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'Namorando' por aliança em 2022, Lula e Alckmin já protagonizaram festival de ataques mútuos; relembre

Ex-adversários podem formar chapa para disputa a Presidência da República no próximo ano

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 21/12/2021 às 12:24
MAURÍCIO LIMA/AFP
Lula e Geraldo Alckmin, em 2006 - FOTO: MAURÍCIO LIMA/AFP
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (sem partido) se encontraram na noite do último domingo (19) na capital paulista em um jantar promovido pelo grupo Prerrogativas, formado por advogados progressistas e antilavajatistas. Essa foi a primeira aparição pública de Lula e Alckmin juntos desde que o ex-tucano começou a ser cogitado para o posto de vice do petista.

Os dois, porém, nunca foram próximos, tendo encontros apenas protocolares por causa dos cargos que ocupavam. Diferente das juras de amor do “Jantar pela Democracia”, como foi batizado o evento que sinalizou a aliança entre eles, Lula e Alckmin reúnem um longo histórico de ataques entre si.

O auge da artilharia da ‘briga’ entre eles se deu na campanha de 2006, quando se enfrentaram na disputa pelo Palácio do Planalto. Naquela ocasião, as campanhas na TV e rádio, além dos debates foram marcados por duros ataques mútuos.

‘Dossiê dos aloprados’

REPRODUÇÃO TWITTER/RICARDO STUCKERT
Lula e Alckmin 2021 jantar - REPRODUÇÃO TWITTER/RICARDO STUCKERT

Um dos episódios mais explorados pelo então tucano foi o chamado “dossiê dos aloprados”, um documento com acusações falsas usado contra José Serra na campanha de 2002 e que teria sido produzido por petistas. “De onde veio o dinheiro sujo, R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo, para comprar um dossiê fajuto?”.

“Faz 30 dias que ele quer saber de onde veio o dinheiro”, replicou Lula. “A Polícia Federal é muito competente, ela não faz pirotecnia, ela investiga”. Nesse momento, o candidato do PT aproveitou para ser mais duro, sinalizando que seu adversário teria saudade do tempo da ditadura. “Uma investigação séria é demorada. Afastamos todas as pessoas envolvidas, cabe à PF fazer as investigações”, disse Lula.

Alckmin também afirmou que o petista sabia dos escândalos de corrupção descobertos durante seu governo, a exemplo do Mensalão. “Como é que pode não saber o que se passou na sala ao lado?”, perguntou para Lula em um dos debates.

Lula rebateu e citou a participação de Barjas Negri, ex-ministro da Saúde que sucedeu José Serra (PSDB) no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), no escândalo dos sanguessugas e da máfia dos vampiros. Negri também foi secretário de Habitação do então governador Alckmin. “O candidato sabia ou não sabia das transações obscuras do Barjas Negri?”. Alckmin respondeu que os escândalos não diziam respeito ao seu governo. “Não tem uma prova”, afirmou.

Origem do PCC

O tucano também associou o PT à facção criminosa PCC, surgida durante os governos do PSDB em São Paulo. Lula citou o trabalho da Polícia Federal em sua gestão e a comparou com o que considerava a péssima atuação da polícia paulista. “A perfeição da polícia de São Paulo resultou no PCC”.

“Estamos lutando para derrotar o crime organizado e vamos ganhar essa guerra. Não podemos deixar que certas situações, como a de São Paulo, permaneçam como estão”, acrescentou Lula, ao encerrar um programa de rádio a cinco dias do primeiro turno em 2006.

Lula também criticou bastante os tucanos pelas privatizações ocorridas no governo FHC. O debate sobre o tema ganhou tração popular, o que obrigou Alckmin a protagonizar a inusitada cena de fazer campanha usando um colete contra as privatizações. “Fico triste de ver o presidente do meu país mentir no rádio, dizendo que vou privatizar a Petrobras, a Caixa Econômica Federal, os Correios”, disse o tucano à época.

“Todo o mundo sabe que foram PSDB e PFL que privatizaram o país. Não precisa esconder isso de ninguém. Quando não tiver mais o que vender, vai vender a Amazônia?”, retrucou Lula. “Ficar bravo não faz teu gênero, Alckmin. Eu te conheço e não faz teu gênero”, completou.

Maurício Lima/AFP
Lula e Alckmin - Maurício Lima/AFP

2018 e ataques renovados

Em 2018, Alckmin voltou a disputar a Presidência e, embora tenha mirado mais em Jair Bolsonaro, também bateu forte no PT e em Lula. “Eu tenho falado que o número é 13 [código eleitoral do PT]. Treze milhões de desempregados”, afirmou, sem citar diretamente Lula, em encontro com empresários.

Ele também atacou o fato de o PT ter iniciado a campanha com o nome de Lula como presidente e Fernando Haddad como vice, mesmo com o ex-presidente preso em Curitiba pela Lava Jato. “O que estamos vendo na televisão pelo PT é uma enganação vergonhosa. Tão escondendo o candidato que efetivamente vai ser candidato. Por que não fala a verdade? Buscando vitimizar aquele que foi condenado e escondendo aquele que efetivamente vai disputar a eleição”, afirmou

Alckmin também atacou várias vezes o “o populismo de esquerda do PT” e “o populismo de direita de Bolsonaro” e afirmou que o primeiro levou ao segundo. “O PT, como sempre trabalhou para criar o ‘nós contra eles’, acabou criando radicais do outro lado”, disse durante um ato de campanha no Acre.

Para atacar o PT na campanha, Alckmin levou à TV inclusive a delação de Antonio Palocci, que o então juiz Sergio Moro havia tornado pública às vésperas da eleição e que sempre foi desprezada pela Justiça por não conter informações que pudessem ser utilizadas em ações criminais.

“A delação de Palocci mostrou que Lula sabia da corrupção na Petrobras desde 2007. O PT gastou R$ 1,4 bilhão para eleger e reeleger Dilma. A maior parte era dinheiro da corrupção. Propina para a campanha de Dilma foi acertada por Lula em reunião. Um país feliz de novo, só se for para os corruptos. Se o PT voltar, a corrupção vai continuar”, dizia a campanha do tucano na TV.

Adversários usam histórico

O histórico de agressões já é explorado pelos adversários. No domingo (19), o senador Flávio Bolsonaro, a exemplo do irmão, resgatou um vídeo no qual Geraldo Alckmin critica Lula. No vídeo, publicado em 2017, Alckmin faz ataques ao histórico de Lula.

O discurso de Alckmin foi gravado em convenção nacional do PSDB, ocasião em que foi oficializado como presidente do partido. Em sua fala, ele afirmou que Lula “quer voltar à cena do crime” ao tentar retornar ao poder. “Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder. Ou seja, meus amigos, ele quer voltar à cena do crime”, disse.

Na legenda do post deste domingo, Flávio escreveu: “Alckmin 2018: ‘Lula é corrupto! Quebrou o Brasil’. Alckmin 2022: ‘Tô zuuuanndoooooo!’. O vice dos sonhos de qualquer presidente!”.

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