-fundador da RedeTV, afirmou que os protestos contra Bolsonaro estão vazios ao contrário das manifestações a favor do presidente. "Comparem com as manifestações pró e me respondam: "QUEM ACREDITA NO DATAFOLHA ???"", diz a publicação.
 

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