Nem mesmo os políticos estão imunes ao imediatismo das redes sociais, seja para expressar um posicionamento importante ou anunciar ações direcionadas para sua base eleitoral. E uma vez publicado, muitas vezes não dá para prever a dimensão do alcance do que acabou de ser exposto na internet. Dois episódios recentes jogam luz a essa reflexão sobre que tipo de mensagem “a pressa” em postar pode transmitir, principalmente no momento de construção de chapas e alianças para a disputa estadual.
O governador Paulo Câmara (PSB), apontado como principal coordenador do seu processo sucessório dentro do partido, havia registrado em seu perfil oficial que recebeu no Palácio do Campo das Princesas, na última sexta-feira (11), o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, o prefeito do Recife João Campos e o deputado federal Danilo Cabral para tratar da conjuntura local e nacional.
A reunião por si só já trazia uma mensagem importante a respeito do indicativo do nome de Danilo Cabral para ser o candidato escolhido pelo partido, mesmo sem Paulo Câmara ter feito nenhuma confirmação oficial. Acontece, que o anúncio do martelo batido veio de Carlos Siqueira, em uma publicação que foi apagada no mesmo dia.
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Após repercussão no Blog do Magno, a postagem no perfil de Siqueira foi feita novamente, no domingo (13), com a mesma foto e a mesma legenda. “O PSB tem seu pré-candidato ao governo de Pernambuco, o deputado federal Danilo Cabral. Nesta sexta, no Palácio Campo das Princesas, em Recife, me reuni com o atual governador Paulo Câmara, o prefeito da capital, João Campos, e o companheiro Danilo Cabral. Vamos adiante!”, afirmou.
Apesar da mensagem do dirigente nacional, a assessoria de comunicação de Danilo Cabral, ao ser procurada pela reportagem, afirmou que ele não estaria “com agenda aberta para entrevistas”, porque o “anúncio oficial” ainda não tinha sido feito pelo governador do Estado.
“Causa muita estranheza esse imediatismo e, um certo amadorismo, de lidar com essa situação. Todo mundo sabe os impactos que uma foto tem nas redes sociais. Então, é preciso ter muito cuidado em situações como essas, que não são tão simples, mas é o lançamento de um nome que vai suceder o governador. Teria que ter tido uma preparação melhor quanto a essa divulgação”, avaliou o cientista político e professor da Asces-Unita Vanuccio Pimentel.
Já nesta terça-feira (15), aconteceu uma ação semelhante, mas a postagem não chegou a ser publicada novamente. Após ter se encontrado com o governador Paulo Câmara, que estava em Brasília para reforçar o palanque do candidato do PSB, e com o deputado federal Raul Henry (MDB), o presidente nacional do União Brasil (UB), deputado federal Luciano Bivar, também recebeu o pré-candidato ao governo pela oposição, o prefeito de Petrolina Miguel Coelho (UB).
No início da noite, a equipe do prefeito chegou a compartilhar o print de uma publicação no perfil do UB no Twitter que dizia que “o presidente do União Brasil, Luciano Bivar, reafirmou que é prioridade do partido ter o maior número de candidatos aos governos estaduais nas eleições de 2022, inclusive no estado de Pernambuco, onde o pré-candidato do partido é Miguel Coelho”, mas a postagem foi deletada das redes sociais.
“O caso de Miguel, é outro caso de uma certa ansiedade. Porque sabemos que todas as lideranças estão passando por problemas de imprevisibilidade pelo fato de que o surgimento da federação criou essa sombra sobre as candidaturas neste ano, visto que o prazo para que elas se consolidem é depois da janela partidária. Então, alguém pode definir estar em um partido agora e essa legenda ir para uma federação que ele não queria estar”, declarou Pimentel.
ESTRATÉGIA
O doutor em Ciência Política Elton Gomes explica que existe um fenômeno sócio político presente na contemporaneidade que se refere ao medo de perder a oportunidade, algo muito característico em meio a essa abundância de informações amplificadas pela hiperconectividade.
“Há um agravante extremamente concorrencial, de querer dar notícia primeiro, rebater o outro, afirmar sua posição, para obtenção e conservação do poder. Fundamentalmente acredito que boa parte destas pessoas reagem de maneira radical, de modo pouco refletido, e depois do que é postado, o sujeito vê que não tem lógica”, explicou Gomes.
Ainda segundo o especialista, os políticos dentro dessa hiper realidade assumem uma postura querer ser rápidos ao externar seus posicionamentos, se antecipar aos adversários e continuar eletrizando a sua militância, através dessa comunicação direcionada a uma bolha específica.
“Eles querem reforçar a narrativa de pacto fechado, em termos políticos, e cria a estratégia de que está quase tudo definido, ou no caso de Miguel, que já estava tudo definido. Mas os políticos não agem quase nunca sem ser desinteressadamente, eles muitas vezes fazem por estratégia”, afirmou Elton Gomes.
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