Enquanto o PSB de Pernambuco aguarda o governador Paulo Câmara definir quem será o representante do partido na disputa pela sucessão estadual, lideranças oposicionistas das mais variadas siglas rodam o Estado há meses apontando o que consideram falhas das gestões socialistas e apresentando à população os seus potenciais candidatos no pleito. Curiosamente, quase todas as críticas vêm de políticos que ou já foram filiados ao partido do governador ou o apoiaram em algum momento das suas trajetórias públicas, mas por motivos diversos decidiram partir para o outro lado da trincheira.
Para falarmos mais sobre isso, porém, precisamos relembrar o contexto em que o PSB retornou ao poder no Estado, em 2006, oito anos após o ex-governador Miguel Arraes deixar o Palácio do Campo das Princesas pela terceira vez. Naquela ocasião, Eduardo Campos, com apenas 41 anos, foi eleito governador em uma coligação com PP, PDT, PSC e PL. João Lyra, hoje no PSDB, também era filiado ao PSB e tornou-se vice-governador.
Essa base relativamente enxuta, no entanto, não durou muito. Líder carismático e habilidoso articulador político, Eduardo rapidamente iniciou um processo de expansão da Frente Popular, conquistando a adesão até mesmo de duros opositores do PSB, como a do senador Jarbas Vasconcelos (MDB) e a do Democratas, partido liderado localmente pelo ex-governador Mendonça Filho. Em 2014, ano em que o socialista se lançou candidato à presidência da República, a coligação já tinha 21 agremiações.
“O que Eduardo fez foi basicamente esvaziar o espaço da oposição. Isso desarticulou completamente as forças contrárias ao projeto do PSB no Estado, pois praticamente todas estavam atreladas à coalizão da Frente Popular. Qual era o objetivo disso? Além de neutralizar antagonistas, ele conseguiu aumentar de maneira significativa o poder que tinha no Estado e a influência que poderia ter sobre os partidos e sobre as bancadas em algum aspecto no nível nacional. Ele foi muito vitorioso nisso”, explicou o cientista político Vanuccio Pimentel, da Asces/Unita.
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A imagem de Eduardo como um verdadeiro rolo compressor contra seus oponentes, contudo, não é unanimidade. Para seus aliados, o ex-governador construiu uma ampla base de apoio porque era um bom gestor e seus oponentes inclusive se beneficiaram ao se aproximar dele. “O que Eduardo fez foi construir a maior unidade de partidos já vista em Pernambuco, talvez no Brasil. Ele fez um governo excelente, era um político de rara habilidade, um gestor de excepcionais qualidades e não usou isso para aniquilar a oposição, muito pelo contrário, em determinado momento ele até estendeu a mão para que os oposicionistas pudessem ingressar nesse projeto. E eles não só ingressaram como alguns deles até ressuscitaram politicamente por conta disso”, disparou o deputado estadual Waldemar Borges (PSB).
Após a morte do ex-governador em um acidente de avião em 2014, durante a campanha presidencial, as primeiras defecções começaram a ocorrer tanto no PSB quanto na coligação. Ao longo dos anos que se seguiram deixaram as hostes socialistas e partiram para a oposição a hoje deputada federal Marília Arraes (PT); João Lyra e a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB), sua filha; além do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) e seus dois filhos, Miguel Coelho (DEM), prefeito de Petrolina, e Fernando Filho (DEM), deputado federal.
Entre partidos aliados, mais perdas. Deixaram a Frente Popular legendas como PSDB, DEM, PSC e PL, por exemplo, e lideranças como o deputado estadual Alberto Feitosa (PSC) saíram de siglas que se mantêm na coligação e partiram para legendas oposicionistas. No caso de Feitosa, ele chegou a ser vice-líder do governo Eduardo na Assembleia Legislativa (Alepe) e hoje é vice-líder da oposição.
“É muito difícil manter uma frente política com a amplitude que tinha a que foi liderada por Eduardo Campos, talvez isso não se repita nunca mais. Aquele foi um período muito especial da história do Estado e uma reacomodação das forças é parte natural do processo. Há, ainda, o fato de que nós mergulhamos na maior crise econômica que o País já viu a partir de 2015, o Estado praticamente só pagava pessoal e fornecedores, estava quase sem capacidade de investimento, e os projetos político-eleitorais não cabem todos em uma mesma frente. Esses fatores, inclusive, atingiram Jarbas em 2002, quando a frente ampla que ele liderava também se dissolveu”, observou o deputado federal Raul Henry, presidente estadual do MDB.
Para o cientista político Alex Ribeiro, apesar de menos robusta, a Frente Popular atualmente passa por uma reestruturação e o distanciamento dela de partidos de direita e centro-direita que antes estavam ao seu lado pode vir até a beneficiá-la. “A coligação liderada pelo PSB age estrategicamente em cada cenário político. É uma coligação aberta ao diálogo com várias legendas e a nova aproximação com o PT é fruto do favoritismo do ex-presidente Lula e do desgaste do bolsonarismo e de partidos de direita. Por conta disso, a saída de legendas do colegiado, como o DEM e o PSDB, e o ingresso do PT é uma movimentação natural”, pontuou.
ELEIÇÕES 2022
Diante desse quadro, não é surpresa que os principais pré-candidatos a governador apresentados pela oposição até o momento para o pleito de 2022 - Raquel, Miguel e o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL) - tenham, no passado, sido aliados do PSB. Essa passagem pela Frente Popular, inclusive, pode ser considerada a principal falha do grupo de oposição do Estado nos últimos anos.
“O grande erro da oposição em Pernambuco foi ter se deixado cooptar pelo governo Eduardo e não ter construído um caminho próprio. À medida em que, hoje, o grupo busca construir um espaço, todo mundo saiu da base do governo. Raquel era do PSB, Miguel e FBC também, todo mundo estava lá e acabou não construindo uma trajetória sua ao longo desses governos do PSB”, declarou Vanuccio Pimentel.
Na visão de Alex Ribeiro, apesar disso alguns fatores, como a situação econômica do Estado, podem favorecer uma candidatura oposicionista na eleição em detrimento do nome posto pelo PSB no pleito. “A mudança de poder pode ocorrer em Pernambuco devido à ideia de renovação que o cenário político pode trazer nas eleições deste ano. E cito outros dois desafios para o PSB: a crise econômica e o combate à covid-19. Mesmo que alguns destes vieses sejam atrelados ao governo federal, parte do eleitorado vai culpar o gestor local”, disse o cientista político.
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